Empresas estudam investir no Nordeste

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Ajuste fiscal do governo estadual pode reduzir competitividade, alegam empresários

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A possibilidade de o governo estadual ampliar a tributação para amenizar a crise financeira preocupa a indústria. Entre as medidas em análise, a Secretaria da Fazenda pode cortar isenções fiscais para o terceiro setor e aumentar o ICMS. Em 2013, o Estado abriu mão de R$ 13,1 bilhões em benefício de empresas.

Crédito: Anderson LopesDiante dessa proposta, empresários pressionam o governo e alertam para o risco de a indústria gaúcha perder competitividade. Afirmam manter atividades na Região Sul, mas negociam expansão para outras regiões.

Com a garantia de uma logística mais eficiente, estados do Nordeste acenam com propostas para atrair investimentos. Vencem a “guerra fiscal” do país com a oferta de mão de obra barata, o repasse de estrutura física e a isenção de impostos.

Indústria calçadista fundada em Igrejinha, com filial em Teutônia, a Piccadilly estuda abrir uma unidade no Nordeste e, assim, ampliar a produção. Governos nordestinos já ofereceram incentivos.

De acordo com o filho do fundador e integrante do Conselho, Paulo Grings, empresas analisam investimentos em outros estados por questão de sobrevivência. “Não podemos descartar uma unidade no Nordeste, uma vez que somos procurados com frequência para colocarmos uma fábrica lá.”

O empresário se preocupa com a redução de incentivos fiscais, anunciada pelo governo. “Não existe mágica em negócios. Ou você é competitivo ou perde o mercado. Hoje o RS é o estado mais caro para a indústria. O futuro é preocupante.”

Outra indústria calçadista fundada em Igrejinha, a Beira Rio antecipou a migração. O grupo eliminou a produção de calçados nas unidades gaúchas de São Sebastião do Caí (em 2005), Portão (2008), Farroupilha (2008) e Parobé (2011), depois de instalar outras no Nordeste, em busca de incentivos fiscais.

Presidente da Cosuel, Gilberto Piccinini entende a necessidade de ajustes econômicos no estado, diante do histórico déficit. Como cooperativa, diz, a Cosuel se posicionou para enfrentar os momentos turbulentos sem abir mão do fator local, onde estão os associados.

No entanto, revela a possibilidade de se criar parcerias com outras regiões para ampliar a produção. “Quando o Estado perde competitividade, ou se abre mão do resultado, ou se procura outro território.”

Revisão de incentivos

No início do mês, o governador José Ivo Sartori apresentou o pacote de medidas para minimizar a crise nas finanças estaduais. São 14 ações, sendo dez na forma de projetos de lei, que dependem de aprovação dos deputados.

Entre as medidas, está a revisão dos incentivos fiscais. De 2016 a 2018, os benefícios concedidos serão limitados a 70% do valor atual. A previsão do governo é de arrecadar R$ 300 milhões por ano com o projeto.

Segundo o secretário-adjunto da Fazenda, Luiz Antônio Bins, será feita uma análise criteriosa para evitar os riscos de reduzir a competitividade. Na avaliação do economista Alfredo Meneghetti Neto, pesquisador da Fundação de Economia e Estatística (FEE), o governo acerta por revisar os créditos, pois muitas empresas não entregam o que prometem. “Isso precisa ser rediscutido.”

Queda na produção

O aumento da taxa de juros, a diminuição de procura por crédito e a queda do consumo impactam na produção. Segundo dados do Ministério do Trabalho e Emprego, a indústria metalúrgica registra um déficit de 19.748 postos de trabalho nos últimos 12 meses.

Cerca de dez mil funcionários da General Motors entram em férias coletivas a partir de segunda-feira, 15. Com os pátios lotados de veículos, a indústria não produzirá por duas semanas. A Gerdau negocia a suspensão de contratos de trabalho em Charqueadas.

Falta planejamento”

A migração de empresas gaúchas para outras regiões se caracteriza um plano financeiro básico, de acordo com o economista Leandro André Hoerlle. “Se aplica os recursos onde há maior rendimento.” A migração é natural, diz, como em uma operação bancária.

Para Hoerlle, só um planejamento a longo prazo permite melhorias no cenário econômico do RS. Apesar de causar retração temporária na produção, diz, o aumento de arrecadação é a única maneira de garantir fluxo de caixa para pagar o custeio da máquina pública e manter o plano de investimento. “Em determinados momentos pode haver uma perda, mas aí se mantém o rumo para retomar o crescimento mais tarde.”

O desafio de um planejamento, de acordo com o economista, é a transição dos governos. Para ele, não há garantias de que o plano iniciado por Sartori seja mantido nos próximos mandatos. “Querem acabar com a reeleição, mas ainda não se fala na transição dos governos e a manutenção de planos.”

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