Meio século que  mudou o ensino no Vale

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Meio século que mudou o ensino no Vale

Maior escola pública da região completa 50 anos de fundação neste domingo, dia 26. Instituição foi a primeira a oferecer cursos profissionalizantes

Lajeado – A história da professora Lourdes Heickardt, 62, se confunde com a do Colégio Presidente Castelo Branco. Ela ingressou no educandário um ano depois da fundação, em 1966. Naquela época, a instituição funcionava onde hoje fica Escola Fernandes Vieira.

Arquivo PessoalFormada na segunda turma do ginasial, Lourdes acompanhou a evolução da escola desde os anos iniciais. Faz 33 anos que é professora de Biologia da instituição, na qual pretende se aposentar. “Sinto orgulho de presenciar as mudanças que o Castelinho trouxe para a região.”

A criação do colégio, em 1965, significou uma mudança profunda na educação e no desenvolvimento do Vale. “Foi a primeira escola pública estadual com cursos profissionalizantes que atendiam as necessidades do mercado regional.”

Assim, logo se constituiu como um polo que recebia alunos vindos de várias cidades e localidades. O primeiro diretor do então Ginásio Estadual foi o advogado e professor Ney Arruda. Segundo ele, a criação do colégio fez parte do planejamento do então governador do estado, Ildo Meneghetti.

“Fiquei responsável por articular a instalação no Vale do Taquari.” Para lecionar na nova escola foram escolhidos apenas profissionais com registro de professor, independentemente de opções partidárias ou ideológicas.

Para Arruda, isso trouxe a qualidade de ensino necessária para as pretensões do colégio. “Formamos um grupo intelectual de professores que vinham até de outras cidades para dar aula.” Garante que orçamento do educandário era maior do que o de muitos municípios da região.

O ensino diferenciado atraiu cada vez mais estudantes. Quatro anos após a fundação o espaço disponível ficou pequeno. “Em época de matrículas as pessoas faziam fila de madrugada para garantir uma vaga e chegamos a conclusão de que precisávamos de uma nova sede.”

Sob a gestão do então governador Walter Perachi Barcellos, o Estado e a direção viabilizaram a mudança para o prédio em que a escola está até hoje. No local, funcionava o Colégio Marista São José. Neste ano, em 1969, o número de alunos chegou a 2,5 mil.

“Meses depois, recebi um telefone do governador, agendando uma visita devido ao sucesso da escola”, lembra. Perachi Barcellos não só conheceu o colégio como jantou com alunos e professores da instituição.

Mais de 200 profissionais integravam o corpo docente do ginásio, que recebeu verbas federais por ser o primeiro orientado para o trabalho do Vale do Taquari. Assim, foram montados laboratórios de ensino que uniram a excelência teórica a locais adequado para a aprendizado prático.

No fim dos anos 60, o Castelinho foi decisivo na criação da hoje Univates. Conforme Arruda, a instituição nasceu e teve as primeiras turmas dentro do colégio, como uma extensão da universidade de Caxias do Sul.

A formação profissional agregou a mão de obra especializada necessária ao crescimento regional, diz o ex-diretor. Segundo ele, as empresas passaram a se instalar em Lajeado a partir das qualificações oferecidas pelo Castelinho e pela Univates.

Nome e Logotipo

O nome da escola foi escolhido por Ney Arruda, após a morte do ex-presidente da Ditadura Militar, Humberto de Alencar Castelo Branco. Na época, a instituição era denominada apenas de Ginásio Estadual.

“Conversei com a Secretaria da Educação e encaminhei o pedido oficial para fazer a homenagem após o acidente que vitimou Castelo Branco”, lembra. Primeiro ditador do regime militar, o então marechal morreu em 1967, quando o avião em que estava colidiu contra um caça da Força Aérea Brasileira.

Após a definição do nome, a equipe diretiva decidiu escolher um logotipo para adornar os uniformes. Conforme Lurdes, uma professora de desenho passou em todas as turmas e anunciou um concurso entre os alunos para a escolha do brasão.

“Quando esteve na minha sala, levantei a mão e sugeri que fosse usado o desenho de um castelo”, lembra. Segundo ela, a sugestão foi aceita e desde então o colégio passou a utilizar a marca que criou o apelido de Castelinho.

Mudanças no ensino

Os anos 70 foram marcados por transformações no sistema educacional brasileiro. Os ginásios tradicional e orientado para o trabalho foram substituídos pelos cursos Clássico e Científico. Em 1971, a escola passou a atender também as séries iniciais.

