Chegada do frio muda rotinas

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Chegada do frio muda rotinas

A aproximação do inverno altera hábitos de grande parcela da sociedade, seja por um cardápio diferenciado ou pelos costumes adotados para escapar do frio. Reportagem aborda diferentes rotinas, como de estrangeiros e agricultores, e presta dicas de saúde.

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A madrugada dessa terça-feira foi a mais fria do ano. A menos de uma semana para o início do inverno, os termômetros chegaram aos 4ºC. Talvez seja no interior dos municípios a maior alteração na rotina das pessoas em virtude da temperatura. Mudam-se os hábitos alimentares, a interação entre a família e lida diária no campo. A família Marx, de Picada Santa Clara, em Santa Clara do Sul, retrata o cotidiano de grande parcela daqueles que vivem da agricultura.

Crédito: Anderson LopesOs pais Ivo e Eli, ambos com 68 anos, acordam às 5h para acender o fogão à lenha. Enquanto isso, os filhos Marcedo, 40, e Tânia, 33, preparam o chimarrão. Todos sentam-se em volta do fogão e, por meia hora, aproveitam para conversar e organizar o dia de trabalho na propriedade.

Em seguida, partem para o trato dos animais. O gado leiteiro recebe pasto picado, cortado no fim da tarde anterior e guardado sob o galpão. No verão ele é colhido pela manhã, em virtude do sol forte. “No inverno não podemos cortá-lo cedo, porque tudo está molhado”, observa Marcedo.

De acordo com o agricultor, toda a rotina muda nesta época, exceto pelo horário de acordar. Um dos diferenciais é o fogão à lenha. Enquanto no verão ele funciona apenas durante a manhã para o preparo do almoço, no inverno é o dia inteiro. Além de esquentar a casa e afastar a umidade, auxilia na secagem de roupas. É ao redor dele que toda a família volta a se reunir no fim do dia de trabalho. “É muito bom chegar ao entardecer e estar tudo aquecido.”

Semanas antes de o frio ganhar força, os agricultores cortam algumas árvores na propriedade para a preparação da lenha. Em blocos, a madeira é levada até o galpão, onde Marcedo a retalha em tamanhos específicos para o fogão. Outro hábito é o consumo de pinhões. Enquanto as araucárias plantadas no potreiro ainda não rendem frutos, as pinhas são compradas de vizinhos ou no centro da cidade. Em vez de cozinhar, as sementes são assadas na chapa do fogão.

Nosso inverno é o verão daqui”

Sair cedo da cama pode parecer árduo para quem nasceu na região. Difícil mesmo é para quem veio de um país caribenho, destaca o haitiano Abdias Geffrard, 29, morador de Lajeado e que acorda às 6h para trabalhar. “O nosso inverno é o verão daqui. Não sabia o quão podia ser frio no Brasil.”

O inverno no Haiti começa no fim de novembro e se encerra em março. No auge da estação, as mínimas variam entre 17ºC e 19°C. Mas tais marcas ocorrem apenas nas madrugadas e, segundo Geffrard, sequer são percebidas. Durante o dia, a máxima fica na casa dos 30ºC. “Não existe casaco na minha terra.”

Ele está em Lajeado desde fevereiro de 2013. O primeiro inverno quase afugentou o estrangeiro da região. Após dias seguidos de calor, foi surpreendido por uma queda brusca na temperatura. “Fui trabalhar de manga curta e quase não aguentei.”

Nos dias seguintes, amigos de serviço fizeram uma campanha para arrecadar agasalhos e doar a Geffrard e aos demais 23 haitianos da empresa. Apesar de agasalhados, os estrangeiros enfrentaram pela primeira vez gripes e doenças respiratórias decorrentes do frio, algo que não existe no Haiti. “Todos adoeceram. No meu caso, fiquei cinco dias de cama.”

No fim do ano passado a mulher Naëla, 30, e a filha Naylencia, hoje com um ano e meio, vieram de muda para a cidade. Os três passarão justos pela primeira vez um inverno. “Para quem viveu verão por 25 anos, não tem como se acostumar com o inverno daqui”, ressalta Geffrard.

Mudança de hábitos

A chegada do frio força algumas mudanças nos paladares. Para o neurocirurgião, Marcos Frank, apreciador de vinho nas horas vagas, a época exige bebidas mais encorpadas. “São vinhos com alto teor alcóolico e muitos deles são gastronômicos, ou seja melhoram com uma refeição mais calórica, então essa experiência é melhor no inverno.

