Protesto ganha força e entregas atrasam

Você

Protesto ganha força e entregas atrasam

Fretistas reclamam da alta no preço do diesel, das condições deficitárias das estradas e da alta carga tributária. Manifestantes querem reajuste no valor do frete, estagnado faz seis anos

Vale do Taquari – O protesto dos caminhoneiros avança por 11 estados, chama a atenção para a desvalorização da categoria e causa temor econômico. São mais de 50 trechos nas rodovias gaúchas, com bloqueios total ou parcial.

Na região dos vales, motoristas protestam na BR-386, em Lajeado, e nas rodovias estaduais ao longo de Muçum, Arvorezinha e Venâncio Aires. O fim do movimento depende de resposta do governo federal.

03A maior reclamação da categoria é o baixo preço do frete, ainda menor devido ao aumento do custo do diesel, pedágios, pneus, manutenção e tributos. Dirigentes de setores afetados pela paralisação pedem solução ao governo e recorrem à Justiça para retomar as atividades e reduzir as perdas. Ontem, a Justiça Federal determinou a desobstrução de três rodovias federais na região sul.

Sem transporte, estoques das indústria aumentam e as prateleiras do mercado se esvaziam. A indústria de aves e suínos fica sem rações para alimentar os animais. A produção diminui e corre o risco parar. Alguns postos de combustíveis do país já registram falta de gasolina comum.

Caminhões carregados de pneus, grãos, couro, combustíveis, ração, carnes e doces formaram filas por cerca de um quilômetro em cada sentido da ERS-130, ontem, em Muçum. Durante o ato, carga viva e produtos perecíveis foram liberados, exceto aqueles em ambientes refrigerados.

Hoje, a greve segue o cronograma: paralisação das 7h às 19h, com intervalo ao meio-dia. O movimento é organizado pela Associação dos Motoristas do município. Com 43 anos de profissão, o empresário Jorge José Botassoli, 63, atesta: “os caminhoneiros estão endividados.”

Segundo ele, a categoria precisa de nova tabela de preços. “Ganhamos o valor de seis anos atrás. Não há mais como manter isso com o preço do diesel e outros encargos.” A margem de lucro, diz, é inferior a 10%. O movimento também ganhou apoio dos agricultores, insatisfeitos com os preços de combustíveis, pneus e impostos.

Carta-frete

Com dificuldades financeiras, caminhoneiros são obrigado a aceitar o baixo preço do frete para pagar contas no fim do mês. “Não sobra nada”, lamenta o motorista Paulo Riedi, 32. Por vezes, ganha a carta-frete como pagamento.

É um papel entregue aos caminhoneiros pelas empresas contratantes, como pagamento. O documento é trocado em determinados postos de combustíveis, por diesel, alimentação e hospedagem, sempre inflacionados.

Para o fretista Leivandro Rossato, 29, de Dois Lajeados, a população precisa perceber a atual situação econômica. “Custos sobem, mas salários não.”

Indústria contabiliza prejuízos

Até o fim de semana, o consumidor sentirá nas prateleiras dos supermercados os efeitos dos protestos. De acordo com a Associação Gaúcha de Supermercados, os bloqueios afetam primeiro a entrega de hortigranjeiros e carne.

Com a carga de animais liberada para transporte, o suíno chega às indústrias para o abate. Mas com o atraso na entrega do produto final prejudicada, os estoques aumentam. Diminui o abastecimento nos supermercados.

Não há como parar a produção, de acordo com a coordenadora de logística da Cosuel, Jerusa Sangalli. “O suíno não pode ficar no campo. Tem que ser abatido.” Segundo ela, caminhões da empresa estão parados desde quinta-feira, no Paraná, enquanto o estoque cresce a cada dia.

A temperatura do refrigerador dos caminhões cai 2oC por dia e ameaça deterioração da carne. Os prejuízos aumentam pelo preço do combustível: o veículo parado precisa estar abastecido para manter o refrigerador.

Segundo Jerusa, o problema se intensifica na próxima semana. Nesse período, diz, haverá maior necessidade de transporte pelo aumento do consumo. “Pode haver desabastecimento e aumento geral dos preços no mercado.”

Para o diretor do Sindicato das Indústrias de Produtos Suínos, Rogério Kerber, o embarque de produtos para exportação também é afetado. “Isso representa o comprometimento de contratação de logística marítima e gera prejuízos de milhões de reais.”

O mais preocupante, segundo Kerber, é a obstrução na passagem dos caminhões com ração. “Se ela não chegar em algumas horas, a produtividade fica comprometida.”

O produtor Mauro Gobbi diz que a situação está preocupando todo o setor. “Muitos produtores, se não estão, sentirão os reflexos da greve, pois vai faltar matéria-prima como soja e milho para a composição da ração, além de medicamentos e outros itens necessários para a granja”, ressalta Gobbi, que também é vice-presidente da Acsurs.

Produção leiteira

Faltam caminhões no pátio da Languiru. “A maioria está na estrada”, lamenta o supervisor administrativo, Dirceu Schulte. Tanto os que tentam retornar à indústria, como os carregados com leite longa vida ou carne. “O caminhão sobrou estamos segurando.”

Segundo Schulte, mercados de Santa Catarina e do Paraná estão sem receber produtos desde o fim da semana passada. O litoral fica desabastecido a partir de hoje. Enquanto isso, diz, a produção não para. “Logo não teremos lugar para estocar.” Segundo ele, algumas plantas da Languiru do Estado diminuem a produção por falta de insumos.

De acordo com o presidente do Sindicato da Indústria de Laticínios do Rio Grande do Sul, Alexandre Guerra, as indústrias estão com 80% da capacidade ociosa. “Há indústrias paradas. Trabalhamos com produtos perecíveis, que não podem esperar o dia seguinte.”

Sem recolhimento de leite, cooperativas e agricultores da região noroeste são obrigados a jogar fora o leite. Não há espaço para estocar o produto, além de caminhões carregados de leite que estão parados nas rodovias gaúchas.

Produção suspensa

Afetadas pela greve dos caminhoneiros desde a semana passada, indústrias de alimentos, agricultores e pecuaristas do Paraná e de Santa Catarina suspendem a produção por causa dos bloqueios.

No Paraná, Frimesa e a Lacto deixam recolher leite a partir de hoje. Só a Frimesa recebe cerca de 840 mil litros de leite de cinco mil produtores. Frigoríficos em três cidades encerraram o abate de aves. Entre elas, a BRF. Em Santa Catarina, Aurora Alimentos parou a produção abates.

Na Central de Abastecimento do Paraná (Ceasa) em Foz do Iguaçu, alguns produtos hortifrutigranjeiros também começaram a faltar. Metade do que chega é descartada.

Acompanhe
nossas
redes sociais