Paradoxos marcam os  23 anos de seis cidades

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Paradoxos marcam os 23 anos de seis cidades

Capitão, Colinas, Mato Leitão, Santa Clara do Sul, Sério e Travesseiro festejam hoje 23 anos da emancipação. Diante da autonomia política conquistada em 20 de março de 1992, as cidades tomaram rumos diferentes, seja na agricultura, indústria ou turismo. Em três, o desafio é conter a redução populacional, provocada pelo desenfreado êxodo rural

oktober-2024

Vale do Taquari – Os seis municípios somam 20,1 mil habitantes. Apenas 2,6 mil a mais se comparado ao período da emancipação. Nestes 23 anos, Santa Clara do Sul, Mato Leitão e Capitão conseguiram elevar o número de moradores. Em Travesseiro, Colinas e Sério a população reduz, exigindo mudanças nas políticas públicas para conter o êxodo. Veja variação populacional nos gráficos abaixo.

02Sério amarga o pior resultado. Desde a criação do município, 846 pessoas foram embora. Muito em decorrência da falta de opções de trabalho, associado ao precário acesso e a distância de quase 50 quilômetros da região central do Vale do Taquari.

Para inverter o panorama, o governo aposta na exploração turística. Faz dois anos que investe em cursos treinamento na área para motivar a comunidade a permanecer no interior. “Nossa saída é o turismo de aventura e explorar as belezas naturais”, entende o vice-prefeito Paulinho Aroldi.

Diante da demanda e falta de infraestrutura no município para receber turistas, há cinco meses, um grupo de cinco amigos decidiu criar uma empresa para preparar a comunidade e organizar a recepção dos visitantes. “Precisávamos de uma entidade vinculada ao turismo. Muitas pessoas queriam vir, mas não conheciam as trilhas, restaurantes e sequer sabiam a quem perguntar sobre isso”, relata um dos participantes, Moisés de Freitas, 38.

Desde então, o grupo promoveu uma série de eventos, dos quais centenas de visitantes conheceram Sério. Até o fim deste ano, dez atividades estão agendadas. Uma caminhada que ocorrerá em novembro já tem cem inscritos. “Tudo o que arrecadamos está sendo investido em equipamentos. As empresas locais são as mais beneficiadas com venda de alimentos e estadias. O nosso propósito principal não é lucrar, mas sim dar condições à cidade.”

Enquanto rotas e roteiros se fortalecem e consolidam, o retorno aos cofres públicos demora. A economia municipal permanece dependente do setor primário. Quase 95% gira em torno da atividade, sendo a maioria ligada à produção de leite, avicultura e plantio de mato.

Santa Clara do Sul é o inverso. O crescimento populacional nestas duas décadas chega a 46% (passou de 4.188 para 6.127 habitantes). Diferentes culturas se misturam a dos colonizadores do município e impactam nos costumes das famílias descendentes de alemães e italianos. A maioria chega para trabalhar na principal empresa da cidade, a Calçados Beira Rio, instalada a partir de 2010. A multinacional sucedeu a Calçados Andreza, extinta no começo deste ano após quase quatro décadas.

Trezes novos loteamentos

A chegada de novos moradores ocasiona abertura de novos loteamentos e expansão dos bairros. Santa Clara do Sul lidera os índices de construção civil do Vale do Taquari em proporção ao número de habitantes. A construção de prédios, com mais de um piso ou superiores a mil metros quadrados, é destaque em meio as dezenas de novos imóveis.

Treze loteamentos foram abertos desde 1992. Loteadores associam o desenvolvimento do setor a três fatores: proximidade com Lajeado, áreas disponíveis para construção e o empenho da comunidade com o trabalho.

Há três semanas, o eletricista Paulo Hagemanm, 51, a mulher Clair e o filho Gabriel, de quatro anos, se mudaram de Lajeado para Santa Clara do Sul. “Quando apresentei a cidade para minha família, ficaram maravilhados. Então compramos um apartamento.”

Gabriel estuda em Lajeado por falta de tempo hábil para matriculá-lo no novo endereço. “Estamos providenciando uma escola por aqui. Aos poucos, vamos nos adaptando à moradia”, cita Hagemanm.

Colinas: líder no IDH

Cidade Jardim do Vale do Taquari, Colinas figura entre os municípios que tiveram queda populacional. Mesmo assim, tem o melhor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) dentre os seis em aniversário, com Idese de 0,8.

A posição é resultado de uma reavaliação das políticas públicas feitas no fim da década passada. Em meados de 2008, a principal empresa da cidade estava em declínio e o desemprego batia na casa dos 30% da população.

Por meio da diversificação dos setores produtivos e da exploração turística, o município superou a crise e hoje sobram vagas, em especial para mão de obra técnica.

Trazida pelos imigrantes germânicos, a tradição de manter o quintal belo se tornou um dos principais atrativos para milhares de turistas de todo o Estado. Aliado a isso, o poder público oferece programações festivas em datas específicas, como Natal e Páscoa.

Terra de riquezas

Mato Leitão tem a segunda maior população, com 4.161 habitantes. O número aumentou pela metade nesses 23 anos. O crescimento fica evidente diante da construção de novas moradias, tanto no centro como interior.

A maior peculiaridade está no território: faz parte politicamente ao Vale do Rio Pardo e ao Vale do Taquari e, diante da importante ligação entre as regiões, atrai investidores. O município segue com uma das economias mais sólidas entre os seus emancipados. Indústrias de calçados e a produção primária são as principais responsáveis pela receita estimada em R$ 19,1 milhões.

O município deixa de lado a fumicultura e os ervais, que foram responsáveis pela formação econômica de um dos distritos mais produtivos de Venâncio Aires. Com a proximidade de cooperativas do Vale do Taquari, agricultores migraram para a produção de suínos, leite e aves.

Potencial agrícola

Capitão é o único dos municípios, cuja economia depende unicamente do setor primário, com crescimento populacional desde 1992. Passou de 2.240 para 2.749. Colonizada há quase dois séculos por imigrantes alemães e italianos, a cidade reserva um potencial turístico, porém inexplorado.

O maior desafio é promover a diversificação econômica, visto que quase 90% do Produto Interno Bruto (PIB) proveem do setor primário. A precariedade do acesso, associada à distância das cidades maiores, dificulta a atração de empresas.

Travesseiro tem a segunda maior redução no número de habitantes nestes 23 anos. A população caiu de 2.607 para 2.388. O município mantém as características rurais, setor que representa cerca de 60% do Valor Adicionado Fiscal (VAF).

Influenciado pela consolidada agrícola, o comércio também se desenvolve. Na última década, o número de empreendimentos pulou de 11 para mais de 150. A indústria tem importante percentual econômico, tento no topo do ranking as calçadistas Bottero e a Cordeiro.

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