Ao completar dez anos, em 1975, o educandário mantinha os cursos profissionalizantes de redator auxiliar, técnico em publicidade, assistente de administração e técnico em estatística. Em 1977, foram acrescentadas formações para auxiliar de escritório e de laboratório.

Um decreto transformou os ginásios estaduais em escolas de 1° e 2° graus em 1979. Nos anos 80, o prédio do colégio Castelo Branco, então alugado, foi adquirido pelo Estado. Nos anos 90, foram criados mecanismos de inclusão, como a sala de recursos para atendimento a deficientes visuais, em 1993.

A partir de 1994, passou a funcionar o curso de magistério, que habilita professores a dar aulas em turmas de 1ª a 4ª séries que, a partir de 2001, foi denominado de Curso Normal. Gradativamente as demais habilitações foram extintas e é o único curso profissionalizante oferecido na escola.

Em 1995, foi realizada a primeira eleição direta para diretores, que nomeou para a gestão do colégio o professor José Pedro Kuhn. No ano seguinte, a nova Lei de Diretrizes e bases mudou para Ensino Fundamental e Médio a denominação dos graus de instrução, que seguem até hoje.

Do Castelinho para a Petrobras

Diversos profissionais renomados passaram pela história do Castelinho. Entre eles está Paulo Roberto Schroeder Johann, doutor em Geofísica que responde pela gerência do Setor na Petrobras.

Johann estudou na escola desde a fundação até 1974, quando cursou o 2o ano do Ensino Científico. Para ele, a passagem pelo educandário foi fundamental para o desenvolvimento pessoal e profissional.
“Foi o Castelinho que me deu a base de curiosidade e inovação científica e me encaminhou para o futuro.” Para o geofísico, o Colégio Presidente Castelo Branco representa a excelência acadêmica no Vale do Taquari.

Credita aos ensinamentos da escola a futura graduação em Geologia na Unisinos e o doutorado em Geofísica de Reservatórios Petrolíferos realizado pela na Universidade Paris VI, na França. “Começou na escola minha paixão pela matemática, pela física e pelas ciências relacionadas à natureza, como a geografia e a geologia.”

Considera a graduação em Paris como a principal conquista da vida e associa o resultado a uma base acadêmica fundamentada no ensino Ginasial e Científico. “Esta escola pública faz parte da minha historia.”

Para ele, mesmo os 34 anos de experiência na Petrobras têm como fundamento aqueles aprendizados adquiridos durante as aulas no Castelinho. “Tenho orgulho de fazer parte dos 50 anos dessa história.”

“O Castelinho se mantém como uma das melhores escolas do estado”

Diretora no ano do cinquentenário, a professora Evenize Pires, ressalta o trabalho de inclusão social desenvolvida pela escola. Para ela, a mistura de realidades contribui para a formação de cidadãos capazes de conviver com as diferenças.

A Hora – Quais as principais críticas e demandas enfrentadas pela escola?

Evenize Pires – A escola estadual é visada, principalmente pela mistura de classes que envolve o ensino público. Muitas vezes, as críticas são infundadas. Se fala em falta de recursos, mas hoje temos acesso a verbas federais e estaduais que permitem a manutenção de bons laboratórios e uma estrutura adequada para o ensino. Também possibilitam a formação continuada de professores, que estão sempre se atualizando. O Castelinho se mantém como uma das melhores escolas do Estado.

Como funciona o trabalho de inclusão social realizado na escola?

Evenize Pires – A questão da inclusão está presente desde a formação dos professores. Temos uma sala multifuncional com dois professores que auxiliam alunos com dificuldades no turno oposto e também intérpretes para auxiliar alunos cegos e surdos. É um acompanhamento que não existe em algumas instituições. Para a educação dos alunos isso é fundamental. Muitas vezes existe a resistência em aceitar colegas com necessidades especiais.

A orientação educacional trabalha para que existe o acolhimento às diferenças e podemos perceber o quanto isso contribui para o desenvolvimento da cidadania. É algo que os jovens acabam levando para toda a vida.

Quais os desafios de gerir a principal escola estadual do Vale do Taquari?

Evenize Pires – É a grande responsabilidade de manter a qualidade de ensino e atender as demandas diárias da instituição. Nosso principal desafio é com relação aos recursos humanos. Nos últimos três anos tivemos momentos em que faltaram professores, até pelos procedimentos burocráticos que envolvem as contratações da Coordenadoria Regional de Educação. Existe uma desvalorização salarial dos profissionais da educação que pode desmotivar professores, mas trabalhamos para que isso não interfira no ensino.

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