Famílias recusam moradias populares

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Famílias recusam moradias populares

Moradores de área de risco às margens de rodovia vivem em situação precária

oktober-2024

Lajeado – A invasão de áreas às margens da ERS-453 evidencia um problema social de difícil solução. Apesar da iniciativa do governo de Lajeado de construir os apartamentos populares, as famílias de coletores de materiais recicláveis não aceitam deixar o local nas condições oferecidas.

Anderson LopesO impasse continua e as casas improvisadas mostram a situação de vulnerabilidade dos moradores. Nos últimos anos, o número de moradias subiu de seis para nove. Não há água encanada e as instalações precárias da energia acentuam as dificuldades.

Paulo Luis Volk, 45, mora na localidade faz mais de quatro anos. Afirma que a área é ocupada por 15 pessoas da mesma família. Além dele, duas irmãs, uma sobrinha, um irmão e a mãe têm moradias de madeira no assentamento. Além de trabalhar na coleta, criam animais.

Segundo Volk, as três casas novas ficam afastadas do local onde vivem. “Só vemos alguma movimentação, mas eles não chegam aqui perto”, revela. Todos vivem de forma ilegal em ambos os lados da área de domínio do Daer, agora sob responsabilidade da EGR.

Por estarem em área de risco e em situação de vulnerabilidade social, famílias como a de Volk têm prioridade em programas do governo federal como o Pró-moradia e o Minha Casa Minha Vida. Porém a possibilidade de morar em apartamentos, sem acesso a pátio e tendo que dividir espaços comuns com outras famílias, desagrada.

“Nessas casas com mais de 20 pessoas morando uma em cima da outra não quero”, exclama Maria Alves dos Santos, 69 anos. Moradora da área há pelo menos oito anos, acredita que os programas não atendem as necessidades de famílias como a dela. “Temos dois carros velhos, galinhas, cachorro e um porco. Onde vamos colocar, como vamos separar nosso material?”

Como grande parte dos moradores não tem nenhum documento, a inscrição para habitações populares também é dificultada. Para o Minha Casa Minha Vida, é obrigatório apresentar carteira de identidade, CPF, comprovante de residência, certidão de casamento, título eleitoral, cartão SUS e comprovante escolar.

“Queremos um lugar melhor”

Apesar dos problemas para acessar os programas do governo, Maria sonha com um local onde possa viver e trabalhar sem riscos. “Um canto de terra mais afastado, com condições adequadas para separarmos o lixo e criar os bichos.”

Ela afirma que pessoas ligadas ao projeto Minuano, que colabora na organização de comunidades de coletores, visitaram a família com a proposta de realocá-los para uma chácara, com galpão para reciclagem. “Era uma boa ideia, mas eles não voltaram.”

Segundo ela, a família recebe regularmente atendimento de assistentes sociais e da equipe da secretaria de Saúde do município, mas segue na área de risco até que surja uma nova opção. “Somos trabalhadores, não vamos a bares ou bailes nem fazemos mal a ninguém. Só queremos ficar no nosso canto.”

A secretária de Trabalho, Habitação e Assistência Social (Sthas), Ana Reckziegel, afirma que algumas famílias do local estão inscritas no Minha Casa Minha Vida e concordaram em sair, mas lembra que o município não pode obrigá-las, pois a área é de responsabilidade do Daer.

“Nós interferimos o quanto pudemos, com a assistência e opções de moradia, mas não podemos fazer mais do que isso”, relata. Segundo ela, a família é pacífica e não permite que outras pessoas se alojem na área.

“Não lembro de nenhuma confusão ou registro de ocorrência contra eles”, reforça. Ana afirma que o município tentou incentiva-los a participar das cooperativas de catadores, sem sucesso. “São pessoas que querem liberdade de horários e compromissos.”

Prisão nas imediações

Ontem de manhã, agentes da Polícia Civil prenderam três jovens acusados de tráfico nas proximidades da área onde a família está instalada. Cerca de 20 agentes chegaram ao local por volta das 6h para cumprir mandatos de busca e apreensão.

Em uma casa de madeira, os policiais prenderam três homens com drogas, além de um revólver calibre .22 e uma balança de precisão.

Um dos presos tinha mandado de prisão por tentativa de homicídio. O crime teria ocorrido no dia 24 de maio, contra um homem de 27 anos. Ele levou um tiro e foi atendido no Hospital Bruno Born.

Os integrantes da família que vive no local dizem que as prisões ocorreram na área em que três casas foram erguidas recentemente. “Era uma turma estranha e tinha sempre movimento, mas não sei o que faziam”, disse uma moradora.

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