História de cem anos contada por centenária

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História de cem anos contada por centenária

Docelina Alves da Silva, a Dona Doce, tem 101 anos. Viu a transformação do antigo vilarejo, hoje uma das maiores cidades da região. Na última década, os setores industrial e comercial ganharam mais espaço, apontando para a diversificação econômica. No centenário, comemorado hoje, os festejos reforçam a união do povo e a perseverança pela construção de um futuro melhor.

Encantado – A cidade conhecida como a capital do Ouro Branco, devido à produção de banha nos anos 50, mantém parte da economia ligada à carne suína. Boa parte dessa trajetória foi vista pela aposentada Docelina Alves da Silva (Dona Doce). Ela acompanhou o crescimento.

04Natural de Linha Anita, lembra da época em que atracavam as embarcações no Porto 11, onde nasceu o atual bairro Navegantes, local onde mora. Trabalhou no campo e depois migrou para a cidade para atuar como doméstica. A cidade antes agrícola, conhecida pela produção de grãos, abriu espaço à produção industrial e ao comércio.

O setor industrial teve a maior expansão na última década. Representa 38% da economia local, seguido do comércio com 33%. Há destaque para a produção e exportação de alimentos como a carne suína. A Cosuel é a principal empresa da cidade, representando 32,2% do retorno de ICMS. Exporta para mais de 13 países.

Outro segmento alimentício em ascensão é o sorvete, que representa quase 5% de retorno. Só a empresa Sabory tem uma produção diária de 20 a 25 mil litros de sorvete e cem mil litros de picolé na alta temporada. Os números cresceram 80% na última década. A venda ocorre pelo sul do país, somando mais de 12 mil clientes.

Segundo o secretário de Desenvolvimento, Roberto Pretto, o ramo de produtos de higiene e cosméticos também aparece com destaque. Representa quase 20% do retorno de ICMS com destaque para a empresa Fontana S/A. Fundada faz 80 anos, tem produção anual superior a 130 mil toneladas de produtos, além de fornecer matéria-prima como glicerina e massa-base para outras empresas.

Aposta na agricultura familiar

A produção primária caiu quase 10% nos últimos quatro anos, representando 22% da arrecadação. Secretário da Agricultura, André Boeri, relata a retração como consequência do êxodo rural, que compromete novos investimentos no setor. “Dentro desse cenário econômico, a agroindústria familiar ganha espaço, como forma de aumentar a renda no campo.” A cidade tem 14 agroindústrias.

O segmento teve um apoio importante nos últimos dois anos, desde a implantação do Arranjo produtivo Local (APL). O projeto garante apoio técnico e facilidade de crédito aos beneficiados. Mesmo assim, conta Boeri, a agricultura local ainda se mantém pela avicultura de corte e suinocultura. Esta última representa 39,4% da produção na cidade.

A banha que gerou o título de Capital do Ouro Branco à cidade, na década de 1950, dá lugar à carne suína. Os principais produtores da região são de Encantado, somando 300 mil animais produzidos ao ano.

Para manter a atividade em alta, Boeri projeta investimentos na sanidade dos animais, tratamento de dejetos, ampliações de redes de abastecimento de água e eletrificação rural.

Olhar de quem viveu o centenário

Com o ajuda dos filhos, Dona Doce relembra de parte da história encantadense. Ela se criou entre italianos, com os quais aprendeu o dialeto. Caçula da família, teve uma vida difícil logo na adolescência, quando a mãe morreu.

Depois de casada, se mudou para o atual bairro Navegantes. Na época, o local era uma plantação de eucalipto, nas proximidades do Rio Taquari. Havia menos de dez famílias, as quais abriram uma clareira para formar residência. “Sem luz, a gente se virava como conseguia”, diz.

Doméstica, trabalhava em troca de comida e roupas para a família. Saia cedo, no escuro, e voltava à noite. Os filhos aproveitavam para brincar no rio. “Nos criamos perto da barranca, vendo os navios a vapor levarem grãos para Porto Alegre”, conta a filha caçula Madalena da Silva, 51.

Segundo ela, na época de enchente, costumavam amarrar a casa de madeira nas árvores. Os vizinhos se auxiliavam e subiam o morro, permanecendo em uma parte de lajes, chamada de Lajes da dona Veloca – hoje próximo da Cosuel.

