Calor intensifica risco de falta de energia

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Calor intensifica risco de falta de energia

Municípios abastecidos pela AES Sul acumulam problemas relacionados com queda no abastecimento de luz. A exemplo de 2014, clientes ficam às escuras no início do ano

Vale do Taquari – Problemas decorrentes de constantes quedas no fornecimento de energia elétrica da AES Sul se repetem em 2015. A Agência Estadual de Regulação dos Serviços Públicos Delegados do Estado (Agergs) constatou três erros na prestação do serviço: falhas no setor de teleatendimento, insuficiência do programa de manutenção preventiva nas redes de abastecimento e demora no restabelecimento de luz.

04A precariedade da rede se torna evidente pelo aumento do consumo no verão. A maioria das reclamações parte do setor primário devido à produção de lacticínios, suínos e frangos. Só em fevereiro do ano passado, cerca de 500 mil frangos morreram pela insuficiente rede monofásica.

Sério. A linha de transmissão que abastece a região do Alto Sampaio e Arroio Galdindo segue causando prejuízos aos agricultores. O motivo, segundo o secretário de Agricultura, Luciano José da Silva, é que a rede atravessa uma plantação de eucaliptos. “A cada vento há queda de energia”, lamenta.

O problema se agrava quando galhos rompem cabos, deixando dezenas de propriedades às escuras. “O atendimento nesses casos demora muito.” De acordo com o secretário, produtores recorrem aos geradores. No entanto não escapam de prejuízos, diz. Um dos agricultores gastou R$ 700 em gasolina para manter a produção.

O Ministério Público (MP) de Venâncio Aires solicitou a limpeza ao longo da rede. A maior parte do serviço foi prometida para os próximos meses.

Lajeado. Diversos bairros ficaram sem luz nas últimas semanas. Na propriedade de Armin Spohr, 65, no bairro Floresta, o interrompimento durou 20 horas. Em 2014, foram sete dias seguidos de angústia, um dos motivos que forçaram-no a desistir da produção leiteira. “Trabalho de uma semana foi pro lixo (sic).”

O motivo do interrompimento, segundo Spohr, é sempre o mesmo: a constante queda da chave em um transformador. “Não temos resposta sobre melhoria.”

Luiz Schardong, 73, está acostumado a utilizar as escadas do prédio onde mora, na rua Carlos von Koseritz, em Lajeado, ao lado do Colégio Evangélico Alberto Torres. “Qualquer vento mais forte já para o elevador.” A causa do transtorno está à vista na frente de casa: a rede que abastece os apartamentos quase se esconde em meio às árvores.

Na casa do engenheiro civil Daniel Schwendler, 26, em Cruzeiro do Sul, a AES Sul instalou medidores especiais e identificou oscilação energética. No entanto, nenhuma solução foi anunciada e os problemas persistem.

De acordo com Schwendler, não há investimentos na rede local desde 1996, quando a família comprou um transformador para instalar uma marcenaria ao lado da casa. “A demanda aumentou, a arrecadação também, mas o investimento tomou caminho contrário.”

Verão atípico em 2014

A concessionária amplia investimentos para melhorar o serviço aos 87 mil clientes de 21 municípios da região, garante o responsável pelo planejamento e distribuição das linhas da AES Sul, o engenheiro Sérgio Machado. “Investimos em transformadores, alimentadores, aumento de potência e manutenção nas linhas de transmissão. E isso começa com o aumento da confiabilidade do sistema”.

Machado lembrou que o último verão foi atípico, com temperaturas de 40oC. “Nossa expectativa era para um crescimento na demanda de 4,5%. Mas, tivemos 9%, em alguns pontos chegou a 20%.” Com essas demandas, de acordo com Machado, ocorre um alto risco de corte. “Foi uma situação que atingiu o país inteiro. Nosso desafio é encontrar uma solução a longo prazo que atenda o cliente da melhor forma possível.”

Capacidade no limite

O principal agravante é que 70% do abastecimento no Estado depende das linhas de transmissão do sudeste do país que, sobrecarregadas, são incapazes de atender a demanda. Em abril, o uso de termelétricas resultou em aumento de mais de 30% nas contas de luz da AES Sul. O acréscimo atingiu mais de 1,3 milhão de consumidores em 118 cidades gaúchas. Uma das alternativas reduzir a dependência energética de outros estados seria a geração, mas apenas a Cooperativa Certel produz energia elétrica na região.

Conta mais cara

Após encarecer 28% em 2014, a conta de luz volta a ter aumento. Devido a mudanças no cálculo tarifário, os consumidores pagam mais 8,3%. Há um acréscimo de R$ 3 a cada 100 killowats-hora consumidos.

De acordo com o governo, o aumento ocorre em todo o Brasil devido ao baixo nível dos reservatórios nas hidrelétricas, obrigando o emprego de usinas termelétricas para suprir a demanda. Como a energia térmica é mais cara, o valor pago pelas distribuidoras será repassado aos consumidores.

Mesmo com o acréscimo, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) alega que a mudança não acarreta novos custos para quem consome. Segundo a agência, o aumento anual na tarifa das distribuidoras já incluía o uso das térmicas. Com o novo sistema, não devem haver reajustes.

Vandalismo em Estrela

A rede elétrica de Estrela foi alvo de dois atos de vandalismo na semana passada. O primeiro na madrugada de 28 de dezembro e o segundo na madrugada do dia 2 de janeiro. Vândalos arremessaram barras de ferro de construção contra o alimentador, circuito de média tensão, fazendo com que um equipamento religador que atende a 2.051 clientes se desligasse.

Clientes ficaram por horas às escuras. A AES Sul registrou ocorrência na Delegacia de Polícia. Os ferros foram jogados contra os fios foram amarrados um ao outro, levando a crer que o objetivo era interromper o fornecimento.

Redecker anuncia plano energético

Líder de uma comissão que debateu problemas de abastecimento no Vale do Taquari, em Roca Sales, Lucas Redecker assume a secretaria de Minas e Energia do governo de José Ivo Sartori. “Temos um momento importante para debater esse assunto.”

Sem poder de influenciar medidas da RGE e AES Sul, concessões federais, o secretário garante que será elaborado um plano energético a médio, curto e longo prazo. A prioridade é solucionar os problemas apontados em relatório da CPI da Energia Elétrica, de 2014, a qual presidiu. O documento de 1,2 mil páginas concluiu que os investimentos realizados pela AES Sul, RGE e CEEE são insuficientes.

Diante da crise financeira do Estado, segundo Redecker, a estratégia é buscar investidores para melhorar a iniciativa privada e gerar mais energia. Entre as propostas está a utilização do carvão mineral. O Estado tem 80% das reservas brasileiras. “Haverá investimento na exploração do carvão, utilizando tecnologias avançadas para diminuir impacto ambiental.”

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