Direção anuncia a venda da Santa Rita Laticínios

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Direção anuncia a venda da Santa Rita Laticínios

Apenas dez meses após reativar a fábrica da falida Latvida, nova empresa do ramo leiteiro enfrenta crise, quase insustentável, e dívida deve obrigar diretores a vender ou arrendar a unidade fabril. Débitos com produtores e fornecedores superam a cifra de R$ 3 milhões. Crise atinge outras fábricas do Estado. Produtores sofrem com a escassez de mercado e queda no preço.

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Vale do Taquari – A produção de leite na fábrica localizada no interior de Estrela está parada desde o dia 19 de dezembro do ano passado para evitar acúmulo ainda maior de débitos. Com problemas financeiros, a direção da Santa Rita Laticínios confirma a intenção de vender ou até alugar toda a unidade fabril adquirida no fim de 2013. Três empresas estariam interessadas na compra. O valor da negociação não foi divulgado. Enquanto isso, produtores e federação renegociam as dívidas.

04Os débitos de R$ 3 milhões são referentes ao leite entregue nos meses de novembro e dezembro por produtores da região das Missões. Na segunda-feira, durante uma reunião encabeçada pela Federação dos Trabalhadores na Agricultora (Fetag), diretores da fábrica de laticínios apresentaram novo cronograma para quitar parte da dívida. A intenção inicial é pagar cerca de 50% do total em quatro parcelas. Duas de R$ 200 mil ainda em janeiro, e outras duas de R$ 500 mil entre fevereiro e março.

“A proposta será repassada aos produtores. A maioria deles vive Santa Rosa, Três Passos e também nas regiões do Vale do Taquari e das Missões”, afirma o primeiro tesoureiro da Fetag, Nestor Bonfanti.

A federação continua a negociação para tentar elaborar um cronograma para quitar os 50% dos valores devidos de novembro e 80% de dezembro. Não há previsão para esse pagamento de quase R$ 1,6 milhão.

A direção da Santa Rita Latícinios também não descarta recorrer a agentes financeiros para tentar financiar o pagamento das dívidas. A fábrica tem grande quantidade de produto estocado.

A intenção é utilizar a venda para angariar recursos e também utilizá-lo na quitação de débitos com produtores e fornecedores. Estima-se que cada produtor tenha, em média, de R$ 70 a R$ 100 mil para receber da empresa estrelense.

Em dezembro e janeiro, a sede da fábrica foi fechada duas vezes por manifestações organizadas por fornecedores. A primeira delas, na véspera do feriado de ano novo, contou com a participação de quase 50 produtores de Arroio do Tigre e Júlio de Castilhos. Eles viajaram cerca de 300 quilômetros para serem atendidos pela direção da empresa. No dia 7 de janeiro, outras dezenas de ruralistas fecharam os principais portões para tentar renegociar as dívidas.

Indústrias deixam de comprar

Além das fábricas que deixaram de operar, ou que temporariamente não compram produtos, outras reduziram o recolhimento de leite nas propriedades. A crise se agrava. Segundo Bonfanti, um dos exemplos é a Laticínios Santa Mônica, de Esperança do Sul. Na última semana, um freteiro anunciou a paralisação do recolhimento em várias áreas. “Muitos produtores migraram para essa fábrica e agora novamente não tem para onde vender.” Até o momento, o laticínio está com os pagamentos em dia.

Uma outra empresa, com sede em Taquara, também estaria atrasando o repasse de valores. Para ele, a dificuldade é provocada pelo excesso de leite, pelas polêmicas escancaradas após o desencadeamento das operações “Leite Compen$ado”, pela redução de vendas e, consequentemente, os preços.

Bonfanti projeta aumento do preço nos mercados com a exclusão de centenas de famílias do processo. Muitas não atendem às exigências de qualidade, produtividade ou se negam a investir pela falta de perspectiva de sucessores. Áreas de terra pequenas e idade avançada dos produtores são outros problemas. Com esse cenário, observa para a possível falta de produto nos próximos meses. “Isso pode aumentar o preço nas gôndulas dos mercados.”

Para o representante da Fetag, a situação provoca um caos social e econômico em muitas cidades, além do aumento no índice de êxodo rural. “Serão milhares de pessoas migrando para cidade.”

O sindicalista adverte também para a concentração de mercado. Com a falência e o aumento das exigências, um número reduzido de fábricas começa a controlar o setor de lácteos, aponta. “Obrigam o produtor a investir cada vez mais, sem garantia de preço mínimo e pagamento em dia. Temos casos em que empresas pagam R$ 0,45 o litro. Torna a atividade inviável.” O valor chegou a R$ 1,12 por litro em 2014.

Trancada há 48 dias

Em Crissiumal, produtores com crédito a receber da LBR (assumida pela Italac) bloqueiam a entrada da fábrica há 48 dias, informa Bonfanti. Eles se revezam, dia e noite. Na segunda-feira pela manhã, agricultores fizeram uma manifestação pacífica no centro da cidade, em frente à prefeitura, para chamar atenção.

A dívida passa de R$ 1 milhão. Uma proposta recente para quitar 50% do valor foi rejeitada. A empresa está em recuperação judicial e tem dois anos para pagar. Existe a expectativa da direção se reunir com os produtores e sindicatos até o dia 20, onde deve informar sobre o andamento das negociações e talvez apresentar um novo cronograma para renegociar o pagamento dos atrasados.

No Vale do Taquari, a sede de Bom Gosto, em Fazenda Vilanova, também recebeu protestos em 2014. Pelo menos outras dez fábricas de laticínios e queijarias decretaram falência ou entraram em recuperação judicial nos últimos dois anos em todo o Rio Grande do Sul. A maioria acumula atrasos no pagamento pela matéria-prima recolhida nas propriedades.

Mapa do leite

O grupo de trabalho criado para tratar da crise do leite no Estado começou nesta semana o serviço de mapeamento de produtores com volumes reduzidos de até 50 litros por dia.

Segundo o diretor-executivo do Instituto Gaúcho do Leite, Oreno Ardêmio Heineck, a meta é concluir o levantamento até o fim do janeiro e encontrar maneiras de evitar a exclusão destes produtores.

Na região, com o fechamento do posto de resfriamento da Promilk, em Estrela, muitos produtores foram excluídos da cadeia e entre os motivos estava o baixo volume produzido por dia.

Em Sério, mais de 40 famílias desistiram da atividade por não atender os requisitos de qualidade e produtividade mínima propostas pelas empresas que assumiram o recolhimento.

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