Combustível sobe acima do previsto

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Combustível sobe acima do previsto

Cobrança de Pis e Cofins deixa combustíveis mais caros na região. Procon fala em abuso. A diferença no valor cobrado por litro de diesel e gasolina varia de R$ 0,11 a R$ 0,40. O aumento é reflexo da cobrança de Pis e Cofins, anunciado no início do ano pelo governo federal.

Motorista de caminhão autônomo, Orlando Webber Júnior, 43, já previa um reajuste nos preços, mas se assustou com a diferença cobrada de um dia para o outro. “Com o mesmo valor, tenho cerca de cinco litros a menos no tanque.”

04Para Webber, profissionais como ele são os que mais sofrem os impactos do reajuste, uma vez que as transportadoras podem repassar o aumento para os clientes. “Continuaremos recebendo o mesmo, mas termos mais custo.”

O caminhoneiro alega que os valores cobrados pelos combustíveis são abusivos e critica a segurança nas rodovias brasileiras. “Não teria problema de pagar impostos, se tivéssemos boas condições para trabalhar”, relata. Segundo ele, além de estradas em condições ruins, a categoria ainda sofre com roubos e assaltos em todo o país.

Daniel Beppler, 26, de Estrela, também sente os impactos do aumento. Como usa o carro diariamente para trabalhar, acredita que terá de diminuir custos para bancar o transporte. “É um abuso, porque Petrobras vende gasolina mais barata para os argentinos do que para os brasileiros”, reclama.

Dono de uma revenda de motocicletas, Rodrigo Cíceri, 25, avalia que os novos preços aumentam a procura por veículos mais econômicos, podendo melhorar as vendas no setor. Para ele, o problema é efeito cascata, uma vez que o transporte fica mais caro e, por consequência, os produtos.

Valor supera expectativa

O valor cobrado nas bombas superou o aumento anunciado pelo governo, de R$ 0,22 para a gasolina e R$ 0,15 para o diesel. Proprietário de uma empresa de transportes de passageiros de Lajeado, Elido Ariotti ficou surpreso com os aumentos de até R$ 0,40 na região.

De acordo com o administrador de uma rede de postos, Paulo Ricardo Dresch, desde domingo, as refinarias repassam esse aumento para as distribuidoras, que ontem transferiram o acréscimo ao varejo. “O problema é que o ICMS também incide sobre o aumento, então acabamos sendo tributados duas vezes”, ressalta.

Segundo ele, com os impostos o acréscimo passa para 11%, cerca de R$ 0,29, na gasolina e a 8% no diesel. Dresch acredita que os preços elevados causam retração no consumo apenas nos primeiros dias de reajuste. “Com o decorrer do tempo os consumidores agregam o custo ao orçamento.”

Alega que varejistas estão entre os mais prejudicados com a mudança, uma vez que repassam ao consumidor apenas o que pagam às distribuidoras. “Não temos aumento nos lucros, mas muitas vezes os clientes não entendem e reclamam.”

Sócio de um posto de gasolina em Arvorezinha, Jair Zatt, pensa que as distribuidoras cobrarão ainda mais nos próximos dias, uma vez que os custos do transporte também aumentam. Mesmo assim, não pretende repassar novos valores aos clientes. “Quem abastece vai deixar de andar se aumentarmos mais.”

Em Sério, o empresário Hilário Hermes Danieli, proprietário de um posto de gasolina, calcula para os próximos dias um novo acréscimo, de cerca de R$ 0,08. “Dá até vergonha de subir o preço de acordo com o que é cobrado pelas distribuidoras.” Há 29 anos no ramo, Daniele nunca havia visto um aumento tão grande desde o início do Plano Real, em 1994.

Procon ameaça intervir

O aumento praticado pelos postos de combustíveis no Rio Grande do Sul alertou o governo do Estado. Diante de denúncias de possíveis abusos no valor de revenda, o secretário da Justiça e dos Direitos Humanos, César Faccioli, determinou que a direção do Procon RS notifique o Sindicato do Comércio Varejista de Combustíveis e Lubrificantes do Estado do Rio Grande do Sul (Sulpetro).

Com a medida, o governo espera que o Sulpetro evite que os associados aumentem os preços acima dos R$ 0,20. O valor é calculado de acordo com a elevação de impostos determinada pela União. Caso a venda dos produtos fique acima do previsto pelo órgão, o ProconRS ameaça autuar os proprietários, de acordo com as determinações do Código de Defesa do Consumidor.

Os preços cobrados pelo combustível no Brasil estão hoje entre os mais caros do mundo. De acordo com o Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), o petróleo brasileiro está 69% acima do valor de mercado. Essa diferença garante à Petrobras um ganho mensal superior a R$ 1 bilhão com a venda de gasolina e de cerca de R$ 2 bilhões com o óleo diesel.

Na comparação com outros países, o preço do litro de gasolina cobrado nos postos brasileiros é similar ao de países como Áustria (R$ 3,36) e Croácia (R$ 3,40). Na Argentina, país que importa combustível da Petrobras, o litro sai por R$ 3,52, mesmo valor cobrado na Espanha.

Na Venezuela, país com valor mais baixo no mundo, a gasolina custa R$ 0,04 por litro. Já na Noruega e em Hong Kong, o litro chega a custar R$ 4,90. Nos Estados Unidos a gasolina custa em média R$ 1,58 por litro.

Mistura de Etanol deve aumentar

O governo federal apresentou ontem proposta de aumento na edição de etanol anidro na gasolina comum, que passariam de 25% para 27%. A mudança passaria a valer a partir do dia 15 de fevereiro e precisa ser aprovada pela presidente Dilma Rousseff.

A expectativa é que o percentual gere uma demanda de mais 1 bilhão de litros de álcool por ano. O nível de etanol na gasolina aditivada não deve aumentar neste primeiro momento. Porém as refinarias testam adições de 27,5% para combustíveis comum e prêmium, o que indica novas alterações em breve.

Saiba mais

O governo publicou na quinta-feira, 29, decreto que altera os tributos do PIS e da Cofins sobre os combustíveis derivados do petróleo. Estipulado em R$ 0,22 no litro da gasolina e R$ 0,15 no litro de óleo diesel, o aumento entra em vigor neste domingo, 1°.

Em maio as alíquota serão reduzidas devido a retomada da Contribuição de Intervenção sobre Domínio Econômico (Cide), que entra em vigor em 90 dias. A Cide foi zerada em 2012 para atenuar os impactos do aumento no valor dos combustíveis.

Segundo o governo, mesmo com a volta do imposto, a arrecadação será inferior à registrada no início dos anos 2000, quando o Cide representava R$ 0,28 do total cobrado na gasolina.

A União espera arrecadar R$ 12,2 bilhões com a cobrança. O aumento nos tributos faz parte do pacote fiscal anunciado na semana passada pela União. Ainda foram anunciados cortes em benefícios sociais, como seguro-desemprego, auxílio-doença, abono salarial e pensão por morte, e aumento nos juros do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para o setor produtivo.

O objetivo das medidas é aumentar a confiança da economia nacional. Elas devem gerar um aumento R$ 20,6 bilhões na arrecadação da União.

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