Criminosos fazem 15 vítimas por dia na região

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Criminosos fazem 15 vítimas por dia na região

A sequência de furtos e roubos preocupa órgãos de segurança e causa apreensão na comunidade. A cada 1 hora e 33 minutos, uma pessoa é vítima de bandidos no Vale do Taquari, conforme dados da Secretaria de Segurança Pública. Prejudicada pela contenção de despesas no governo do Estado, a Brigada Militar refaz estratégias e orienta moradores a se proteger.

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Estatística da Secretaria de Segurança Pública do Estado (SSP) evidencia a dificuldade encontrada por órgãos de segurança e comunidade de coibir a criminalidade. Nos três primeiros meses deste ano, mais de 1,4 mil pessoas foram vítimas de roubos ou furtos no Vale do Taquari (veja tabela).

Crédito: Estevão HeislerO maior crescimento, se comparado ao mesmo período do ano passado, ocorre quando o alvo dos bandidos é o veículo da vítima. O número de roubos do gênero passou de 23 para 45 e o de furtos, de 73 para 122. De acordo com o chefe do Comando Regional de Polícia Ostensiva (CRPO), tenente-coronel César Pereira da Silva, o aumento decorre de diversos fatores.

No caso dos roubos, o crime tem relação direta com a modernidade dos sistemas de segurança dos veículos. Nos carros mais antigos, exemplifica, o bandido tem facilidade para entrar e dar partida. Quando se trata de modelos mais recentes, na maioria dos registros, o criminoso precisa abordar o motorista para ter sucesso na ação. “Essa prática é complicada de se prevenir e nos causa preocupação, pois tem contato direto com a vítima.”

Lajeado lidera os índices com mais de metade dos casos de todo o Vale do Taquari. No primeiro trimestre do ano, foram roubados 24 veículos na cidade – média de um a cada quatro dias. O lajeadense Artur Giovanella foi vítima de assaltantes no bairro Universitário, próximo a Univates, no dia 8 deste mês.

Estava acompanhado de uma amiga e recém havia estacionado o Toyota Corolla, quando dois homens armados se aproximaram e renderam-nos. Eles precisaram se deitar no chão e entregar pertences pessoais. A dupla de assaltantes fugiu, levando celulares, relógio, pulseira de ouro, bolsa e o carro. O veículo acabou sendo localizado no dia seguinte, abandonado em Alto Conventos.

No fim de abril, caso semelhante ocorreu nas proximidades da instituição de ensino. Às 19h10min de uma terça-feira, o motociclista Laércio Endrigo da Silva, de Bom Retiro do Sul, trafegava com uma CB-300R pela av. Amazonas quando, ao parar no cruzamento com a av. Senador Alberto Pasqualini, foi interceptado por dois homens em uma Titan. Armado, o caroneiro obrigou Silva a entregar o veículo.

Em 5 minutos, prejuízo de R$ 6 mil

O empresário Márcio Rohr, morador do bairro Floresta, em Lajeado, foi vítima de furto à residência no dia 6 deste mês. Por volta das 15h, ele e a mulher saíram de casa para ir ao médico. Quando retornaram, às 16h20min, se depararam com todo o interior da moradia revirado.

Pelas câmeras de vigilância instaladas no vizinho, pode ver parte da ação. Um homem desceu a rua caminhando e, em cerca de um minuto, quebrou o miolo do portão externo – o imóvel é gradeado – e também o da porta frontal da residência.

A ação durou quase 5 minutos. O homem fugiu levando um televisor 50 polegadas, aparelho DVD, máquina digital e joias. O prejuízo passou de R$ 6 mil. A família mora faz quase quatro anos no bairro e esse foi o primeiro caso.

Depois do furto, Rohr reforçou todas as trancas da casa. Agora, as portas permanecem trancadas também durante o dia. “Achávamos que era seguro, uma região tranquila. Depois que acontece algo assim, todos os hábitos mudam.”

Situação semelhante passou a família de Mateus Marques, do bairro Montanha, de Lajeado, há três semanas. Apenas a irmã estava em casa, quando percebeu alguém tirando o miolo da porta da casa. A menina então correu para os fundos, até a residência da avó, de onde telefonou para a mãe. A ação foi imediata e o assaltante acabou pego no flagra. Mesmo assim, ele consegui fugir levando objetos avaliados em quase R$ 5 mil.

