Produtores cobram pagamento do leite

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Produtores cobram pagamento do leite

Mais de 50 agricultores protestam em frente da indústria exigindo valores atrasados

Estrela – A nova indústria de laticínios Santa Rita iniciou os trabalhos em março deste ano. Antes mesmo de completar dez meses de funcionamento, a empresa enfrenta sua primeira crise dentro do disputado mercado leiteiro do Estado. Ontem, produtores tentaram invadir a sede instalada na localidade de Santa Rita para cobrar valores atrasados de novembro. Temem também a falta de pagamento em dezembro. Direção negocia um parcelamento.

02Os mais de 50 produtores de Júlio de Castilhos e Arroio do Tigre, cidades localizadas a mais de 200 quilômetros de Estrela, chegaram por volta das 9h de ontem à sede da Santa Rita Laticínios. Em carros particulares e também vans e ônibus locados, eles tentaram entrar no pátio da empresa. No entanto, prevendo a invasão, um dos guardas fechou o portão no momento em que um primeiro veículo tentava entrar.

Houve momentos de tensão. Pequenas partes da grade de arame foram arrancadas e dois portões bloqueados. Mas no geral a manifestação foi pacífica. Só por volta das 15h os quatro interlocutores do grupo foram chamados para negociar com representantes da diretoria. A proposta dos produtores era parcelar os valores em até cinco vezes, com o primeiro pagamento ainda em 2014, outros dois em janeiro, e o restante em fevereiro.

O grupo calcula uma dívida total superior a R$ 150 mil. “Mas deve ser mais. Este é apenas o valor calculado do pessoal que veio até aqui”, comenta Nilton Jeggli, produtor que veio de Júlio de Castilhos. Ele tem mais de R$ 11 mil a receber, resultado de quase 20 mil litros vendidos para a indústria. “O valor pode aumentar, por que está para vencer o pagamento de dezembro.”

Jeggli afirma que algumas pessoas podem perder financiamentos em função do atraso. “Um vizinho nosso depende desses recursos para manter em dia as parcelas de um trator. Ele teme entrar no Serasa, pois os cheques já estão voltando.” Segundo ele, a primeira proposta apresentada pela direção da empresa desagradou. “Eles queriam pagar apenas 20% agora e o restante só no fim de fevereiro. Não queremos assim.”

“Vendo leite faz 30 anos. Nunca vi disso”

Cansado após viajar 230 quilômetros, o produtor Darci Luis Seibert, natural de Arroio do Tigre, só queria voltar para casa com o dinheiro que lhe foi prometido. “Eu trabalho com leite faz mais de 30 anos. Nunca vi disso”, reclama. Ele calcula em R$ 13,5 mil os valores a receber, referentes aos meses de novembro e dezembro.

“Afeta nossa credibilidade no comércio local, pois nossos cheques estão voltando”, alerta Seibert, que também tem valores a receber da unidade que pertencia à multinacional LBR Lácteos do Brasil, também instalada em Estrela. “Está difícil trabalhar para as empresas desta região”, atesta ele, referindo-se ao Vale do Taquari. Em novembro, grupo da mesma região também realizou mobilização semelhante nesta outra indústria de laticínios.

Proposta aceita

“Tivemos que aceitar.” Esta foi a frase de Antônio de Almeida Rodrigues, produtor de Júlio de Castilhos, e um dos interlocutores do grupo. Segundo ele, a empresa pagou 30% dos valores referentes a novembro. As outras quatro parcelas serão pagas nos dias 12 e 30 de janeiro, e 15 e 28 de fevereiro.

Em nota oficial, a Santa Rita Laticínios tentou esclarecer os atrasos nos pagamentos. Conforme o advogado Diogo Merten Cruz, o fato decorre do agravamento na crise de preço que afeta o mercado de laticínios, bem como pelo recesso de fim de ano. Ele também cita a situação do setor leiteiro, que, segundo ele, foi afetado por inúmeras denúncias de fraudes.

O leite passou a ser visto com desconfiança pelo consumidor e isto prejudica a imagem de todos envolvidos na sua produção, além de derrubar o valor do produto. Hoje, a Santa Rita Laticínios emprega 140 funcionários e recebe diariamente cerca de 200 mil litros de leite de quase mil produtores rurais.

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