Carência de defensores atrapalha serviços

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Carência de defensores atrapalha serviços

Das sete comarcas, cinco profissionais são efetivos. No RS, defasagem é de 87

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O órgão, cuja principal função é prestar assistência judiciária para pessoas carentes, sofre com a defasagem de servidores. Em todo o estado, faltam quase 90 profissionais. A situação precária é igual na região, onde só cinco atuam de forma fixa em duas das sete comarcas. Nas demais, os serviços são prestados só uma vez por semana por servidores substitutos.

Crédito: Anderson LopesSó as comarcas de Lajeado e Estrela possuem defensores públicos fixos nos quadros de servidores. Na maior cidade do Vale, são quatro profissionais atuando nas áreas criminais, cíveis, da família e da infância e juventude. Eles também atendem demandas de Canudos do Vale, Cruzeiro do Sul, Forquetinha, Marques de Souza, Progresso, Santa Clara do Sul e Sério.

Os quatro defensores lotados em Lajeado ainda realizam atendimentos como substitutos em outras comarcas do Vale do Taquari. Duas vezes por semana, por exemplo, um deles atende em Teutônia, onde a titular está de licença-gestante. Outro viaja uma vez por semana para Taquari, onde inexiste defensor fixo.

Na Comarca de Estrela, que atende Colinas, Fazenda Vilanova e Bom Retiro do Sul, há uma agente disponível todos os dias. Ontem, quando a reportagem tentou contato com a defensora responsável, ela estava em audiência e não havia outro profissional graduado em Direito para atender a comunidade no mesmo horário.

As comarcas de Encantado e Arvorezinha, assim como Teutônia, Taquari e Arroio do Meio, não têm defensor lotado para atender diariamente a comunidade. Lá, substitutos costumam atuar uma vez por semana. Juntas, as quatro circunscrições são responsáveis por outros 19 municípios.

Fraude em Arroio do Meio

A falta de um agente fixo na defensoria pública de Arroio do Meio facilitou um caso de fraude envolvendo estagiário do órgão e a compra de remédios. O fato foi descoberto em novembro de 2012 e ainda tramita na Justiça. Em setembro de 2013, o MP ofereceu denúncia contra o acusado e o dono de uma rede de farmácias de Lajeado.

Conforme o inquérito, o então estagiário – demitido em 2012 – trocava orçamentos para compra de medicamentos pelo Estado após assinatura da defensora. Com a troca, ele supostamente beneficiava uma rede de farmácias com sedes em Lajeado. Os remédios eram comprados com base em processos abertos por pacientes sem condições financeiras.

Segundo o Ministério Público (MP) local, entre maio e novembro de 2012, a farmácia suspeita recebeu cerca de R$ 100 mil em vendas para a Secretaria Estadual de Saúde. Deste total, pelo menos R$ 20 mil teriam sido inclusive superfaturados. Em novembro de 2012, existia suspeita de que o valor da fraude pudesse chegar a R$ 500 mil.

A situação atual é ainda mais complicada na comarca arroio-meense. A defensora pública que atuava de forma substituta na época é de Estrela. O agente substituto vem uma vez por semana de Candelária, no Vale do Rio Pardo. Por semana, há uma média de 60 novos processos.

Ontem, apenas uma estagiária e um servidor do Estado atendiam no local. Jordana Cemin, a estagiária, confirma a dificuldade de atender toda a demanda semanal com apenas um dia de atendimento por parte do defensor público. “Ocorre certo acúmulo de processos”, diz. Segundo ela, a maioria decorre de pensão alimentícia e compra de medicamentos.

Aguardamos nomeações em agosto”

O defensor Público-Geral do Estado, Nilton Leonel Arnecke, lamenta a defasagem da categoria em algumas regiões do estado. Segundo ele, em pelo menos sete comarcas inexistem defensores públicos atuando neste momento. “Também faltam profissionais em dois presídios do estado”, salienta.

O RS tem 372 agentes em atividade. Eles atuam em 158 comarcas. “Ainda há vagas para 87 profissionais. Esperamos preencher isso em agosto, quando é aguardada a nomeação do concurso público.” Mesmo assim, o número segue bem abaixo se comparado, por exemplo, com os 770 promotores de Justiça lotados no estado.

Conforme Arnecke, mesmo com as prováveis nomeações, não estão garantidos novos defensores para a região do Vale do Taquari. “É preciso ainda que as comarcas se manifestem e, mesmo assim, haverá análise de cada pedido”, observa.

Para ele, o ideal seriam pelo menos 650 agentes atuando no estado. Apesar da defasagem, ele comemora alguns avanços nos últimos anos. “Houve aumento de 240% no nosso orçamento nos últimos três anos. Imagina como era antes, quando ficamos quase dez anos estagnados”, observa Arnecke.

Saiba mais

– Hoje a Defensoria Pública do Estado tem 372 agentes em atividade em 158 Comarcas;

– No estado, existem 770 promotores de Justiça;

– O orçamento mensal da Defensoria Pública no Estado é de R$ 29,1 milhões;

– Hoje, há vagas para 459 defensores públicos;

– Sete comarcas e dois presídios no Estado não possuem defensores atuantes;

– A Defensoria Estadual realiza uma média de cem mil atendimentos a presidiários por ano;

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