Colmeias selvagens, aquelas construídas pelos insetos geralmente em meio à vegetação, apresentam o maior risco de acidentes graves. Neste caso, aponta o especialista em criação e comportamento de abelhas, Luís Gustavo Mallmann, 35, existe o fator surpresa. “A vítima não espera esse contato e acaba se expondo ao extremo, algo difícil de acontecer em caixas melíferas mantidas pelos apicultores. Estas estão em locais apropriados.”
Muitos ataques do gênero ocorrem na área rural dos municípios, em especial pelo contato direto dos agricultores com os ninhos. Caso isto aconteça, Mallmann aponta que a principal medida é se afastar com urgência do local sem tentar afastar as abelhas. “Elas se guiam pelo cheiro. Se uma for esmagada, todas as outras irão defendê-la e atacar. A solução é correr para longe. No momento que elas não perceberem mais sinal do invasor, retornarão à colmeia.”
De acordo com o apicultor, as abelhas – sem discriminar gênero – são pouco agressivas, mas tendem a se proteger quando se sentem ameaçadas. “Quando uma delas pica alguém, ela morre. Faz parte do instinto proteger o ninho.” Apesar de manter cuidados redobrados, Mallmann ressalta que os ataques continuarão acontecendo. “Muitos casos podem ser prevenidos. Porém são fatalidades.”
A população das colmeias varia de acordo com as estações do ano. No inverno, o enxame concentra até oito mil unidades. No verão, até 80 mil insetos. Cada uma, vive cerca de 40 dias e morre ao picar uma presa. Com frequência, Mallmann é acionado para retirar abelhas em casas ou escolas. “A orientação é procurar alguém especializado na área.”
O último caso de morte devido ao ataque de abelhas no Vale do Taquari aconteceu no verão passado. O agricultor Santos Cima, 75, de Arvorezinha, limpava uma capoeira às margens da estrada geral da comunidade de Pinhal Queimado quando encostou em um enxame. Ele iniciou o serviço por volta das 14h e foi encontrado morto no fim do dia, coberto por picadas.
Uma picada pode matar
Pessoas alérgicas as picadas precisam ter mais cuidado. Apenas um ferrão pode levar à morte. Foi o que aconteceu com o agricultor Guido Antônio Barkert, 51, de Santa Clara do Sul, há 22 anos. Acompanhado do filho, trabalhava na lavoura localizada em Sampainho durante a manhã quando uma o picou. O homem desmaiou no momento da ferroada, chegou a ser levado ao hospital da cidade, mas morreu.
A família ainda tenta superar a perda. “Foi uma tragédia, ninguém sabia que ele era alérgico a picadas de abelha”, relata um dos filhos do agricultor, Milton Barkert, 51. Segundo ele, Guido havia levado outras ferroadas tempos antes do fato, o que possivelmente colaborou. “O nível de veneno no corpo chegou ao limite.”
O agricultor Ildo Sartori, 59, de Sério, passou por situação semelhante no início do ano passado. Ele e a mulher plantavam eucaliptos em uma área repleta de capoeira, há três quilômetros distantes do centro. “Senti uma ardência muito grande. Logo fiquei tonto e sentei no chão, em frente à caminhonete. Neste momento desmaiei.”
Como a mulher não sabia dirigir, jogou água sobre a cabeça do marido para abaixar a temperatura corporal e correu em direção à rodovia. Neste meio-tempo, Sartori acordou e, quando viu que estava sozinho, tentou se levantar. “Apaguei outra vez e fui parar embaixo da caminhonete. Só me lembro de acordar no hospital quase uma hora depois.”
Medicado, Sartori melhorou. Ele acredita que a alergia tenha se agravado ainda na infância. “Nunca tive problema com isso, até o dia em que fui picado por um marimbondo e passei mal, fiquei muito tonto. Desde então, não suporto mais ferroadas.”
Reações distintas
As manifestações clínicas em virtude de picadas de abelha divergem de uma pessoa para a outra, dependendo da sensibilidade do indivíduo ao veneno, ao número e local atingido. Uma pessoa adulta, por exemplo, pode tolerar centenas de ferroadas, enquanto que alguém alérgico pode morrer com apenas uma em virtude da reação anafilática.
É comum haver ardência ou sensação de queimadura no local da ferroada. Isto é causado porque o ferrão tem uma substância chamada melitina, a qual ativa os receptores da dor. Além disto, quando o ferrão fica preso na pele, ele continua injetando veneno.
Em geral, quando a picada é única ou se forem poucas, apenas ocorrerão dor e inflamação local. Após sofrer múltiplas picadas, a pessoa pode apresentar mau funcionamento cardíaco e mesmo colapso circulatório.
No caso de alérgicos, a reação anafilática pode causar uma reação aguda e grave, que compromete todo o organismo. É caracterizada por: coceira, urticária generalizada, convulsões, vômitos, diarreias, cólicas abdominais e eventual edema da glote e bloqueio da respiração. A morte, contudo, é rara.
“Me virei e dei de cara com um ninho”
No início deste mês, o servidor público, morador de Teutônia, Vladimir da Silva, 40, descobriu ser alérgico a picadas de abelha. Estava aparando a grama do jardim, quando, ao passar por baixo de uma laranjeira, sentiu uma ardên
cia nas costas. “Me virei e dei de cara com um ninho de vespas.” Foram sete ferroadas nos braços e ombros.
Algumas horas depois, o braço direito de Silva começou a inchar e ficou repleto de bolhas. “Não conseguia nem mexer os dedos. Como a situação ficava cada vez pior, fui para o hospital e fiquei em observação.” O médico prescreveu antialérgicos e alertou sobre o risco de novas ferroadas de abelha. “Foi um susto tremendo, mas é difícil de evitar algo assim.”
O que fazer em caso de picadas
– O ferrão preso à pele deve ser raspado com uma lâmina. Se retirado com uma pinça, por exemplo, pode haver maior injeção de veneno.
– A ferida pode ser pressionada, na tentativa de extrair o excesso de veneno.
– A pele deve ser lavada com água fresca. Em seguida, compressa de gelo pode diminuir a dor.
– A pessoa precisa se manter calma e hidratar-se com frequência. Em caso de picadas em braços ou pernas, itens como anéis e pulseiras devem ser retirados devido ao risco de inchaço.
– Cremes de anti-histamínicos ou corticoides tópicos ajudam a aliviar a dor, como analgésicos. Não há antídoto específico a picadas de abelha.
– Caso as reações ao veneno se agravem, ou a vítima seja alérgica às ferroadas, deve ser buscada ajuda médica urgente.