Problemas do Fies preocupam estudantes

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Problemas do Fies preocupam estudantes

Cerca de 650 alunos da Univates ainda não conseguiram acessar o financiamento

Lajeado – A dificuldade com o Fies persiste. Milhares de estudantes brasileiros enfrentam problemas para renovar ou firmar novos contratos desde o anúncio da mudança nas regras do financiamento.

04Na Univates, onde cerca de três mil alunos têm Fies, a indefinição preocupa. Estudante do primeiro semestre do curso de História, Ernesto Neto, 20, tenta conseguir o financiamento desde a abertura das inscrições, no dia 23 de fevereiro. “Me matriculei na universidade contando com o Fies”, relata.

Para conseguir o financiamento, se inscreveu em quatro cadeiras, mínimo exigido pelo Ministério da Educação e Cultura (MEC). Porém não tem condições de arcar com todo custo sozinho. “Paguei a matrícula, mas já tenho dois boletos em atraso.”

A dificuldade para ingressar no Fies fez com que o aluno pensasse em desistir do sonho de cursar o Ensino Superior. “Cheguei a simular o cancelamento por duas vezes”, lembra.

Neto acessa todos os dias o site do Fies. Ontem, pela primeira vez conseguiu entrar no sistema de cadastro. Mesmo assim, não há garantias de que o benefício será concedido. Ele também faz parte de uma comunidade em uma rede social com mais de 13 mil estudantes de todo o país que enfrentam os mesmos problemas.

Outra aluna diz ter feito a prova do Enem do ano passado apenas para conseguir o financiamento. Estudante da Univates desde 2013, tenta o Fies pela segunda vez. Na primeira foi barrada por não ter feito o exame. “Na época eu tinha me matriculado em quatro cadeiras e acabei cancelando três porque não tinha como pagar.”

Neste semestre, ela se matriculou novamente no número mínimo de cadeiras necessárias para o crédito estudantil, porém com a indefinição acabou arcando com um gasto de R$ 1,5 mil por mês. “Não sei o que vou fazer, se tranco todas as cadeira ou tento me manter em uma.”

A aluna alega que terá problemas com as duas possibilidades. Segundo ela, para se manter na faculdade, teria de pagar a mensalidade atrasada e mais uma multa. “Não tenho condição de pagar”, afirma. Porém, se cancelar a faculdade, acabará perdendo o estágio que é a fonte de renda. “Não me matriculei em tantas cadeiras porque eu quis, mas sim porque o Fies exige.”

A estudante de Direito, Valquíria Feier, 30, conseguiu nesta semana a renovação do financiamento, após insistir por quase duas semanas. “Fiquei apreensiva, pois me formo neste semestre.”

Ela abriu um protocolo para provar que tentou de todas as formas solucionar o problema e ameaçou entrar com um processo judicial caso não conseguisse a renovação. Casualmente, no mesmo dia, o sistema voltou e ela conseguiu se inscrever.

De acordo com o reitor Ney Lazzari, cerca de 300 renovações financiamento estão em aberto na Univates. Conforme Lazzari, 30% dos três mil alunos da universidade com o Fies estão com o aditamento concluído. Outros 60% estão com o processo em andamento e 10% estão parados.

Segundo ele, 350 alunos se candidataram ao Fies nesse semestre. “Em condições normais seriam uns 500, mas como ninguém consegue acessar a página o número foi reduzido”, diz.

Falta de pagamento afeta caixa

A Univates está com problemas financeiros devido à falta de pagamento por parte do governo federal. De acordo com Lazzari, 46% do caixa da universidade é proveniente dos contratos com o Fies. “Não recebemos desde o fim de dezembro.”

O reitor garante que o valor devido pela União equivale a três meses de folha salarial da instituição. Para garantir o pagamento a professores e funcionários, a universidade teve que acessar crédito em instituições financeiras.

Lazzari acredita que o governo terá de tomar alguma atitude para resolver a situação. Segundo ele, as entidades que representam as universidades comunitárias estão negociando com o governo. “Tudo indica que entraremos na Justiça contra o Ministério da Educação.”

Expansão e falta de verba

O reitor da Univates relata que a mudança de regras do Fies promovida em 2010 resultou na expansão do programa. Ocorreram redução de juros e aumento no prazo de carência e de pagamento. Segundo ele, o número de alunos com financiamento subiu de 200 mil para 1,9 milhão em quatro anos.

“Até o ano passado o MEC dizia que dinheiro não seria problema, em função do recurso que viriam da exploração do Pré-Sal”, diz. Conforme o reitor, a queda no preço do barril do petróleo inviabilizou os recursos dessa camada de petróleo.

Com isso, o governo se viu obrigado a encontrar outra fonte de recurso para o Fies, o que ainda não conseguiu. Além do Fies, a falta de recursos também atrapalha outros programas como as bolsas do CNPQ e do Ciências Sem Fronteiras. “As próprias universidades federais estão em crise e algumas nem começaram as aulas.” Entre 2010 até 2014, o custo do programa cresceu 13 vezes, saltando de R$ 1,1 bilhão para R$ 13,4 bilhões.

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