Separação teria motivado duplo homicídio

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Separação teria motivado duplo homicídio

Ex-namorado é suspeito de matar mãe e filha diante de dois menores de idade

oktober-2024

Cândida Ângela de Brito, 40, e a filha Júlia de Brito, 16, foram mortas a tiros na manhã de ontem. O crime ocorreu na casa das vítimas, na rua Ingazeiro, no bairro Navegantes. O principal suspeito é Roberto Carlos Rodrigues, ex-companheiro de Cândida. Até o fechamento desta edição (21h), ele seguia foragido.

Crédito: Juremir Versetti/Chinelagem PressSegundo relato de testemunhas, um homem de blusa azul teria deixado a moradia após os disparos, por volta das 10h30min, e fugido correndo. A Brigada Militar (BM) foi chamada e encontrou as vítimas ainda com vida. Ambas chegaram a ser socorridas ao Hospital Santa Teresinha. De acordo com a polícia, Cândida e Júlia foram alvejadas na cabeça.

Informações preliminares dão conta de que Júlia estaria grávida e o namorado, preso por tráfico de drogas. Conforme a Polícia Civil (PC), a neta de Cândida, a qual tem 7 anos, e outro filho, de 15 anos, presenciaram as mortes.

Durante as diligências, um parente das vítimas confirmou ao inspetor da PC, Pedro Barbosa, que Rodrigues teria cometido o crime. Cândida cumpria pena por tráfico de drogas e há pouco tempo estava na condicional. Desde então, concedia abrigo ao companheiro, que era foragido do regime semiaberto. “Ela mantinha ele escondido em várias casas do bairro, da família.”

Neste convívio, teria havido um desentendimento entre Rodrigues e Cândida. “Ela já tinha sido ameaçada de morte, mas levou na brincadeira. O homem prometeu que a mataria, caso ela o abandonasse, dizendo que não era igual aos outros dela”, aponta Barbosa com base no relato de testemunhas.

A polícia pretende esperar o enterro das vítimas para buscar mais depoimentos. Segundo o inspetor Barbosa, dados mais detalhados devem ser divulgados apenas na próxima semana. Mesmo assim, as buscas a Rodrigues continuam, visto ele ter mandado de prisão por estar foragido.

Discriminação

O principal motivo para o assassinato de mulheres é o fim dos relacionamentos, ressalta a delegada especializada na área, Débora Aparecida Dias. Há 15 anos na PC, 13 deles na delegacia da mulher de Santa Maria, relaciona os crimes passionais à discriminação do gênero. “O companheiro pensa que tem posse dela, como um objeto.”

Para Débora, o problema está ligado à cultura do machista do brasileiro, acentuada no Rio Grande do Sul. “Todo mundo sabe que a violência dentro de casa é mais grave do que a urbana. São crimes graves difíceis de denunciar. Porque você mexe com a família.”

Pesquisa mostra que entre 2000 e 2010 quase 48 mil mulheres foram mortas no Brasil, sendo 40% dos casos dentro de casa. “Somos o sétimo país com mais feminicídios. Estamos em uma posição vergonhosa para um país que quer ser desenvolvido.”

Segundo a delegada o essencial é trabalhar na educação, em especial das crianças. Ressalta que tais resultados aparecem de médio a longo prazo, mas que o importante é romper “esse ciclo de violência”.

Trauma psicológico

Presenciar um ato de violência provoca traumas nas crianças. Agressividade, choro compulsivo, isolamento estão entre os possíveis sintomas. Estudos de profissionais da área de psicologia não definem quais os impactos no desenvolvimento infantil, mas são quase unânimes em determinar a necessidade de haver um acompanhamento dessa criança por toda a vida.

Quando a violência acontece no grupo familiar ou é provocada por pessoas conhecidas, o choque pode ser ainda maior. Nestes casos, dizem os especialistas, qualquer comportamento fora do normal é esperado. Se a criança era tranquila, pode ficar agressiva. Conforme os psicólogos, o mais inesperado seria uma atitude indiferente.

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