Reforma da escadaria atrai turistas e investimentos

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Reforma da escadaria atrai turistas e investimentos

Município encaminha nova etapa de recuperação da orla. Único barqueiro a manter a travessia de passageiros pelo Rio Taquari percebe na ascensão do turismo a chance de ampliar os negócios

Estrela – Diante da escadaria onde embarcou em um vapor para conhecer Porto Alegre, o artista plástico Sérgio José Werle, 57, retrata na parede do antigo prédio da Polar a fachada da Agência de Navegação Arnt. A empresa foi fundada pelo primeiro barqueiro da região, Jacob Arnt. Era a maior das cinco companhias especializadas em levar pessoas e mercadorias pelo Rio Taquari, entre a região e a capital.

02A pintura integra a recuperação do cenário da Escadaria da Rua da Praia, atual rua Arnaldo Diel, inaugurada em 1924 e abandonada no auge da cervejaria, há 40 anos. Aos poucos, o espaço vira atração turística: chama a atenção dos estrelenses no fim da tarde e indica mudança no turismo do Vale do Taquari.

Werle ainda restaura duas estátuas, retiradas do local com o fechamento da via, em 1974. As peças representam a indústria e o comércio da cidade. Segundo o artista, serão repostas no local original até o fim do mês. Pela proposta da administração, ainda será construído um pier.

A escadaria era chamada de Porta de Estrela até a metade do século 20. Da estrutura original, 28 degraus de laje e um pier de concreto permanecem submersos devido à construção da barragem de Bom Retiro do Sul. O recuo das margens tirou dos estrelenses a praia.

Em ambos os lados da escadaria, dois carrinhos atrelados a trilhos transportavam mercadorias. Das margens do rio, vinham manufaturados: chinelos, tecidos e pó de arroz; ao rio, produtos coloniais: melado, ovos e linguiça.

A Navegação Arnt estocava alimentos e insumos para revenda a armazéns e indústrias, entre elas, a Polar. Também havia as casas de trapiches, comércios intermediadores desses produtos para armazéns. Ainda restam o muro frontal e a base de concreto de um deles.

As reformas abrem possibilidade a novos investimentos para atrair turistas. “O município está prestes a formar um extenso roteiro turístico”, afirma o vice-prefeito de Estrela e coordenador da Central de Projetos, Valmor Griebeler.

Uma turma de formandos do curso de Turismo da La Salle, de Estrela, conclui trabalho para propor roteiros, com a escadaria de centro. Entre as sugestões, estão passeios de barcos de turismo, com atrações temáticas e gastronomia durante o trajeto até Encantado, com paradas ao longo do caminho.

Barqueiro mantém tradição familiar

Trapiches e agências foram substituídos com a construção da ponte sobre o Rio Taquari e a BR-386. O avanço dos veículos tomou o espaço da navegação. No entanto, a tradição de transportar pessoas pelo rio foi mantida por uma família.

Graças à promessa feita ao avô, Roberto Petter, 29, assumiu o posto deixado pelo pai. Conhecido como o Barqueiro de Estrela, atravessa passageiros de Estrela até o bairro Passo de Estrela, em Cruzeiro do Sul, antigo ponto de atracagem da balsa. No local, há ruínas de um antigo hotel, utilizado por mercadores e viajantes.

A travessia de 450 metros dura cinco minutos. O trajeto pela estrada é de 12 quilômetros. Petter faz, em média, 15 viagens por dia.

Ao optar pela travessia de barco, o vendedor Samuel dos Santos, 23, ganha tempo e economia. De motocicleta, levava cerca de meia hora para percorrer o trajeto entre Estrela, onde trabalha, até Cruzeiro do Sul. “Sem contar os riscos de andar na BR-386”, diz.

Quando a única opção era o transporte de ônibus, a demora passava de uma hora. Quem percorre a distância entre os municípios, diz, precisa enfrentar uma rotina cansativa: esperar por ônibus em Estrela, entrar em Lajeado e de lá esperar outro coletivo para casa.

Hoje, a espera pela embarcação é inferior a cinco minutos. “Quando chego na escada ele me vê e já vem buscar”, comemora. Não há horários pré-definidos. Para procurar pelo serviço, passageiros devem esperar na margem ou acenar quando avistar o barco azulado. A passagem custa R$ 4.

A embarcação com espaço para 12 pessoas foi comprada pelo pai e o avô, em 1988, para atender a demanda de funcionários da Polar. Logo, um tio entrou na associação. Na época, disputavam fregueses com canoeiros. O movimento era tanto, segundo Petter, que era preciso uma pessoa só para cobrança.

Com investimentos na nova escadaria, o barqueiro ganha mais um ponto de atracagem. Espera aumentar o número de passageiros e já projeta investimentos. Enquanto isto, o ex-mecânico de motocicletas reforma o barco, desgastado pelo tempo, e tem planos de comprar outro, maior. Gosto de paz e tranquilidade. Para encontrar isso hoje em dia, só no rio mesmo.”

A recuperação da orla

Investimento de R$ 102 mil, a reforma da escadaria é o início do projeto para recompor a orla do Rio Taquari. Para viabilizar a próxima etapa, a administração atualiza o orçamento e começa a captar recursos.

Estão previstas a construção de uma central de informações turísticas, banheiros e um café. Pela proposta, a área verde no entorno será transformada em jardins com bancos. O mirante, a 30 metros da escadaria, será recuperado.

O investimento deve passar de R$ 300 mil. Griebeler vai a Brasília no fim do mês para buscar convênio. Uma das possibildiades é nova emanda parlamentar do deputado Marco Maia (PT), que anunciou interesse.

O município também inicia discussão para construir uma passagem que liga as duas escadarias. No entanto, ainda não há projeto. A iniciativa depende de um estudo ambiental.

Seria uma espécie de ponte de metal ou madeira presa às rochas. Espaço construído em 1975 para expor as estátuas retiradas da rua da Praia, a escadaria da rua Chachá Pereira, esquina da Júlio de Castilhos, foi reformada entre 2013 e o ano passado. A calçada foi refeita, os degraus, azulejados e os muros receberam desenhos.

Outra proposta do município é a recuperação do Parque Municipal da Lagoa, conhecido como “Buraco dos Cachorros”. A ideia é transformar o parque em uma marina.

Rota turística

Estrela será ponto de partida de uma rota do trem turístico. A primeira viagem que liga o município a Guaporé deve ocorrer neste semestre. O passeio passa por Dois Lajeados, Muçum, Colinas, Vespasiano Corrêa e Roca Sales. O projeto usará o trajeto da antiga Ferrovia do Trigo, construído na década de 1970.

O passeio deve durar de duas a três horas. O início das operações será feito com uma litorina, espécie de trem pequeno constituído de apenas um vagão com motorização própria.

A operação será feita pela empresa privada Serra Verde Express, que já opera linhas turísticas em três estados. Ainda não há previsão do valor do passeio. A linha tem cerca de 60 quilômetros e passa por 33 túneis e 17 viadutos. O investimento é de cerca de R$ 1 milhão, vindos dos municípios que oferecerão o serviço.

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