Desperdício de água em vazamentos chega a 20%

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Desperdício de água em vazamentos chega a 20%

Sistema de distribuição precário é motivo central da perda nos 14 municípios atendidos pela Corsan

Vale do Taquari – Cerca de 20% do volume de água distribuída pela Companhia Riograndense de Saneamento (Corsan) é perdida em vazamentos antes de chegar a casa do consumidor. Em novembro, foram distribuídos mais de 1,2 bilhão de litros aos 14 municípios conveniados no Vale do Taquari. Desses, 240 milhões foram para o ralo. Uma casa consome, em média, 10 mil litros por mês. Aumento de tarifa ocorre em julho. Deve ser superior aos 6% aplicados em 2014.

03As maiores causas do desperdício de água são vazamentos decorrentes de altas pressões nas redes e por rompimentos em estruturas mais antigas, implantadas na década de 70. No verão, como o consumo é maior, é preciso de mais força para abastecer as residências. Locais com baixa capacidade, com linhas de tubos estreitos ou com encanamento antigo, podem sofrer rupturas.

Para resolver esse problema, de acordo com o diretor de Operações da Corsan, Antonio Carlos Martins, são executados dois programas no Vale do Taquari.

O primeiro deles consiste no controle de pressões por meio de válvulas reguladoras e a implantação do controle de níveis de reservatórios, estações de bombeamento e pressões nas redes.

O outro investimento contempla a substituição de redes. No Estado, há cerca de 24 mil quilômetros de canalização. “Temos a meta de substituir cerca de 900 quilômetros por ano. Analisamos onde há maior incidência de problemas ou onde é preciso aumentar a capacidade”, relata Martins.

Encanamentos antigos em prédios também podem ocasionar desperdício. Em uma loja de roupas do centro de Lajeado, a conta de água saltou de R$ 115 para R$ 4,5 mil de um mês para o outro. O problema, segundo a lojista, foi o vazamento em um cano sob a garagem do prédio. Sem poder alterar a base do prédio, o jeito foi desativar a rede e refazer a ligação em novo sistema.

1,2 bilhão de litros mensais

Os 14 municípios de abrangência da Corsan, no Vale do Taquari, consomem juntos mais de 1,2 bilhão de litros de água a cada mês. Em novembro de 2014, o volume somou 1.268,994 litros de água aos municípios relacionados. O consumo cresceu em 264 milhões de litros comparado a novembro de 2000.

Só em Lajeado, a diferença é de 74 milhões de litros. O número seria maior, não fosse investimentos na rede. Há 14 anos, segundo o Instituto Brasileiro de Estatística (IBGE), Lajeado tinha 64 mil habitantes. Hoje, tem cerca de 75 mil.

Dados dos últimos anos apontam redução do consumo de água. Há 14 anos, a média de uso de uma família de quatro pessoas era de 470 litros por dia. Hoje, caiu para 283 litros por dia. Vários fatores levaram a esse resultado, como a diminuição da permanência dos clientes em casa durante o dia, a modernização de equipamentos domésticos e campanhas de prevenção.

Ligações clandestinas

O Vale do Taquari enfrenta problemas de furto de água. As instalações clandestinas, além de desviar a água da rede, causam vazamentos. O maior problema se encontra em bairros com terrenos invadidos.

De acordo com o gerente interino da Corsan de Lajeado, Gerson Haas, equipes têm dificuldades em encontrar os canos irregulares. “Um cano enterrado se torna mais difícil de encontrar”, afirma Hass. “Cortar energia elétrica é fácil, pois os fios estão à mostra.”

Racionamento

Devido às recentes chuvas, poucos municípios realizam campanha de racionamento. Em Teutônia, no entanto, há temor devido ao menor nível dos lençóis freáticos. Departamento Municipal de Abastecimento de Água de Teutônia pede cuidados aos moradores. Entre eles, evitar regar jardins, lavar calçadas e carros.

O maior problema é verificado no bairro Languiru. De acordo com o secretário de Obras, João Carlos Eidelwein, está mais difícil encontrar água no lençol freático. “Não sabemos até onde isso vai.” Hoje, é preciso perfurar mais de cem metros de arenito para encontrar água, enquanto há alguns ficava próximo da superfície.

O município tem 22 poços e reservatório para cerca de 1,2 milhão de litros. Outro, de 300 mil, será instalado nas próximas semanas. De janeiro a outubro de 2014, o município investiu R$ 702 mil para melhorar e ampliar o abastecimento de água nos bairros Canabarro e Teutônia.

Casa ecológica

O arquiteto Rodrigo Bald, de Santa Clara do Sul, economiza 40% da água após investir em cisternas. A água da chuva é utilizada para regar o jardim e lavar o piso da casa, garagem e piscina.

Devido a restrições do espaço físico, Bald optou por seis caixas de fibras menores, espalhadas pela casa. Destas, cinco estão na garagem. Somadas, estocam seis mil litros de água. “Em três anos de uso das cisternas, nunca faltou água da chuva”.

Pela economia, os equipamento se pagam em dois anos, garante. Se fosse construir a casa hoje, diz, investiria na instalação de filtros para o tratamento da água. Assim, poderia ser utilizada para chuveiro e vaso sanitário. “Hoje é muito mais fácil e barato fazer.”

Falta investimento também no interior

O Plano de Saneamento Básico (PSB) mostra deficiências em reservatórios das associações de água dos municípios do G8: Boqueirão do Leão, Canudos do Vale, Cruzeiro do Sul, Forquetinha, Marques de Souza, Progresso, Santa Clara do Sul e Sério. O estudo realizado pela Lógica Gestão Ambiental Inteligente será concluído em breve. Apontará as necessidades de investimento para os próximos 20 anos.

De acordo com a engenheira química, Simone Beatris Schneider, falta investimento na retenção, tratamento e destinação das águas. Há pontos de tubulações com capacidade insuficiente. Muitos dos equipamentos estão defasados e apresentam problemas, facilitando o desperdício da água.

De acordo com ela, o relatório também apontou 39 amostras de água impróprias para consumo em 126 poços artesianos e 23 vertentes da região.

Segundo o relatório, todos os municípios apresentaram deficiência na realização das análises mensais obrigatórias. Foram encontrados coliformes e bactérias, resultado de contaminação por fezes.

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