Peixoto assume  delegacia e pede reforço

Você

Peixoto assume delegacia e pede reforço

João Antônio Merten Peixoto foi empossado, ontem à tarde, chefe da Polícia Civil no Vale do Taquari. Além da delegacia regional, assume o desafio de qualificar as investigações em meio a deficiências na corporação, entre elas a insuficiência de efetivo. Enquanto líderes da Segurança Pública e Judiciário enaltecem a união de esforços para amenizar carências, o Estado não sinaliza para o envio de novos policiais.

oktober-2024

Vale do Taquari – A tarde dessa quinta-feira marcou a posse do principal comando da Polícia Civil (PC) na região. Interino faz cinco meses, João Antônio Merten Peixoto assume de forma oficial a chefia da 19ª delegacia. No primeiro discurso, o novo delegado regional deixa clara a inquietação de ocupar o posto: “passamos por um momento difícil. Enquanto recebemos dez policiais, 13 se aposentaram”.

Estevão HeislerCom quase 24 anos de corporação, pede urgência na nomeação de novos servidores. O efetivo existente é semelhante ao da década de 90. Enquanto isso, a criminalidade se dissemina e se fortalece. “Estamos no limite da capacidade.”

Mas as adversidades não podem justificar perda na qualidade do trabalho, ressalta o delegado. Para isso, conta com o empenho de todos os agentes da polícia e pede apoio aos demais órgãos de Segurança Pública, Judiciário e da comunidade em geral.

Promotor de Justiça de Lajeado, Carlos Augusto Fiorioli, enaltece a interação entre o Ministério Público (MP) com a polícia, inclusive com a Brigada Militar (BM). De acordo com ele, o diálogo e a compreensão entre os órgãos têm sido a tônica da relação. “Trabalhando juntos, tenho a certeza de um bom resultado e condição de poder atender aos anseios do cidadão.”

Diretor do Foro de Lajeado, o juiz Luís Antônio de Abreu Johnson reconhece os avanços da PC nas últimas décadas. Não apenas pela capacitação dos servidores, cita, mas pelo perfil de polícia que traz resultados à população. “A investigação se aperfeiçoa a cada dia, tanto pela parte técnica dos agentes como pela tecnologia.” Para ele, a PC gaúcha é a melhor do país.

Vice-prefeito de Lajeado, Vilson Haussen Jacques Filho, elogia a escolha de Peixoto como delegado regional, em especial por ser do Vale do Taquari. Alguém que conhece, segundo ele, as características da região, tanto na criminalidade como em questões sociais e culturais. Ressalta a importância da interação entre as instituições e coloca o governo municipal a disposição dos órgãos de segurança. “As coisas vão ficar ainda piores daqui pra frente e precisamos nos unir.”

A cerimônia de posse teve ainda a participação do chefe de polícia no Estado, delegado Guilherme Yates Wondracek. Ele enalteceu a capacidade de Peixoto para assumir o posto. Destaca a importância da polícia na região. Como exemplo, aponta que as investigações que culminaram na prisão de José Carlos dos Santos, o Seco, começaram por Lajeado.

“Deveríamos ter o dobro de efetivo”

O chefe da PC apontou que apesar de o RS ter o quarto maior Produto Interno Bruto (PIB) do país, tem uma das piores estruturas policiais. Na década de 90, por exemplo, haviam mais de 6 mil servidores e hoje são 5,7 mil. O ideal, ressalta, seria o dobro. “Enquanto isso a criminalidade avança.”

Wondracek não sabe precisar como o Estado pode ampliar o número de policiais. Cita haver 670 agentes aprovados em concurso público esperando para iniciar a academia. No entanto, não há previsão para isto ocorrer. “Sem haver a recuperação financeira do Estado, não tem como fazer mais concursos.”

Para amenizar os transtornos causados pela falta de equipe, Wondracek aponta a necessidade de otimizar o efetivo nos locais de maior demanda, trabalhando nas áreas mais conflituadas. Outra ponderação do chefe estadual é quanto a qualidade das delegacias. No discurso da tarde de ontem, chegou a se referir a algumas como “lixo”. “Lixo porque são pequenas, tem infiltrações e condições péssimas. Mas estamos resolvendo isso. É uma questão que se arrasta há décadas.”

