Porque Lajeado cresce mil pessoas por ano

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Porque Lajeado cresce mil pessoas por ano

A possibilidade de crescimento e qualificação atrai. A cada ano, imigrantes fixam residência e contribuem com o desenvolvimento. Conforme o Censo do IBGE, de 2010, a população estava em quase 72 mil habitantes. A estimativa é que mais de 76 mil pessoas vivem em Lajeado.

O casal Lucas da Silva, 29, e Marcieli Hoffmann, 21, (foto) escolheu Lajeado para morar e construir o futuro. Ele analista de Tecnologia da Informação, natural de Bom Retiro do Sul, e ela arte-finalista, moradora de Guaporé, se conheceram pela internet há três anos.

04Lucas trabalhava na Univates. Sem se conhecerem pessoalmente, conversavam pelas redes sociais. Em um dos bate-papos, Marcieli revelou o desejo de cursar uma faculdade. “A universidade mais próxima ficava a cem quilômetros, não tinha como pagar o curso e mais o trasporte.”

Então, Lucas sugeriu que ela se mudasse para o Vale do Taquari e prestasse vestibular na Univates. Quando veio passar um fim de semana para conhecer a região, Marcieli ficou 15 dias. “Acabamos nos conhecendo melhor e resolvemos ficar juntos”, relembra.

Depois de passar no vestibular, ela foi morar em Bom Retiro do Sul com Lucas. Diante das oportunidades de trabalho e para ficarem mais próximos da universidade, planejavam se mudar. “Lajeado está bem localizada, tem oferta de emprego e boas opções de ensino. É uma terra de oportunidades.” Há cerca de oito meses ela começou a trabalhar na cidade. Agora financiam uma casa e preparam a mudança de Bom Retiro do Sul.

Como o casal Marciele e Lucas, estima-se que mil pessoas venham morar em Lajeado a cada ano. Entre os novos moradores, a família de Edelar Santos, 45, veio há dois anos de Panambi. A mulher Gilvana, 40, recebeu uma oportunidade e aceitou. Hoje moram no bairro Florestal. Edelar é técnico em Mecânica. Aproveita os dias para ficar com o filho, Pedro Lucas, enquanto Gilvana atua como auxiliar administrativo. À noite, ele vai para Colinas, onde trabalha, e a mulher fica com a criança.

Durante o dia, uma das atividades preferidas de Edelar é se exercitar no Parque Professor Theobaldo Dick. A receptividade das pessoas é salientada. “É uma ótima cidade para se viver. As pessoas são hospitaleiras, nos receberam bem.”

A qualidade de vida ressaltada pelos novos moradores pode ser percebida com o avanço no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Em 2010, Lajeado alcançou 0,796 no indicador, situando a cidade na faixa de municípios com alto desenvolvimento humano. Em 1991, a taxa era de 0,598, considerada média.

Qualidade de vida

Por outro lado, o crescimento de 30,1% é menor ao avanço registrado no país, que foi de 47%. Com isso, a cidade caiu da 44ª colocação no ranking para a 145ª. O índice é composto por números relativos à renda, educação e longevidade.

O levantamento também apontou a taxa de atividade da população com 18 anos ou mais. Em 2010, 78,5% era economicamente ativa. A taxa de desemprego caiu de 9,2% em 2000 para 3,1% dez anos depois.

Percentuais comprovam que Lajeado é uma cidade de oportunidades. As possibilidades de trabalho atraíram Angélica Cardozo, 26. Natural de Teutônia, morou até os 18 anos em Paverama. Se mudou para Lajeado e hoje trabalha como assistente de vendas de uma construtora.

Antes de vir morar aqui, gostava da cidade. Decidiu vir para Lajeado em busca de crescimento. “Precisava estudar e trabalhar. Em Paverama, não tinha muitas opções.” Além disso, considera o município um dos melhores para viver na região.

Nos início, sentiu algumas dificuldades. “Estava perdida. Longe dos amigos, da família.” A receptividade dos lajeadenses ajudou na adaptação. Para ela, a localização da cidade é uma vantagem. “Estamos perto de tudo, da minha cidade e também da capital.”

