Banhistas ignoram placas e perigo

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Banhistas ignoram placas e perigo

As placas e os guardas que monitoram a eclusa não impedem as práticas imprudentes de banhistas que ignoram o perigo e se arriscam nas águas do Rio Taquari. Tomam banho a poucos metros das turbinas da barragem.

Com os pés molhados, um adolescente se equilibra sobre o motor elétrico de um guindaste e salta no Rio Taquari. A queda livre é de 21 metros, mais os cinco de submersão na Barragem da Eclusa, cartão-postal do município.

03Nesse tempo, outro escala o guindaste. Para subir, apoia-se em uma placa que indica o perigo: “É expressamente proibido o banho.” Outras três placas foram ignoradas no caminho.

A irmã de um deles assiste à cena, temerosa. “Um guri saiu da UTI na semana passada. Já está se alimentando”, diz. “Caiu errado junto com um amigo. Mas o outro só machucou a cabeça.”

Os saltos são subsequentes, com a disputa da melhor pirueta. Só terminam com a perda do fôlego. Os jovens dizem não haver perigo. Permitem ser fotografados. “Nossos pais sabem que estamos aqui”, atesta um deles, enquanto mostra na perna a marca de um salto mal-sucedido. “É. Às vezes as coisas dão um pouco erradas.”

A eclusa é um elevador de concreto, com a função de transpor embarcações onde há um desnível provocado pela construção da barragem. Quando a embarcação passa de um ponto para o outro, tubulações jorram água na eclusa para nivelar o caminho.

Durante este processo, o risco de morte para os banhistas é maior, alerta o encarregado pela barragem, Mauro Garcia. “Em determinado momento, há tanto movimento das águas que a pessoa é arrastada e não consegue mais nadar.” É inútil alertar os banhistas sobre o perigo, lamenta. “Quero dar conselhos, mas sou destratado.”

Garcia afirma ter perdido a conta de quantas pessoas foram resgatadas ou ficaram com sequelas. Já viu um morrer por subestimar o rio. Segundo ele, o perigo não se resume à turbulência do rio: os banhistas estão à mercê de galhos e troncos, que seguem o leito do rio e se escondem sob a superfície espumosa. “Se acertar a cabeça, morre na hora.”

De acordo com o vigilante César Augusto da Silva Martins, 23, não há o que fazer para impedir os banhistas de se arriscarem. Os saltos só param quando a Brigada Militar (BM) chega. “Aí se sentam por aí. Mas quando a viatura vai embora, continuam a saltar.”

Segundo Martins, dezenas de banhistas se reúnem na barragem durante o fim de semana. O número cresce a cada verão.

Números evidenciam perigo

Duas pessoas morreram afogadas na barragem, em 2013, de acordo com o Corpo de Bombeiros de Estrela. Conforme o soldado Patrick Dutra, 23, não há dicas para prevenção de mortes. “Ninguém deve saltar. De forma alguma.” Para o banhista morrer, diz, basta um salto de 15 metros de altura. “Dependendo do jeito que cai na água.”

De acordo com o bombeiro, um resgate por populares é inviável na eclusa. O problema, alerta, é o tempo de reação que a pessoa pode ter para o salvamento e a falta de habilidade para agir nesse tipo de estrutura. “Até a pessoa ver que alguém está se afogando e tentar chegar ao local já é tarde.”

Segundo Dutra, é preciso muito treino e condição física para retirar alguém da eclusa. O problema se agrava devido à profundidade do local, cerca de cinco metros. “Não terá alguém habilitado pra salvar.”

O comandante da corporação, tenente André Rodrigues de Oliveira, lamenta a falta de consciência dos banhistas. “O Estado não tem como fiscalizar todos. A população tem que buscar locais onde há condições para o banho”, afirma.

Além dos dois mortos em Bom Retiro do Sul, três morreram em Estrela. Em 2012, foram três mortes: uma em Estrela, uma em Colinas e outra em Teutônia.

A eclusa

A obra da Barragem Eclusa de Bom Retiro do Sul iniciou em 1959, com a previsão de estar concluída em cinco anos. Quatro pilares foram erguidos no rio. A construção ficou paralisada por dez anos.

Após esse período, o governo federal retomou as obras durante o governo do presidente Arthur da Costa e Silva, natural de Taquari, que entendeu a importância da barragem eclusa para a navegabilidade no Estado.

A conclusão ocorreu em 1977, com inauguração do então presidente Ernesto Geisel. A barragem permite a navegação entre o Porto de Rio Grande e o Vale do Taquari, uma distância de 432 quilômetros.

Riscos de queda

Os riscos começam já no contato com o guindaste, de acordo com o médico e coordenador do SOS Unimed, André Berner. Em caso de falha no sistema de isolamento da eletricidade, diz, é possível haver choque. “Por si só, desencadear o óbito, sequela temporária ou permanente.”

Segundo Berner, o fato de a pessoa estar molhada aumenta os riscos de queda, o que resulta no trauma direto e, por consequência, afogamento ou morte instantânea.

Um mergulho mal calculado, informa, pode causar traumatismo craniano, da coluna, ou de pernas e braços. A queda errada na água também pode acabar em trauma torácico e/ou de abdome, atesta. “Como consequência, teremos possíveis sequelas neurológicas, paralisia das pernas e braços.”

O choque da cabeça, em alguma superfície ou até objeto submerso, faz com que o pescoço seja dobrado ao mesmo tempo em que o resto do corpo continua a se mover, provocando a fratura de uma das vértebras.

De acordo com a enfermeira do SOS, Caroline Cerutti, o socorro é fator determinante para o não agravamento do trauma. “O atendimento deve ser feito por equipe especializada, com a imobilização adequada da vítima e retirada da água o mais breve possível.”

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