Quando o bairro se tornou loteamento de fato, em 1986, Dona Doce recebeu o 1º lote. Na época, os 5,2 mil cruzados foram parcelados em 60 vezes. No local, reside até hoje. Dos nove filhos, ela tem 31 netos e 21 bisnetos. Mesmo com idade, esbanja saúde. Autêntica, não tem frescura. Demonstra amor pela cidade onde mora e familiares. Ao mesmo tempo, não deixa de transparecer a gratidão às origens e o orgulho em fazer parte da história centenária.

Orçamento cresce 91% em 4 anos

Com 20.510 habitantes, Encantado é considerada cidade-polo da região alta do Vale do Taquari. Parte do título se dá devido à referência comercial e aos serviços de saúde, como o Instituto de Oftalmologia.

Nos últimos quatro anos, o orçamento municipal aumentou 91%, passando dos R$ 29,3 milhões de 2011 para a R$ 56 milhões em 2015. Este valor corresponde a R$ 6 milhões a mais em relação a 2014.

“O aumento ocorre devido aos investimentos na Saúde”, frisa o secretário de Desenvolvimento, Roberto Pretto. Para 2015, a previsão do governo é investir 32% da receita na área e outros 25% à Educação.

Dentre os projetos, está a conclusão da UTI com dez leitos adultos, no Hospital Beneficente Santa Terezinha. A obra de 12 mil metros quadrados custará R$ 4 milhões para Rede São Camilo.

O município se comprometeu em buscar R$ 1 milhão em recursos públicos para acabamentos e compra de equipamentos hospitalares. Até então, há a promessa de uma emenda parlamentar de R$ 800 mil para os acabamentos e outras duas no valor de R$ 500 mil para aparelhos.

Na área industrial, o Executivo projeta a construção de uma incubadora às margens da RS-332. Com 68 mil metros quadrados, o terreno no bairro São José receberá um pavilhão para abrigar empresas locais e regionais de forma temporária. O município estuda um projeto licitatório de divisão dos lotes, para posterior votação no Legislativo.

Acreditamos estar no caminho certo

O prefeito Paulo Costi fala sobre o desenvolvimento da cidade e faz projeções para os próximos anos de gestão. Dentre os avanços, enfatiza a união do poder público com a iniciativa privada.

Hora – Sobre o centenário da cidade, como analisa o desenvolvimento do município? Quais foram os principais avanços nos últimos anos?

Paulo Costi – Encantado faz parte de um grupo de municípios que se destaca pelo crescimento aliado ao desenvolvimento econômico e social. O equilíbrio nos mais diversos setores: primário, industrial, comercial e serviços é visível, ou seja, afirmar qual o segmento que mais evolui talvez não represente a realidade.

Percebe-se claramente que há um grau de satisfação em todas as áreas. Talvez o principal avanço seja da perfeita compreensão de que poder público e a iniciativa privada caminhem juntos cada um com suas responsabilidades e assim promovendo o desenvolvimento de forma coletiva.

Quais as principais carências da cidade? Como fazer para se desenvolver mais?

Costi – Por mais que se faça, e me refiro tanto ao poder público como a iniciativa privada, sempre haverá mais um passo a ser dado. O que hoje foi feito e que de certa forma satisfaz as exigências das pessoas poderá não será suficiente no dia de amanhã. Acreditamos estar numa evolução, mesmo com as dificuldades que nos são impostas, as quais enfrentamos com a mesma coragem na busca de dar a melhor solução. Acreditamos estar no caminho certo e afirmo isso pela frequência com que ouvimos das pessoas que nos visitam, especialmente daqueles que por aqui passaram uma expressão que nos enche de orgulho: “como Encantado cresceu e como está bonita”.

Em que áreas Encantado pode avançar? Quais são as projeções?

Costi – Sempre se pode avançar um pouco mais, mas afirmei lá no início, dada a diversidade econômica e o equilíbrio que se verifica nos mais diversos setores, acreditamos na força e na capacidade dos nossos empreendedores.

Na disposição do poder público de promoção da nossa economia o que nos faz acreditar que continuaremos evoluindo, apostando também que a crise momentânea que vive o país não interfira neste crescimento que Encantado vem tendo nos últimos anos.

Mais uma vez é possível afirmar, conhecendo a força das nossas entidades, o espírito empreendedor, característico da nossa gente que Encantado, nos próximos dez anos deverá proporcionar ainda mais uma vida com qualidade a todos aqueles que aqui estiverem.

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