Fazenda Vilanova – Parceria entre moradores e administração municipal garante a instalação de 11 câmeras de vigilância em localidades do interior. O projeto, inovador no Vale do Taquari, surgiu em meados do ano passado, após uma sequência de abigeatos em propriedades rurais. O sistema de videomonitoramento deve estar pronto em um mês.
De acordo com o prefeito Pedro Antônio Dornelles, o estopim ocorreu em julho do ano passado, quando um pecuarista teve 19 animais levados. Na época, um grupo de criadores de gado contatou o Executivo para pleitear uma solução contra a criminalidade. “Então projetamos colocar câmeras. Mas tinha um problema, o governo estava em arrocho financeiro.”
Diante do percalço, o gestor sugeriu aos moradores para custear os equipamentos e doar a rede ao poder público. Em contrapartida, o município se responsabilizaria pela manutenção e posterior ampliação. Foram realizadas cinco reuniões para definir os ajustes, parte delas com representantes da Brigada Militar (BM) e Polícia Civil (PC).
Na semana passada, o projeto foi encaminhado ao Legislativo. O governo solicitava autorização dos parlamentares para receber o dinheiro e colocar em prática a proposta. Ao todo foram arrecadados R$ 30 mil, rateados entre 44 pessoas ou empresas.
As câmeras foram compradas nesta semana e começam a ser instaladas em dez dias. Ficarão posicionadas nos acessos às comunidades de Colônia Cardoso, Matutu, Boa Vista, Fazenda Juliana, Alto Pinheiral e Concórdia. Os aparelhos também registrarão imagens das ligações aos municípios de Bom Retiro do Sul e Taquari.
Entenda o sistema
As filmadoras serão acopladas, na maioria dos casos, aos postes da rede de energia elétrica. Registrarão imagens coloridas, inclusive à noite, com alcance de até 60 metros. De acordo com o projeto, também terão dispositivo de proteção contra vândalos.
Cada aparelho ficará conectado a uma moradia próxima, na qual haverá um compartimento para armazenamento das imagens por 32 dias. Caso não sejam retiradas para análise, serão substituídas por novas gravações. Conforme contrato, os equipamentos têm garantia de dois anos.
Câmera em frente de casa
Moradores do interior enaltecem a agilidade do plano. Um dos 11 aparelhos ficará em frente à moradia da família Fiel, em Alto Pinheiral. “Além de as imagens servirem para eventuais casos, ajudarão a espantar os ladrões”, espera Evani Moraes da Rosa Fiel, 59.
Há cerca de oito anos, quatro homens armados invadiram a propriedade durante a madrugada e mantiveram a família refém por duas horas. Algemados, ela e o marido foram agredidos e ameaçados de morte por se negarem a abrir o cofre.
Em 2012, outra invasão. Três ovelhas foram furtadas do campo. Depois do episódio, os pecuaristas desistiram de criar ovinos. “São animais dóceis e qualquer um podia chegar até eles. Agora com as câmeras, poderemos retomar a criação.”
Evani relata seguidos casos de abigeato nas proximidades. Lembra o ocorrido na com Auri José Cardoso, de Alto Pinheiral, do qual foram furtados os 19 bovinos em julho do ano passado. O prejuízo chegou a R$ 38 mil. Três meses antes, criminosos invadiram a propriedade de Iraci da Rosa Cardoso, de Linha Conceição. Dois bovinos confinados foram sacrificados no local e carne levada.
Proposta de expandir
Assim que os 11 aparelhos estiverem funcionando, o prefeito Dornelles quer reunir moradores de demais regiões do município para debater a expansão da rede. A proposta do governo é monitorar também todos os acessos no percurso capital – interior da BR3-386 – lado oposto ao do atual projeto.
A grande extensão das propriedades rurais, somada a proximidade com a rodovial federal, facilita a ação dos criminosos e há anos, criadores são vítimas de abigeato. “A polícia não tem como acompanhar todo o município e a nossa melhor alternativa, é que a própria comunidade faça sua segurança”, afirma o prefeito.
De acordo com o gestor, ao envolver moradores com projetos de segurança, eles se sentirão na responsabilidade de zelar um pelo outro. “Já percebemos as famílias se unindo. Os produtores estão comprometidos, investiram dinheiro nisso e querem acabar com a criminalidade.”
Problema em todo o RS
A cada ano, a polícia gaúcha registra cerca de sete mil ocorrências por abigeato. Em 2012, por exemplo, quase 25 animais foram furtados de propriedades no Rio Grande do Sul. A grande maioria segue para abate clandestino e a carne, repassada de maneira informal aos consumidores. Com isso, as empresas deixam de pagar impostos sobre a atividade e acometem clientes a sérios riscos de contaminação. Todos os anos, o Estado deixa de arrecadar quase R$ 60 milhões em ICMS. O governo alega estar vulnerável a esse tipo de situação, visto a grande extensão de áreas rurais e o baixo número de efetivo policial.
Projeto de lei que torna mais grave o crime de abigeato segue em discussão. A prática é considerada furto simples. O texto propõe pena de dois a oito anos de prisão para quem furta e abate ilegalmente animais, além de responsabilizar quem vende o produto. Denúncias podem ser feitas pelo número 181.