Vale do Taquari – “Fora PT, Fora PT”. A manifestação popular foi clara. O grande público que foi às ruas na tórrida tarde do domingo demonstra insatisfação e intolerância com o Partido dos Trabalhadores (PT), que hoje coordena o governo federal aliado a outras oito siglas partidárias. A Brigada Militar (BM) estimou em 3,5 mil pessoas o número de participantes em Lajeado, onde a mobilização para o evento iniciou no dia 19 de fevereiro nas redes sociais.
Em cidades vizinhas, a movimentação foi menor. Mas a mensagem era a mesma. A maioria das pessoas que saiu às ruas em Estrela, Encantado e Muçum também pedia a saída da presidente Dilma Rousseff. Faixas e cartazes exigindo o impeachment após três meses de governo se destacavam sobre as demais reivindicações. Outros tantos pediam o fim da corrupção, mais investimentos em saúde, em educação e na segurança pública. O caso de corrupção na Petrobras foi lembrado.
Os lajeadenses iniciaram a movimentação antes mesmo das 15h, hora marcada para o início da caminhada. Ainda pela manhã, manifestantes organizavam faixas e carro de som. O encontro ocorreu no Parque Professor Theobaldo Dick. Um dos participantes chegou ao local com um cartaz pedindo “intervenção militar”, mas foi convencido a rasgar a proposta. “Pedimos e ele entendeu com tranquilidade”, diz o empresário Leandro Berwig, um dos organizadores.
As pessoas chegavam de todos os lados. A maioria vestia camisetas da seleção brasileira de futebol. Outros optaram por pintar o rosto com as cores verde e amarela, lembrando os “caras-pintadas” que em 1992 auxiliaram na queda do ex-presidente, Fernando Collor. “O povo unido, jamais será vencido”, entoavam no momento em que deixaram o Parque dos Dick. Ninguém portava bandeiras de partidos.
Havia pouco público para assistir à manifestação. Todo o comércio estava fechado no momento da caminhada – que durou cerca de 1 hora e 30 minutos –, com exceção de alguns bares e postos de combustível. Mesmo assim, manifestantes faziam bastante barulho com auxílio de apitos. As pessoas que apareciam nas sacadas das casas e apartamentos eram chamadas a participar. “Vem pra rua, Vem pra rua”, gritavam os participantes.
A marcha seguiu pela rua Júlio de Castilhos e depois pela Av. Senador Alberto Pasqualini. O grupo foi até a esquina com a Av. Acvat, onde iniciou o caminho de volta ao Parque dos Dick, passando pela Av. Benjamin Constant. No trajeto, alguns ensaiaram trechos do Hino Nacional. Mas os gritos contra o PT abafavam qualquer canto. “PT, Dilma e Lula – Saiam do Brasil e do planeta”, dizia uma das faixas.
Toda a passeata ocorreu de forma ordeira e com auxílio da BM e Departamento de Trânsito. Não foram registradas ocorrências. Os manifestantes respeitaram o silêncio próximo ao hospital e não interviram no trânsito da BR-386. “Se queremos respeito, precisamos respeitar”, afirmava Guilherme Cé, outro organizador da passeata.
Ministros e presidente falam
Após findar a manifestação na Av. Paulista, em São Paulo, nove ministros se reuniram com a presidente em Brasília. Durante mais de duas horas, Dilma conversou com Miguel Rossetto (Secretaria-Geral), José Eduardo Cardozo (Justiça), Aloizio Mercadante (Casa Civil), Jaques Wagner (Defesa), Gilberto Kassab (Cidades), Eliseu Padilha (Aviação Civil), Eduardo Braga (Minas e Energia), Aldo Rebelo (Ciência e Tecnologia) e Pepe Vargas.
Michel Temer, vice-presidente, participou do encontro. Mas só Rossetto e Cardozo atenderam à imprensa. O ministro da Justiça anunciou, para os próximos dias, um pacote de medidas de combate à corrupção e impunidade. A proposta, segundo ele, será encaminhada ainda em março ao Congresso Nacional. Ele não apresentou outros detalhes. Em algumas cidades, população realizou “panelaços” durante os pronunciamentos oficiais.
A presidente Dilma Rousseff concedeu entrevista só na tarde de segunda-feira. Culpa crise internacional para justificar problemas econômicos e garante que as correções em medidas sociais são necessárias. Por fim, enalteceu a luta pela democracia ao falar sobre as manifestações. “Nunca mais, no Brasil, vamos ver pessoas que manifestarem sua opinião, seja contra quem quer que seja, inclusive a presidência da República, sofrerem consequências.”