Delegado Huppes deixa a DP de Lajeado

Chefe da delegacia de Lajeado, Silvio Huppes, será transferido para a comarca de Encantado. A saída decorre de um pedido do próprio delegado e ocorrerá dentro dos próximos 15 dias, assim que definido o substituto para o posto.

De acordo com Peixoto há duas possibilidades. O delegado de Charqueadas, Rodrigo Reis, mostrou interesse em assumir a vaga de Huppes. Mas o novo comandante regional dá preferência a Juliano Stobbe. “Ele conhece o Vale, trabalhou no núcleo de investigação da regional. Mas ainda está indefinido.”

Stobbe foi delegado regional adjunto quando a chefia era de Elisabete Barreto Müller (até o ano passado). Desde então, o segundo maior posto da PC no Vale do Taquari está sem substituto. Peixoto pretende deixar tal posto desocupado.

Biografia

Natural de Lajeado, Peixoto tem 49 anos. Estudou no Colégio Evangélico Alberto Torres (Ceat) e no Colégio Castelo Branco. É graduado em Direito pela Unisc (1987), de Santa Cruz do Sul, fez a Escola Superior do Ministério Público e advogou durante 18 meses na comarca de Lajeado.

Foi aprovado no concurso da PC em 1991 e assumiu em agosto do ano seguinte na cidade de David Canabarro. Depois de um ano e meio foi para Marau, onde ficou cinco anos, e então conseguiu transferência para o município de Taquari. Desde então atua no Vale do Taquari. A única delegacia em que não foi titular da comarca de Lajeado foi a de Teutônia.

O grande desafio é a recomposição do efetivo

A Hora – O senhor assume em um momento difícil, como você mesmo disse. Como está a situação da polícia no Vale do Taquari e quais são as nossas demandas?

João Antônio Merten Peixoto – O grande desafio é a recomposição do efetivo. Historicamente não temos a tradição de formar policiais para ingressar na carreira de Polícia Civil aqui na região do Vale do Taquari. Normalmente eles vem de outras regiões.

Com isso em todo o Estado tem mais policiais civis se aposentando do que ingressando na carreira. E a região do Vale não é diferente. Recebemos dez que ingressaram e tivemos a aposentadoria de 13. E haverá mais aposentadorias no decorrer do ano. Há cerca de 650 policiais aptos a ingressar na academia e aí sim precisamos tentar junto aos nossos representantes da região para viabilizar que se traga a recomposição do efetivo. Hoje precisamos pelo menos 15 a 20 policiais.

Disseste que a PC na região está trabalhando no limite da capacidade. Qual seria este limite?

Peixoto – Tem delegacias de médio porte que deveria ter no mínimo oito policiais e agente conta com a metade. O caso mais crítico é o município de Taquari. Temos quatro policiais e agora em Tabaí, uma delegacia que é próxima a essa, se aposentou o único policial, e Taquari precisou ceder um servidor. Agora estamos falando de um município que tem apenas três policiais e quase 25 mil habitantes. Um é para registrar ocorrência, o outro para fazer cartório e o outro para fazer investigação. Isso é muito pouco. A mesma coisa se repete com Teutônia em relação à Paverama. Este é o limite: sobrecarrega o policial.

Como está a situação das delegacias no Vale, visto o chefe da PC no Estado reconhecer problemas em muitas regiões?

Peixoto – A maioria tem prédios próprios. Diria que estão entre o estado regular e bom. As vezes tem a questão de prédios locados pelo Estado que fica aquém para o atendimento. A PC possui um setor de engenharia que planeja prédios próprios. Se resolvesse vender aqui, isso é uma possibilidade, daqui a pouco pode haver a tratativa de uma empresa interessada pela área, podemos buscar um local para construir uma central de polícia moderna. Vamos tentar e se conseguir vai ser excelente aqui para a região, principalmente para Lajeado.

Como será sua atuação à frente da PC na região?

Peixoto – Cada delegado tem autonomia. Atuo como órgão de coordenação, de apoio e fiscalização. Vamos fixar metas. Mas vai ser dado segmento como vinha sendo com a ex-comandante regional (Elisabete Barreto Müller): reprimir tráfico, diminuir crimes de furto e roubo de veículos e homicídios.

Acompanhe
nossas
redes sociais