Na opinião de Angélica, apesar de não ser muito grande, Lajeado proporciona qualidade de vida. “Não tem porque sentir tédio aqui. Tem lugares para ler, correr, para encontrar os amigos e as opções de gastronomia estão aumentando.”

Um dos pontos negativos, avalia Angélica, é a falta de consciência sobre a limpeza urbana. “Ainda vejo gente jogando papéis e pacotes de bolacha na calçada”, condena.

Assim como a assistente de vendas, a arquiteta e urbanista Alexsandra Kronbauer, de Venâncio Aires, também veio para Lajeado em busca de estudo e trabalho. Concluiu o Ensino médio, em Mato Leitão, e decidiu morar na cidade durante a graduação na Univates. “Era bastante complicado ir e voltar todos os dias”, conta.

Durante a graduação, trabalhou como estagiária em uma construtora. Depois de formada, foi efetivada e segue no cargo até hoje. “A oportunidade de emprego e desenvolvimento foi a maior influência para minha mudança.”

Para ela, o fato da cidade ter o maior desenvolvimento socioeconômico da região e um Centro Universitário qualificado faz com que tantas pessoas venham para a cidade todos os anos. A localização permite viver em Lajeado e estar a poucos minutos de carro dos familiares, reforça.

Alexsandra destaca o custo benefício que a cidade oferece, uma vez que pode trabalhar, ir ao mercado, academia, e aos parques a pé. “Mesmo de carro, não enfrentamos grandes congestionamentos. Isso também é qualidade de vida.”

Elege o Rio Taquari como o local preferido para passar o tempo, espera um dia poder ver uma estrutura adequada na orla. “Precisamos mudar a relação da cidade com o rio, pois hoje damos as costas para nossa área nobre”, acredita.

Na opinião dela, os horários do comércio e serviços poderiam ser mais flexíveis e que a cidade ainda precisa de mais opções gastronômicas. Para o futuro, Alexsandra avalia que o desenvolvimento de Lajeado continuará se renovando. “Desejo uma cidade que funcione 24 horas. Como uma cidade grande.”

Para isso, espera que o município possa contar com a competência de bons gestores, que sejam lembrados por ações que gerem desenvolvimento, crescimento e qualidade de vida para a cidade e moradores.

Dos mais de cinco mil municípios brasileiros, Lajeado está entre os 400 primeiros em renda da população. A cidade registra uma renda média familiar de R$ 22 mil por ano. Dados do Relatório Anual Informações Sociais (Rais) mostram que há mais de 35 mil pessoas trabalhando com carteira assinada.

Conforme o economista Adriano Strassburguer, em um contexto geral, a construção civil foi o setor que apresentou maior expansão. Houve um incremento superior a 115% de 1999 até 2013. Em seguida, aparece o setor de serviços, que cresceu 107,8%. Na terceira posição, o comércio, com 88,7%. A geração de emprego no segmento industrial cresceu pouco menos de 50% em 12 anos de análise.

A escolha por Lajeado

Para o executivo Marcelo Tozzo, a aposta em Lajeado começou em 2005. Natural de Maringá, no Paraná, era gerente industrial da empresa Avipal na unidade de Dourados, Mato Grosso, quando recebeu proposta de transferência para o município.

Casado e pai de dois filhos, pesquisou a respeito da cidade e percebeu aspectos que pesaram na decisão. Lajeado fica em uma região próspera e oferece uma qualidade de vida acima de outras cidades que passamos, relata.

Segundo Tozzo, as pessoas são atraídas para o município devido aos empregos gerados na indústria e no comercio, além da Univates. “São três frentes que se somam e fazem a cidade atrativa aos olhos de quem vem de fora.”

Três anos depois da transferência, em 2008, aceitou proposta de gerenciar o abatedouro de aves da Minuano. A empresa, que já foi uma das principais produtoras de aves do Brasil, se recuperava de uma crise que resultou em concordata no ano de 2002.

