Harmonia entre campo e cidade ordena crescimento

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Harmonia entre campo e cidade ordena crescimento

Teutônia se fortalece a partir do espírito cooperativista e pela diversificação produtiva

oktober-2024

Teutônia – Em meio ao trabalho na encosta do Morro Harmonia, o agricultor Hugo Heinrichs, 56, observa a expansão da cidade. “Aqueles loteamentos não existiam há cinco anos”, diz, ao indicar com as mãos diversos pontos na periferia. Heinrichs cresceu na propriedade rural e a herdou do pai.

Leonardo HeislerDo morro que se tornou um dos principais pontos turísticos de Teutônia, caminho para a Lagoa da Harmonia, o agricultor percebe a divisão da cidade em três polos: Centro Administrativo, Canabarro e Languiru. Nesses locais começaram os movimentos para a emancipação, culminada em 1981, após consenso de líderes das comunidades e tratativas do presidente Ernesto Geisel e de Elton Kepkler, o primeiro prefeito.

Neste domingo, Teutônia completa 34 anos. Os fatores que mais surpreendem Heinrichs nesse período foram as recorrentes construções de prédios no Languiru, onde o único filho trabalha, e a instalação das indústrias. “São as cooperativas”, diz, ciente de que essa forma de trabalho moldou o crescimento da cidade. Por mais de 30 anos, o produtor integrado ajudou a abastecer as indústrias de alimentos com suínos e leite.

A maior parte da população tem vínculo com as cooperativas Languiru, Certel e Sicredi. De acordo com a professora de História, Adria Schneider, Teutônia começou a se desenvolver a partir de 1920 com o surgimento das cooperativas. “O teutoniense aprendeu a trabalhar em cooperação. Suas características partem disso.”

O trabalho no campo associado às cooperativas e associações transformou o município na segunda maior economia do Vale do Taquari. Está à frente de Estrela, de quem se desmembrou. O setor primário ocupa a primeira posição no Vale do Taquari, em índices de valor adicionado fiscal, desde 2011: chegou a R$ 188 milhões no ano passado, um crescimento de 100% nos últimos cinco anos. São mais de 1,2 mil produtores rurais inscritos com o talão de produtor.

A importância da atividade no campo para o município saltou de 19,7% para 23,4%, nos últimos dois anos. A atividade só está atrás da indústria, com 47,1% da receita municipal. O comércio representa 18,2% e o setor de serviços, 11,3%.

Campo preservado

O desenvolvimento gerado pelo campo e pela indústria ganha equilíbrio pela nova delimitação da área urbana. Para o prefeito Renato Altmann (acima), o fim da expansão da construção civil ao interior preserva o espaço para a produção de alimentos, garantindo abastecimento às indústrias.

Com a mudança, de acordo com o prefeito, o governo reduz impactos da urbanização no setor primário. “Temos terrenos o suficiente na área urbana”, diz Altmann. Entende que favorecerá o crescimento sustentável e equilibrado, pois limitará a fragmentação do território em lotes.

Sobram vagas

Agências Sine no município e cidades vizinhas indicam a constante oferta de empregos em indústrias calçadistas e de alimentos. Sobram postos de trabalho nas principais empresas, segundo índice de retorno de ICMS: BR Foods; Calçados Beira-Rio; Calçados Piccadilly; Languiru; Certel Artefatos de Cimentos; Certel e Nutrifarma.

Na última década, mais de 1,3 mil empresas se consolidaram no município: passou de 543, em 2004, para as atuais 1.861. De acordo com dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), Teutônia tem 11,1 mil trabalhadores com carteira assinada, representando quase 12% de toda a região.

O acesso ao município e o escoamento da produção são garantidos por duas rodovias estaduais, a RS-128 (Via-Láctea) e RST-453 (Rota do Sol). Ligam Teutônia aos principais centros do estado.

Distrito industrial

O município prevê orçamento de R$ 100 milhões para 2018. Para isso, o desenvolvimento do novo Distrito Industrial é a aposta e o desafio do município para atrair empresas, diversificar a economia e aumentar a receita. O espaço fica no bairro Teutônia, às margens da RSC-453 (Rota do Sol), perto da Certel Artefatos.

No entanto, de acordo com o prefeito Altmann, uma ação judicial atrasa a implantação. Em meio ao desmembramento e a regularização dos lotes para dispor em leilão, segundo Altmann, o Executivo foi surpreendido com uma ação judicial, em dezembro de 2014. “Um antigo ocupante da área ingressou na Justiça e, com isso, paralisou as ações. O município aguarda os desdobramentos na esfera jurídica, que por ora não evoluíram.”

Para Altmann, o distrito é a melhor forma de ordenar o crescimento industrial. “Vamos estimular a implantação de novos segmentos para gerar mão de obra qualificada e receita para a economia local.”

Turismo e cultura

A aposta no turismo se intensificou faz 14 anos, com a criação da Rota Germânica. Nesse período, o roteiro atraiu investimentos, com a consolidação de uma rede hoteleira com 400 leitos. As visitas deixaram de ser restritas aos moradores da microrregião. Em 2014, cerca de 16 mil turistas visitaram a cidade.

Os cartões postais mais tracionais da cidade incluem a cultura germância, evidenciada pelo padrão enxaimel, característico da Alemanha. O Centro Administrativo e a Lagoa da Harmonia são os pontos mais visitados. Além dos diversos pontos turísticos, se consolidam os eventos: Encontro de Carros Antigos; Teutomoto e Skate Downhill.

Desde a metade de 2014, o município oferece o curso técnico para Regência de Coral, gratuito, via Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec). Pudera: com mais de 50 corais na ativa e uma orquestra, com apresentações internacionais, Teutônia é considerado um polo cultural do Vale. Tramita no Congresso o projeto para definir o município como Capital Nacional do Canto Coral.

População

Com área de 180 quilômetros quadrados, a cem quilômetros da capital, Teutônia apresenta crescimento populacional. No início da colônia, no fim do século 19, tinha 386 famílias, a maioria de origem germânica, o que totalizava 2,2 mil habitantes.

Em 2000, o censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) registrou população de de 22,8 mil habitantes. Em 2004, eram 23,6 mil pessoas; em 2007, 25 mil.

Hoje, com média de 30 nascimentos mensais, de acordo com dados da Secretaria Municipal da Saúde, e a migração de mão de obra para a indústria, Teutônia se aproxima de 30 mil habitantes. Em 2014, o IBGE estimou população de 27,2 mil.

Canabarro se consolida como o bairro mais populoso do Vale do Taquari. Com mais de 11 mil moradores, supera o número de habitantes da maioria dos municípios da região. No local, estão instaladas duas grandes indústrias calçadistas e uma fábrica de laticínios.

HISTÓRIA

O historiador Carlos Henrique Campos publicou o livro O Município de Teutônia, o Histórico do Processo Emancipacionista. Nele, descreve como a colônia de Taquari, e depois de Estrela, se transformou em cidade.

Ao comprar um lote de terras, em 1858, o comerciante Carlos Schilling fundou a Colônia Teutônia, no mesmo período em que começou a colonização de Estrela. Ambos ligados a Taquari, emancipada em 1849. O movimento emancipacionista começou em três frentes: Teutônia, Languiru e Canabarro. No entanto o regime militar suspende emancipações.

A ideia de tornar Teutônia um município foi retomada em 1976, quando Ernesto Geisel iniciou uma abertura política. A emancipação foi decidida em plebiscito.

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