Taxistas se dizem reféns da violência

Você

Taxistas se dizem reféns da violência

Assassinato de mais um trabalhador abalou colegas e motivou protesto em Teutônia

O assassinato de José Guilherme Fell, 55, nessa quinta-feira, comoveu teutonienses e revoltou colegas. Foi mais um golpe para a categoria que reúne 900 profissionais pela região. Fell morreu com um tiro na nunca, por volta das 18h20min, no interior de Paverama.

Crédito: Leonardo HeislerFuncionário de um ponto de Táxi, no bairro Canabarro, Fell dirigia um Fiat Uno. Foi chamado para uma corrida. Testemunhas afirmam ter visto dois homens ingressarem no veículo na localidade de Linha Brasil. De acordo com informações da Polícia Civil, os criminosos mandaram o motorista sair do carro. Um deles disparou. O corpo foi deixado no local, às margens da estrada geral.

Os bandidos voltaram com o veículo para Teutônia e o incendiaram na Linha Morgeland, próximo ao perímetro urbano do bairro Centro Administrativo. O delegado Humberto Roehrig iniciou as investigações com a hipótese de latrocínio (roubo seguido de morte). “Temos que apurar qual foi a motivação.” Ainda não há informações sobre os suspeitos.

Fell deixa a mulher e os dois filhos, de 32 e 23 anos. O enterro ocorre hoje, às 8h30min, no Cemitério Católico de Canabarro. Estava marcado para ontem, às 17h, mas foi adiado a pedido da família. Entre a comunidade, há um consenso: Fell não tinha inimigos.

Ontem à tarde, durante velório, os 46 taxistas de Teutônia realizaram carreata nas principais vias da cidade. Com faixas pretas sobre os veículos, os profissionais prestaram condolências à família e protestaram diante a inédita onda de violência nos 33 anos de atividades do setor. Querem mais segurança.

“Algo deve ser feito”, afirma Airton Hergmöller, 76, o primeiro taxista da cidade e ainda em atividade. “Isso não pode acontecer de novo.”

Para o presidente da Associação dos Taxistas de Teutônia, Jair Claudiomiro Saenger, a categoria está vulnerável, refém da violência. “O medo é grande. Temos família”, afirma. Para ele, o Poder Público e a polícia devem adotar medidas para barrar a violência. “Não sabemos quem estamos carregando.”

Tentativas de homicídio são recorrentes

Crimes contra taxistas se tornaram corriqueiros. Só 2013, três foram mortos por bandidos. Outros profissionais escaparam por detalhe. Mário Jommertz, 36, carrega no corpo a bala que quase o matou, em junho de 2014. O projétil está alojado a cinco milímitros da coluna cervical. “Ficará para sempre comigo. Jamais esquecerei o que aconteceu.”

Criminosos pediram para Jommertz estacionar o táxi na rua Maurício Cardoso, próximo da Costaneira, por volta das 21h. Um deles atirou pelas costas, sem anunciar assalto. Atingiu a nuca. Jommertz foi internado no Hospital Bruno Born (HBB), onde passou por cirurgia. Ficou três meses. Desde então, se recusa a trabalhar à noite.

Sobram casos semelhantes e mais recentes. Em dezembro de 2014, em Lajeado, Clodori Maria Vedoy, 46, foi atingido por três disparos, um deles no maxilar. O taxista Jean Bruno Corrêa de Mello, 25, foi esfaqueado no pescoço, na madrugada do dia 4 de março, em Lajeado. Um trio solicitou corrida no ponto de táxi do Banrisul, no Centro, até o bairro São Bento. No dia 17 de fevereiro, Isidoro Sírio Winck, 60, foi baleado durante a madrugada, no bairro Santo André, em Lajeado.

Pedido de proteção

O Sindicato dos Taxistas de Lajeado realizou abaixo-assinado para pedir a obrigatoriedade da utilização de cabines de segurança nos táxi. A maioria não tem. O material à prova de balas separa o motorista dos passageiros. Proprietários dos pontos reclamam do alto custo, enquanto motoristas se dizem vulneráveis e ameaçam deixar a profissão. Outra reinvidicação dos taxistas é a fiscalização da Brigada Militar.

Homicídios na região

Setembro de 2010, em Encantado – Juliano Gheno, 45, sumiu por volta das 19h do dia 2, após realizar uma corrida. Dois dias depois, em Linha Anita, um agricultor encontrou o taxista carbonizado dentro do veículo.

Maio de 2013, em Lajeado – João Freitas de Souza, 72, foi morto a facadas na rua Guilherme Hepp, entre o Estádio Alviazul e a ERS-130. Sua última corrida teria partido de Estrela, onde morava.

Agosto de 2013, em Venâncio Aires – Luís André da Rocha, 53 desapareceu em 12 de agosto, em Venâncio Aires. O corpo foi localizado no Rio Jacuí, em Charqueadas, 14 dias depois.

Agosto de 2013, em Venâncio Aires – Paulo Roberto Lagemann, 55, foi morto a facadas no pescoço e no rosto após pegar dois passageiros na rodoviária de Venâncio Aires. Ele foi encontrado 20 minutos após o ataque, no banco de trás de seu Palio.

Acompanhe
nossas
redes sociais