Preços disparam e economistas sugerem cautela

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Preços disparam e economistas sugerem cautela

Comparativo nos últimos 12 meses dimensiona o encarecimento dos preços nos principais setores: alimentação, energia elétrica e combustíveis

Vale do Taquari – Levantamento realizado pelo jornal A Hora, com base nos preços praticados nos últimos 12 meses, mostra discrepância entre custos e receita do trabalhador (veja ao lado). De acordo com análise do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), o salário mínimo nacional necessário para o equilíbrio das finanças familiares deveria ser quatro vezes maior, saindo de R$ 788 para R$ 3,2 mil.

04A maior proporção dos ajustes ocorre na energia elétrica. Com base no índice anual de inflação (IGPM), deduzida a produtividade que atualiza os custos diretos da distribuidora e reembolsos relativos a 2013, a Aneel concedeu reajuste médio de 29,5% para a AES Sul em abril do ano passado. Foram 28,8% para residências e 30,3%, indústria e comércio.

Com isso, somado a outros tributos implantados no período, a conta de luz que era R$ 137,24 passou para R$ 199,77 – tomando como base o consumo de 362 quilowatt-hora (kWh). Em fevereiro, a Aneel homologou o reajuste extraordinário, provocando encarecimento médio de 39,5%, sendo 36,2% para moradias e 41,7% para comércio e indústria.

A nova tarifação ainda não refletiu na conta mensal, pois entrou em vigor na segunda-feira e é aplicada de forma proporcional, de acordo com a data de leitura do consumo de cada cliente. As primeiras faturas reajustadas chegarão em abril.

Nesta semana, também passaram a ser cobrados os novos valores das bandeiras tarifárias. A amarela passa de R$ 1,50 para R$ 2,50 a cada 100 kWh consumidos. A vermelha (em vigor) passa de R$ 3 para R$ 5,50 no mesmo índice de consumo. A verde indica condições favoráveis de geração de energia elétrica e não tem nenhum custo adicional.

Por outro lado, a Certel Energia teve redução do preço na revisão tarifária da Aneel feita em 25 de junho do ano passado. A agência aumentou os encargos à cooperativa e determinou queda do índice. Se comparado ao mesmo período do ano passado, a conta baixou 9,3%. Mas haverá novo reajuste no dia 25 de junho, percentual a ser definido pela agência nacional.

Alimentação está mais cara

Dos 13 alimentos avaliados pelo Dieese para a cesta básica, nove encareceram se comparado ao mesmo período de 2014. Tal fato forçou um aumento de R$ 240,61 para R$ 251,37. A pesquisa do A Hora considera os preços divulgados pela Associação Gaúcha de Supermercados (Agas).

A batata inglesa lidera o ranking. O produto está custando 27% a mais em relação à fevereiro do ano passado. A baixa produtividade é o principal motivo. Na sequência está a carne bovina. A paleta, por exemplo, teve incremento de 17,6% no mesmo período.

Combustíveis sobem e impulsionam aumentos

Todos os combustíveis encareceram se comparado a fevereiro do ano passado, com destaque para a gasolina. De acordo com a média de preço nos postos de Lajeado, o litro passou de R$ 3 para R$ 3,38: incremento de 12,6%. O litro de óleo diesel saiu de R$ 2,54 para R$ 2,82. Enquanto isso, o de álcool/etanol foi de R$ 2,57 para R$ 2,69.

Os aumentos refletem de forma direta em todo o mercado, visto que a produção de alimentos e a distribuição no país estão dependentes do transporte rodoviário e do uso de combustíveis fósseis. Os fretes foram reajustados em 15% e, diante dos recentes protestos de caminhoneiros, a tendência é de mais elevações.

A inflação oficial do país atingiu 1,22% no mês passado, muito em função da gasolina. A alta mensal foi a mais forte para os meses de fevereiro desde 2003, quando o índice subiu 1,57%. Isso fez com que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acumule alta de 7,7% desde fevereiro do ano passado – maior desde 2005, quando chegou a 8%. O patamar supera o teto da meta do governo federal, de 6,5%.

