Câmara tem segurança para conter excessos

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Câmara tem segurança para conter excessos

Acirramento dos debates nos últimos dois anos culmina em agressões no parlamento

O Legislativo adota medida controversa para conter os ânimos de vereadores e do público presente nas sessões. Desde terça-feira, 3, dois seguranças privados passam a acompanhar as reuniões dos parlamentares, na tentativa de evitar que os debates terminem em agressões verbais ou físicas.

04A medida foi definida pelo presidente da câmara, Nilson Lang (DEM). Segundo ele, ao longo dos últimos dois anos, a disputa entre situação e oposição se acirrou até culminar na confusão registrada na última sessão de 2014, quando dois vereadores se agrediram.

A repercussão gerada pelo caso causou constrangimento ao Legislativo. Lang afirma que a imagem da câmara ficou manchada, tanto para a comunidade local como em outros municípios do Vale. “Foi motivo de notícia e virou chacota.”

Porém lembra que o desrespeito entre colegas era comum nas reuniões e acaba incluindo o público. “A própria comunidade engrossava a confusão com gritos e xingamentos durante as sessões”, relata.

O presidente não fala em valores, mas diz que o custo da contratação é irrisório perto do benefício com o serviço. Segundo ele, quando a ordem for restabelecida no plenário, a segurança será dispensada.

Vereador da oposição, João Batista Ferreira (PMDB) acredita que a segurança é desnecessária, mas concorda que a situação estava descontrolada no plenário. “Fui a maior vítima das ameaças e ofensas proferidas na câmara”, alega.

Para Alessander Negreiros Fristscher (PSB), a contratação é válida. “Infelizmente chegamos a um ponto crítico”, Reforça. Segundo ele, os vereadores não cumprem o papel de ser exemplo para os cidadãos.

Já Airton Giacomini (PDT) acha um absurdo uma medida como esta ser tomada em um município pequeno. “Os vereadores precisam ter caráter e mostrar trabalho ao invés de ficar brigando”, sentencia.

Servidor da câmara desde 1997 e hoje diretor do órgão, Édson Jair Pereira assegura que a adoção de seguranças é prerrogativa legal do presidente do Legislativo. A ação está prevista no artigo 5° do regimento interno, para casos em que seja necessário manter a ordem no plenário.

Conforme Pereira, nunca houve casos como os registrados nos últimos anos durante o tempo em que acompanhou os trabalhos do parlamento. “Faltei apenas uma sessão em 18 anos. Hoje chegamos ao ponto mais baixo.”

Para o diretor, medidas para disciplinar os trabalhos eram necessárias. Além da segurança, foi adquirido um cronômetro eletrônico no valor de R$ 5 mil para controlar o tempo de fala dos parlamentares.

“Antes disso os discursos duravam meia hora e a partir deles começavam as discussões”, relata. Segundo Pereira, os problemas seriam resolvidos se o regimento interno fosse seguido à risca pelo Legislativo.

Menciona o limite de tempo de cinco minutos para o expediente e justificativas pessoais, e de três minutos para os líderes de governo e partidos, previsto no texto. Segundo ele, as novas regras garantiram tranquilidade na primeira sessão de 2015.

Desavenças prosseguem

Os dois vereadores envolvidos na briga do ano passado divergem sobre o caso. Éder Cíceri (PSB) e José Moisés da Rosa (PTB), o “Zé Galinha”, registraram ocorrências na polícia com acusações mútuas de agressão.

O caso aconteceu no dia 9 de dezembro. Na época, Rosa era o presidente do Legislativo. Hoje, ele lamenta fazer parte deste período da câmara. “É uma baixaria”, afirma. Segundo ele, a atitude de colocar segurança no plenário é lastimável. “Nunca ouvi falar em algo parecido na história do Vale.”

Cíceri defende a vigilância no plenário, dizendo que a medida traz paz à instituição. Para Zé Galinha, a situação começou a sair do controle devido à agressividade das críticas vindas da oposição. “Saíram do campo político e passaram para agressão verbal”, fala.

O oposicionista João Ferreira diz que as agressões partiam da presidência da câmara e de Ccs do governo que acompanhavam as sessões para confrontar a oposição. “É um caos.”

Comissão de Ética

Para o sociólogo e professor da Universidade de Santa Cruz do Sul, Cesar Goes, a adoção de seguranças privados no parlamento causa constrangimento. Ele avalia a medida como lamentável, pois afeta a autonomia da instituição. “O plenário é chão sagrado e a contratação de vigilância cerceia o exercício da democracia.”
Conforme Goes, as agressões entre vereadores não são novidades no país. Mesmo assim, não lembra de uma situação em que o descontrole em uma câmara municipal tenha resultado na contratação de vigilantes. “Podemos estar diante de algo inédito no Brasil.”

Segundo ele, o problema deveria ter sido resolvido dentro da esfera parlamentar, por meio da criação de uma Comissão de Ética para avaliar os excessos cometidos na câmara. “Briga no plenário é caso disciplinar e deve ser tratado como tal.”

O professor acredita que a medida é ainda pior em um momento econômico desfavorável. Para ele, representa um gasto desnecessário em tempos de recessão.

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