O neurocirurgião costuma abastecer sua adega na padaria de Dornei Delazzeri, famosa em Lajeado pela grande variedade de vinhos disponíveis. São produtos nacionais, argentinos, chilenos, portugueses, italianos, uruguaios, espanhóis, gregos, norte-americanos, portugueses e até libaneses. Além de outras nacionalidades.

“Nossos produtos possuem valores que variam entre R$ 18 e R$ 798. Tem para todos os gostos e paladares”, avisa. Ele corrobora com a opinião de Frank sobre os vinhos mais encorpados. E acrescenta. “Com o inverno, as pessoas buscam harmonizar a bebida com pratos mais quentes.”

Abacaxi por pinhão

Dois comerciantes costumam utilizar um ponto próximo a esquina entre as ruas Bento Rosa e 17 de Dezembro, no bairro Hidráulica. Durante os meses de calor, frutas e verduras costumam gerar um bom lucro a dupla de ambulantes, que costuma valorizar alimentos produzidos na região do Vale. Agora, o carro-chefe é o pinhão.

O gerente do empreendimento, José Otávio Borba, comemora a chegada do frio. “Agora as vendas começaram a aumentar bastante.” Além da venda do pinhão por quilo – cujo preço médio fica em R$ 6,00 –, ele comercializa vinho colonial, lenha para lareira e pelego. “Antes era abacaxi, coco e melancia”, diverte-se.

Borba pretende aproveitar os próximos dois meses para fazer um bom caixa. O preço por 15 quilos de lenha custa R$ 15. Mas os clientes costumam pechinchar. Já o vinho colonial, a “especiaria” da casa, sai por R$ 12 o litro. “O pelego é o produto mais caro, e vendemos por até R$ 130. O pessoal usa até para enfeite”, comenta.

Locações aumentam

O frio costuma deixar as pessoas dentro de casa. Para gerentes de vídeo-locadoras, este é o melhor momento para investir em novos títulos. As locações costumam aumentar até 40% no meses de maio, junho, julho e agosto, mesmo com advento da pirataria e da disponibilidade de filmes pela internet.

Proprietário de uma locadora instalada no centro da cidade, Jorge Machado de Souza atua há mais de 13 anos no setor. Ele garante que o inverno é o principal momento para quem trabalha neste segmento. “É melhor do que as férias.”

De acordo com Souza, a média de locações cresce de forma acentuada. “Em média eu alugo em torno de dois mil filmes. Durante o inverno, o número chega a seis mil por mês.” Segundo ele, as médias são semelhantes em dias de chuva.

Dicas de alimentação

Especialista em nutrição clínica e doenças crônicas, a nutricionista Patrícia Vogel orienta sobre os cuidados com a alimentação, entre eles sobre a ingestão demasiada de calorias. Água, frutas e verduras não devem sair do cardápio.

Mudança no hábito alimentar. Geralmente as pessoas buscam alimentos que ajudam a afastar o frio. Aumenta a ingestão daqueles mais calóricos, já que a água, frutas e verduras muitas vezes são evitadas nesta época.

Cuidados com a mudança de hábito. Não pode-se deixar de lado o consumo de água, frutas e verduras. É interessante optar por frutas menores para não precisar acondicioná-las na geladeira. É importante consumir alimentos ricos em vitamina C, que auxiliam na prevenção de gripes e resfrtiados. Incluir no cardápio chás sem açúcar e caldos/sopas, pois ajudam a aquecer e auxiliam na manutenção do peso já que tem poucas calorias.

Não é preciso comer mais. O organismo necessita maior quantidade de energia para manter a temperatura corporal, mas não exige maior ingestão de alimentos. O inverno é propício para a perda de peso, desde que se mantenha a ingestão alimentar habitual.

Temperatura segue baixa

Hoje – Chance de chuva. Mínima de 6ºC e máxima de 17ºC.

Amanhã – Chuva. Mínima de 10ºC e máxima de 14ºC.

Sexta-feira – Sol entre nuvens. Mínima de 7ºC e máxima 14ºC.

Fim de semana – Sol entre nuvens. Mínima de 6ºC e máxima de 19ºC.

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