Reforço na segurança

A Brigada Militar (BM) enaltece a importância de a comunidade ajudar na prevenção de crimes, em especial de invasões a comércios e moradias. “O bandido vai buscar aquele local que oferece menos resistência. Por isso quanto mais preparados estivermos, mais seguros ficaremos”, ressalta o comandante do CRPO.

Ações simples podem fazer toda a diferença, destaca o tenente-coronel. Entre elas, verificar se todas portas e janelas estão trancadas antes de sair e pedir para que algum vizinho tome conta da residência quando estiver ausente. “Muitas pessoas têm o costume de deixar a casa aberta ou de não se preocupar com o que acontece na rua, mas isso não pode mais ocorrer hoje em dia.”

Morador do bairro Bom Pastor, de Lajeado, Luciano da Silva decidiu investir em sistema de segurança da moradia, depois que ela foi invadida há quatro anos. Os criminosos aproveitaram o momento em que ele havia saído para almoçar, quebraram a fechadura da porta frontal e levaram um notebook, duas máquinas digitais e aparelho DVD.

De imediato, Silva investiu R$ 750 em alarme e outros R$ 800 de seguro do imóvel. Uma empresa privada monitora o sistema e vai ao local diante de cada anormalidade. “Passei a gastar quase R$ 160 mensais em segurança, mas pelo menos nos sentimos um pouco mais tranquilos dentro da nossa própria casa.”

O maior problema é a reincidência”

Chefe do Comando Regional de Polícia Ostensiva, tenente-coronel César Pereira da Silva, ressalta a necessidade de interação entre os órgãos de segurança para conter a criminalidade. O maior desafio decorre da impunidade: 85% dos crimes são cometidos por reincidentes.

A Hora – Quais ações a polícia adota para prevenir casos de furto e roubo?

César da Silva – Trabalhamos sempre avaliando quais os tipos de ocorrência mais incidentes, locais e horários. Com isso determinamos ações pontuais, como patrulhamento diferenciado em uma região. Algo importante, que também é o entendimento do novo delegado regional da Polícia Civil, é realizar trabalhos conjuntos entre os órgãos de segurança: uma investigação rápida seguida de uma repreensão, tirando do ar esses criminosos.

– Qual a maior dificuldade em conter a criminalidade?

Silva – A quantidade de furtos tem aumentado por uma simples razão: os responsáveis não ficam mais presos. Trabalhamos dentro das nossas possibilidades, mas a reincidência tem dificultado resultados mais significativos. Conforme nosso mapeamento, quase 85% dos crimes são cometidos por reincidentes. Então se tirássemos da rua todas essas pessoas, se estivessem presas, com certeza teríamos 85% menos crimes.

Trabalhamos com informações do setor de inteligência. Esses dias prendemos um rapaz com uma faca que estava assaltando. Assaltou dez locais. Mas, infelizmente não sei quanto tempo ele vai permanecer no presídio.

Acontece muito aqui e em outras regiões: determinado crime para quando as pessoas que cometiam estão presas. Quando elas voltam para rua, volta tudo de novo. Daí entra um problema social, que o presídio não recupera. Essa pessoa sabe que a impunidade é grande e vai voltar de novo. Ela sabe que vai poder cometer dez delitos e talvez no 11º acabe presa, mesmo que por pouco tempo. Quanto a isso, só haverá solução a partir de ajustes na legislação. Não deveríamos ser tão permissivos.

– Qual a interferência dos cortes feitos pelo Estado?

Silva – Esses cortes impactam de forma direta. Antes tínhamos a possibilidade de o servidor cumprir a carga horária e trabalhar quase que uma nova carga horária em horas extras. Agora não temos. Tentamos de várias maneiras recuperar essas verbas, mas já estamos realistas quanto a isso.

A criminalidade na região nos preocupa, mas não preocupa tanto ao governo. A nossa região não consta entre as mais violentas do Estado. São 19 cidades do RS que têm 85% de todas as ocorrências. Estas vão receber um incremento, uma ajuda do governo. Infelizmente estamos fora disso. Então precisamos trabalhar com o que temo.

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