Em 2012, Tozzo foi indicado para assumir a direção-geral da indústria, cargo que exerce até hoje. A empresa lajeadense, fundada em 1948, voltou a liderar o segmento no Estado e a figurar na lista das maiores produtoras brasileiras. “Vivemos um momento de otimismo.”

Entre os fatores que contribuem para a manutenção das indústrias no município, o diretor-geral ressalta a proximidade de estruturas como o Aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre e o Porto de Rio Grande.

No setor logístico, acredita que deveria haver mais investimento no Porto de Rio Grande e salienta a importância da duplicação da BR-386. “A redução dos custos de transporte beneficia toda a cadeia produtiva.”

Segundo ele, a característica dos municípios do entorno, constituídos de pequenas propriedades rurais, também motiva o desenvolvimento da produção de aves. Porém ressalta gargalos que desafiam os empreendimentos, como a rotatividade de trabalhadores e o alto custo da mão de obra.

Quanto à vida na cidade diz que a família está adaptada. “Nos consideramos lajeadenses, tanto que investimos na construção da nossa casa.” Reforça a existência de escolas qualificadas e de um comércio forte. Sente falta apenas de mais opções gastronômicas.

PIB cresce 50% mais do que o RS

O Executivo tem o maior orçamento entre as demais cidades da região. Para 2015, estão previstos mais de R$ 270 milhões. Menos dependente de recursos do Fundo de Participação dos Municípios, a geração de riquezas por parte dos setores produtivos auxiliam nos resultados do Produto Interno Bruto (PIB).

Em 2001, o PIB total era de R$ 651 milhões. Onze anos depois, o valor bruto do índice chegou em R$ 2,6 bilhões. Para o economista Adriano Strassburger, esses dados mostram a força da economia do município, calcada na diversificação produtiva. “Enquanto o crescimento do Estado, entre 2001 e 2012, foi de 200,7%, Lajeado teve um incremento no PIB de 301%. Isso é 50% superior a média do Estado”, avalia.

Segundo ele, a base econômica do município se baseia em dois segmentos: indústria e serviços. Participam com cerca de 35% e 65%, respectivamente, diz Strassburguer. “Já no Estado essa participação é de 16% e 55,5%, pois o setor agropecuário representa cerca de 28,5%”, compara.

A renda per capita cresceu 83,45% nas últimas duas décadas, passando de R$ 616,43, em 1991, para para R$ 1.130,85, em 2010. A proporção de pessoas pobres, com renda domiciliar per capita inferior a R$ 140,00, caiu de 11,27% para 1,9% no mesmo período.Urbanização acelerada

Nas últimas décadas, Lajeado mudou de perfil. Há cerca de 30 anos, a principal atividade econômica era a produção rural. O município tinha sete distritos, que a partir de 1990 passaram por um processo de emancipação.

A extensão territorial superava 1,1 mil quilômetros. Depois das divisões, a área de Lajeado foi reduzida a 90 quilômetros quadrados. A redistribuição da cidade acelerou a urbanização e novos estabelecimentos foram formados na cidade. A força do comércio, da indústria alimentícia e do crescimento da Univates atraíram novos moradores.

Em 1940, cerca de 40 mil pessoas moravam em Lajeado. Mais de 90% ficavam na área rural. A emancipação de Progresso e Boqueirão do Leão, em 1989, Santa Clara do Sul e Sério (1993), Marques de Souza (1997), Forquetinha e Canudos do Vale (2001), mudou o cenário da cidade.

Diante desse quadro, houve um movimento migratório para a cidade.Essas alterações no perfil da cidade podem ser percebidas também no número de empreendimentos abertos. Em 2002, entre os setores da indústria, construção, comércio, serviços e agropecuário, a cidade tinha 5,7 mil estabelecimentos. Onze anos depois, conforme dados do IBGE, passou para 7.717.

Entre os ramos de atividade, a construção civil foi a que mais expandiu o número de estabelecimentos, alcançando um crescimento superior a 125%, enquanto o comércio mostrou uma expansão de 15,7%.

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