Líder mundial em juros

O país reassumiu a liderança no ranking mundial de juros reais, nessa quarta-feira, após o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) anunciar o quarto aumento consecutivo nos juros básicos da economia. Subiram de 12,25% para 12,75% ao ano, o maior patamar desde 2009.

Com a elevação da taxa de juros, o BC espera controlar o crédito e o consumo e, assim, segurar a inflação. Mas segundo especialistas, ao deixar o crédito e o investimento mais caros, prejudica o crescimento da economia.

Os juros reais são calculados depois do abatimento da inflação estimada para os próximos 12 meses e são a principal forma de comparação entre os países. De acordo com estudo divulgado pela consultoria MoneYou, o país tem juros reais de 5,3% ao ano. Está à frente da China e Índia, segundo e terceiro colocados, que tem 3,18% e 3,17%, respectivamente.

“A prudência e o planejamento devem fazer parte do cotidiano”

Bacherel em Ciência Econômicas e coordenador do curso de Ciências Contábeis da Univates, Ari Kunzel avalia o cenário econômico brasileiro e orienta famílias e empresários a evitar problemas financeiros.

A Hora – A indústria alcançou grande patamar de crescimento nos últimos anos. Mas o cenário mudou e ela enfrenta um período de recessão. Quais fatores foram determinantes para isso?

Ari Kunzel – A política de fomentar o crescimento do consumo pelo mecanismos de crédito aumentou o endividamento das famílias, com a aquisição de casa própria, automóveis, móveis e eletrodomésticos, esgotando a capacidade de endividamento por anos.

Com o aumento dos juros, restrições ao crédito, uma quebra do nível de confiança, a tendência da população é frear o consumo. Segundo a Anfeava, a queda de produção de automóveis se comparada a fevereiro de 2015 em relação a fevereiro de 2014 foi de 28,9%, caído ao patamar de produção de 2009.

A Hora – Como o senhor analisa as políticas fiscais do governo? Elas são resultantes, de alguma forma, da ineficácia de gestões passadas ou de algum erro de planejamento da União?

Kunzel – Falta uma estratégia a longo prazo para enfrentar os problemas. As políticas de crédito são ações de curto prazo, que acabam privilegiando alguns setores e não é uma solução duradoura.

O aumento do consumo com recursos públicos faz com que sejam necessários cortes de recursos para os programas sociais e investimentos em infraestrutura que podem promover o desenvolvimento.

A falta de planejamento e um controle mais efetivos dos gastos perpassa as esferas Federais, Estaduais, Municipais, assim como nas empresas e famílias.

A Hora – Quais os impactos desse risco de recessão, inclusive diante de seguidos aumentos no custo de vida, podem causar no mercado? Pode atingir de forma direta o setor empresarial e a economia familiar?

Kunzel – A produção de alimentos e a distribuição no Brasil estão dependentes do transporte rodoviário e do uso de combustíveis fósseis. O aumento de itens essenciais ou que implica na cadeia industrial da maioria dos produtos, tende a consumir parte da renda que poderia ser utilizada para o consumo de bens duráveis como os automóveis e eletrodomésticos.

Nos últimos dias, observei algumas manifestações de setores criticando a situação da economia, mas logo adiante se aproveitando da situação e aumentando os preços de produtos e serviços.

A população precisa rejeitar esses produtos, buscando alternativas de substituição para não compactuar com os abusos. Adiar a compra, substituir as produtos e marcas, procurar outro profissional são algumas opções.

A Hora – O que é importante frisar aos empresários e chefes de família diante de tal cenário?

Kunzel – Há duas formas.Uma é buscar alternativas, investindo mais na produção e em novos mercados. A outra, reduzindo investimentos, gerando redução de pessoal e de produção. A primeira alternativa leva a uma superação das dificuldades a médio prazo. A segunda, leva à recessão. A prudência e o planejamento devem fazer parte do cotidiano da empresa e da família.

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