Indígenas cobram mais inclusão cultural

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Indígenas cobram mais inclusão cultural

Alunos da tribo foxá reclamam de restrições em escola. Pedido foi para o MP

oktober-2024

Índios da tribo foxá protocolaram documento no Ministério Público (MP) pedindo mais inclusão cultural na Escola Estadual Manuel Bandeira. Os indígenas reclamam que as crianças da aldeia não têm o direito de falar a língua nativa, são discriminadas por colegas e têm problemas com o transporte.

Crédito: Anderson LopesO texto é resultado da reunião realizada na sexta-feira, 29, com representantes de todas as famílias da aldeia, localizada em frente à Arena Alviazul, no Jardim do Cedro. A ata ainda aponta intolerância com atrasos dos alunos do turno da manhã e cobra providências das autoridades.

De acordo com o cacique Gregório da Silva, a escola localizada no bairro Florestal recebe hoje 34 crianças indígenas de 5 a 15 anos nos turnos da manhã e tarde. “As crianças relatam casos de bullying e dizem que os professores não tomam nenhuma atitude.”

Meninos da tribo dizem que alguns professores não permitem que se comuniquem entre eles na língua caingangue, tanto na sala de aula quanto no recreio. “Acham que estamos falando palavrões.”

Conforme o cacique, os maiores problemas ocorrem com alunos do turno da manhã, que usam o transporte coletivo para ir à escola. Segundo ele, além de ter que caminhar quase um quilômetro entre a parada e o colégio, as crianças são impedidas de entrar na primeira aula quando chegam atrasadas.

Outras situações ocorreram com alunos do turno da tarde, que utilizam transporte escolar. “A empresa não trouxe eles de volta três vezes”, afirma. Em uma delas, os índios voltaram a pé. Nas outras duas, a tribo pagou a viagem para táxis. “Foi um perigo, porque alguns têm 5 anos e corriam risco de ser atropelados na faixa.”

Mais do que cobrar solução aos apontamentos, Silva quer que a comunidade escolar entenda as diferenças e saiba respeitar e incluir as crianças da aldeia. “O Brasil é livre para todas as culturas e descendências, mas nos sentimos discriminados.” Para tanto, o cacique deseja mais inserção da cultura indígena em sala de aula.

Estou surpresa”

A diretora da escola Rosângela Líbio discorda das reclamações. Segundo ela, não há diferença de tratamento entre os alunos. “Estou há mais de 15 anos na escola e nunca vi alguém ter ofendido os índios.”

Rosângela diz que as crianças da tribo não dão trabalho, são amorosas e sempre conversam com os professores e a direção. “Estou surpresa”, afirma.

A diretora garante que os alunos não falam a língua nativa por timidez.

Segundo ela, o dialeto é mais falado entre as crianças menores, mas não há nenhuma proibição. “Temos mais cuidado com eles porque vêm de uma cultura diferente e falam muito pouco o português, o que atrapalha o aprendizado.”

Conforme a diretora, as diferenças culturais são levadas em consideração nas avaliações. Ao invés de basear as aprovações apenas nas notas, também é analisado o crescimento na aprendizagem e o interesse nas aulas.

Para Rosângela, o relacionamento da escola com a tribo é bom, tanto é que os alunos são incentivados a mostrar a cultura na semana do índio. “Já tivemos palestra com o cacique, apresentação de danças e uma exposição de materiais que eles fazem.”

Regras iguais

A diretora confirma que os índios que estudam de manhã já foram barrados em uma ocasião, e afirma que a escola tem tolerância zero a atrasos. “Qualquer aluno que chegue na sala de aula depois das 7h30min fica impedido de assistir ao primeiro período, não podemos abrir exceções.”

Rosângela acredita que o grupo demora demais para vir da parada de ônibus até o colégio. “Tem vezes que caminham com passos de tartaruga, então decidimos por uma cobrança mais forte.”

Conforme a diretora, neste ano, ocorreram problemas de indisciplina em uma turma do 6o ano da qual os indígenas fazem parte. “Era muita bagunça, então chamamos os pais de todos os alunos, inclusive os da tribo”, reforça. Segundo Rosângela, as regras são iguais para todos no colégio.

Escola da Cultura

Além das aulas curriculares na Manuel Bandeira, as crianças da tribo foxá também têm disciplinas de cultura indígena e de língua caingangue na escola que fica na aldeia. Conforme o cacique Gregório da Silva, o local precisaria de melhor estrutura.

“Queremos mais apoio do poder público e da comunidade para continuar este trabalho”, frisa. Segundo ele, o local não tem banheiro e a tribo não tem acesso a material escolar.

A diretora da Manuel Bandeira afirma que a escola cedeu a biblioteca para as aulas de cultura da tribo, mas o projeto não teve prosseguimento.

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