Vale do Taquari – A corrupção na Petrobras, aliada aos aumentos no custo de vida provocados por decisões do governo neste início de ano, alimentam a insatisfação do povo. Protestos ganham as ruas do país. Seja para defender a liberdade de expressão, a democracia e a maior estatal brasileira, ou para criticar governantes, a corrupção e pedir a saída da presidente Dima Rousseff.
Na região, grupos organizam manifestações. Moradores de Encantado, Estrela, Muçum e Lajeado organizam passeatas. Diante da crise de credibilidade da presidente e do Partido dos Trabalhadores (PT), vozes ecoam pedidos de mudanças. Alguns grupos defendem, inclusive, a volta dos militares no poder. Outros pedem o impeachment da presidente.
Em Porto Alegre e em outras 25 capitais do país, essa sexta-feira foi marcada por manifestações convocadas pela Central Única dos Trabalhadores (CUT). Apesar da ligação histórica com o PT, a CUT critica as decisões de ajustes fiscais. O ato, organizado em resposta às manifestações marcadas para domingo (em muitas cidades vinculadas ao pedido de impeachment), também defende a democracia, a Petrobras e pedem a reforma política.
Com o país rachado, sobram ofensas. Quem defende o governo virou “Petralha”. Para esse segmento, os outros são “Coxinhas”. Para o jornalista e professor universitário, Militão de Maya Ricardo, essa divisão da população é ruim. “Em vez de conversarmos, estamos serrando os punhos. Assim não conseguiremos nada de positivo.”
Atribui a esse momento de acirramento a péssima atuação da classe política. “Eles defendem seus próprios interesses e de seus financiadores.” Sobre a desaprovação do povo frente às decisões da presidente, o professor relembra a campanha política do ano passado. “Temos um governo que realiza ações contrárias daquilo que falou durante as eleições.” Com a alta no custo de vida, a inflação e a possibilidade de recessão, todas as classes sociais percebem a turbulência no país, diz Ricardo.
Disputa entre grupos políticos
Professor na ESPM e Unisinos, o cientista Político Bruno Lima Rocha ressalta a atuação de grupos distintos na convocação dos protestos e no cenário político nacional.
Parte dos atos pelo impeachment seria organizada por pessoas ligadas a entidades como a fundação Koch e o instituto Millenium. “São organismos já conhecidos, que transmitem ideias neoliberais e conservadoras.”
Por outro lado, em uma análise macro, os movimentos da esquerda organizada perceberam a necessidade de se posicionar em defesa da democracia, mas com críticas às políticas econômicas implementadas pelo governo. Para ele, quanto maior for a tensão e menos organizada estiver a sociedade, a chance de uma reação descontrolada aumenta.
Conforme Rocha, ainda não se sabe quais grupos podem se beneficiar com a situação atual. “Pode ser que os grupos de esquerda se alinhem a um outro projeto e integrarem uma frente eleitoral unificada de oposição ao governo e à direita ideológica.”
O pesquisador considera que a tendência na relação entre o Executivo e Legislativo é de paralisia. “O Congresso está em pé de guerra com o governo e isso inclui a base aliada”, reforça.
Segundo Rocha, tanto Eduardo Cunha na presidência da Câmara quanto Renan Calheiros no Senado ícones dessa relação. Porém ressalta que esse conflito não ocorre pela defesa da população e sim pelos interesses próprios dos parlamentares.
Leis severas contra a corrupção
A juíza eleitoral do Fórum de Lajeado, Carmen Luiza Rosa Constante Barghouti, também mostra preocupação diante da polarização de grupos da sociedade. Relembra discursos adotados após a votação do ano passado. “Alguns não se conformaram com o resultado. Houve uma cisão. Algumas afirmações preocupantes surgiram. Gente culpando o Nordeste pela reeleição. Isso me preocupou, pois precisamos consolidar a nossa democracia.” Para a magistrada, o maior inimigo do país é a corrupção. “Temos de combater isso. Com leis severas e penas exemplares.”
Caso Collor
Em 1992, o primeiro presidente eleito pelo voto direto respondeu por processo de impeachment. Os escândalos e as suspeitas de corrupção culminaram com o pedido de renúncia de Fernando Collor de Mello.
Com tantas evidências, o Congresso Nacional nomeou uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI). No dia 29 de setembro, cerca de cem mil pessoas acompanharam a votação do impeachment, aprovado tendo 441 votos a favor e 38 contrários.
O primeiro presidente eleito pelo voto direto prometia “caçar os marajás”. Ficou menos de dois anos à frente do Palácio do Planalto. Em um pronunciamento, Collor pediu ao povo para que saísse as ruas de verde e amarelo, em defesa do país. Mas a população se pintou de preto. O movimento ficou conhecido como o protesto dos caras pintadas.
Fato histórico
O dia 15 de março está na história brasileira. Foi nesta data que três presidentes da República assumiram o posto durante o período conhecido como Ditadura Militar, que perdurou entre 1964 e 1984. O primeiro deles foi o general Arthur da Costa e Silva que tomou pose no dia 15 de março de 1967. Depois dele foi a vez de Ernesto Geisel, também general, assumir o mais importante posto do Brasil no dia 15 de março de 1974. Por fim, em 1979, João Baptista Figueiredo também foi empossado neste dia.