Vale do Taquari – Os seis municípios somam 20,1 mil habitantes. Apenas 2,6 mil a mais se comparado ao período da emancipação. Nestes 23 anos, Santa Clara do Sul, Mato Leitão e Capitão conseguiram elevar o número de moradores. Em Travesseiro, Colinas e Sério a população reduz, exigindo mudanças nas políticas públicas para conter o êxodo. Veja variação populacional nos gráficos abaixo.
Sério amarga o pior resultado. Desde a criação do município, 846 pessoas foram embora. Muito em decorrência da falta de opções de trabalho, associado ao precário acesso e a distância de quase 50 quilômetros da região central do Vale do Taquari.
Para inverter o panorama, o governo aposta na exploração turística. Faz dois anos que investe em cursos treinamento na área para motivar a comunidade a permanecer no interior. “Nossa saída é o turismo de aventura e explorar as belezas naturais”, entende o vice-prefeito Paulinho Aroldi.
Diante da demanda e falta de infraestrutura no município para receber turistas, há cinco meses, um grupo de cinco amigos decidiu criar uma empresa para preparar a comunidade e organizar a recepção dos visitantes. “Precisávamos de uma entidade vinculada ao turismo. Muitas pessoas queriam vir, mas não conheciam as trilhas, restaurantes e sequer sabiam a quem perguntar sobre isso”, relata um dos participantes, Moisés de Freitas, 38.
Desde então, o grupo promoveu uma série de eventos, dos quais centenas de visitantes conheceram Sério. Até o fim deste ano, dez atividades estão agendadas. Uma caminhada que ocorrerá em novembro já tem cem inscritos. “Tudo o que arrecadamos está sendo investido em equipamentos. As empresas locais são as mais beneficiadas com venda de alimentos e estadias. O nosso propósito principal não é lucrar, mas sim dar condições à cidade.”
Enquanto rotas e roteiros se fortalecem e consolidam, o retorno aos cofres públicos demora. A economia municipal permanece dependente do setor primário. Quase 95% gira em torno da atividade, sendo a maioria ligada à produção de leite, avicultura e plantio de mato.
Santa Clara do Sul é o inverso. O crescimento populacional nestas duas décadas chega a 46% (passou de 4.188 para 6.127 habitantes). Diferentes culturas se misturam a dos colonizadores do município e impactam nos costumes das famílias descendentes de alemães e italianos. A maioria chega para trabalhar na principal empresa da cidade, a Calçados Beira Rio, instalada a partir de 2010. A multinacional sucedeu a Calçados Andreza, extinta no começo deste ano após quase quatro décadas.
Trezes novos loteamentos
A chegada de novos moradores ocasiona abertura de novos loteamentos e expansão dos bairros. Santa Clara do Sul lidera os índices de construção civil do Vale do Taquari em proporção ao número de habitantes. A construção de prédios, com mais de um piso ou superiores a mil metros quadrados, é destaque em meio as dezenas de novos imóveis.
Treze loteamentos foram abertos desde 1992. Loteadores associam o desenvolvimento do setor a três fatores: proximidade com Lajeado, áreas disponíveis para construção e o empenho da comunidade com o trabalho.
Há três semanas, o eletricista Paulo Hagemanm, 51, a mulher Clair e o filho Gabriel, de quatro anos, se mudaram de Lajeado para Santa Clara do Sul. “Quando apresentei a cidade para minha família, ficaram maravilhados. Então compramos um apartamento.”
Gabriel estuda em Lajeado por falta de tempo hábil para matriculá-lo no novo endereço. “Estamos providenciando uma escola por aqui. Aos poucos, vamos nos adaptando à moradia”, cita Hagemanm.
Colinas: líder no IDH
Cidade Jardim do Vale do Taquari, Colinas figura entre os municípios que tiveram queda populacional. Mesmo assim, tem o melhor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) dentre os seis em aniversário, com Idese de 0,8.
A posição é resultado de uma reavaliação das políticas públicas feitas no fim da década passada. Em meados de 2008, a principal empresa da cidade estava em declínio e o desemprego batia na casa dos 30% da população.
Por meio da diversificação dos setores produtivos e da exploração turística, o município superou a crise e hoje sobram vagas, em especial para mão de obra técnica.
Trazida pelos imigrantes germânicos, a tradição de manter o quintal belo se tornou um dos principais atrativos para milhares de turistas de todo o Estado. Aliado a isso, o poder público oferece programações festivas em datas específicas, como Natal e Páscoa.
Terra de riquezas
Mato Leitão tem a segunda maior população, com 4.161 habitantes. O número aumentou pela metade nesses 23 anos. O crescimento fica evidente diante da construção de novas moradias, tanto no centro como interior.
A maior peculiaridade está no território: faz parte politicamente ao Vale do Rio Pardo e ao Vale do Taquari e, diante da importante ligação entre as regiões, atrai investidores. O município segue com uma das economias mais sólidas entre os seus emancipados. Indústrias de calçados e a produção primária são as principais responsáveis pela receita estimada em R$ 19,1 milhões.
O município deixa de lado a fumicultura e os ervais, que foram responsáveis pela formação econômica de um dos distritos mais produtivos de Venâncio Aires. Com a proximidade de cooperativas do Vale do Taquari, agricultores migraram para a produção de suínos, leite e aves.
Potencial agrícola
Capitão é o único dos municípios, cuja economia depende unicamente do setor primário, com crescimento populacional desde 1992. Passou de 2.240 para 2.749. Colonizada há quase dois séculos por imigrantes alemães e italianos, a cidade reserva um potencial turístico, porém inexplorado.
O maior desafio é promover a diversificação econômica, visto que quase 90% do Produto Interno Bruto (PIB) proveem do setor primário. A precariedade do acesso, associada à distância das cidades maiores, dificulta a atração de empresas.
Travesseiro tem a segunda maior redução no número de habitantes nestes 23 anos. A população caiu de 2.607 para 2.388. O município mantém as características rurais, setor que representa cerca de 60% do Valor Adicionado Fiscal (VAF).
Influenciado pela consolidada agrícola, o comércio também se desenvolve. Na última década, o número de empreendimentos pulou de 11 para mais de 150. A indústria tem importante percentual econômico, tento no topo do ranking as calçadistas Bottero e a Cordeiro.