Falta de efetivo  fecha postos da PRF

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Falta de efetivo fecha postos da PRF

A possibilidade de cinco unidades da PRF pararem de funcionar em janeiro evidencia o pouco efetivo da corporação. O número de policiais se assemelha ao de 20 anos atrás. Líderes regionais e sindicato dos servidores repudiam a situação e cobram a nomeação de concursados. Ontem, comerciantes estiveram na superintendência estadual para pleitear a permanência das quatro unidades no Vale do Taquari.

Vale do Taquari – O número total de agentes da Polícia Rodoviária Federal (PRF) é um dos menores das últimas décadas. A falta de efetivo força o fechamento de postos às margens das rodovias e limita o poder de atuação do policiamento. No Estado, estão em serviço cerca de 700 policiais, quadro semelhante ao existente no início da década de 90.

04Nos 243 quilômetros de jurisdição da 4ª delegacia de Lajeado estão relacionados 51 servidores para exercer funções na área administrativa e operacional. Contudo, na prática, a situação é diferente: não passa de 12 o número de policiais em atuação durante o dia nos quatro postos da região – Montenegro, Tabaí, Lajeado e Soledade. À noite, o grupo cai pela metade.

De acordo com o chefe da delegacia, Adão Vilmar Madril, diversos são os fatores para a diferença. Alguns dos policiais estão alocados em outras regiões do Estado, mas os nomes continuam atrelados à delegacia de Lajeado. Também há sistema de escala, no qual a PRF precisa conceder folgas àqueles que fizeram horas extras. “Além disto, temos afastamentos por atestado médico, que neste mês são dois, e a concessão de férias.”

O principal imbróglio, ressalta Madril, está na falta de nomeação de novos servidores. Nos dois últimos anos, por exemplo, seis policiais da 4ª delegacia se aposentaram sem que houvesse reposição. “Este não é um problema isolado. Atinge todas as regiões gaúchas. Foram 80 aposentadorias neste ano no Estado. As pessoas encerram carreira e ninguém vem no lugar.”

Posto fecha em janeiro

Dos 42 postos no Rio Grande do Sul, seis encerraram as atividades nos últimos anos devido ao baixo efetivo. Outros cinco estão na iminência de fechar as portas em janeiro: Tabaí e Carazinho (BR-386), Santo Antônio da Patrulha e São Gabriel (BR-290) e Pinheiro Machado (BR-293). Os fechamentos seguem exigência da superintendência estadual da PRF, que nenhuma unidade permaneça operando com apenas um servidor por escala.

Na região, de acordo com Madril, o único a ter tal efetivo é o de Tabaí. Nos demais, varia de dois a três. “Três é o mínimo necessário para que desempenhemos um trabalho de qualidade. Como não existe condição de convocarmos pessoas de outras regiões, optamos em fechar de forma provisória. Não posso ser desumano com o colega sozinho lá e cobrar que ele fique 24h com o posto aberto.”

A unidade de Tabaí existe desde o fim da década de 70. No começo, a estrutura era utilizada pela Polícia Rodoviária Estadual (PRE). Construído entre as faixas, o posto oferece monitoramento de importantes ligações entre o Estado, como para Taquari e Santa Cruz do Sul. Em média, 30 mil veículos passam diariamente pelo local.

Com o fechamento, o efetivo da cidade será realocado para Lajeado e Montenegro. Neste último, policiais se queixam de diversos problemas na estrutura do prédio. Entre eles, a água é imprópria para o consumo, redes de luz, internet e telefone oscilam e, em determinados períodos, chegam a ficar inoperantes, como ontem.

Líderes apostam em pressão política

No início deste mês, o presidente do sindicato da PRF no Estado, Deolindo Paulo Carniel, encaminhou ofício a bancada gaúcha dos deputados manifestando a dificuldade devido ao baixo efetivo e cobrando apoio.

De acordo com ele, 500 policiais já formados estão aptos para assumir, mas dependem de nomeação do governo federal. “As nomeações deveriam ocorrer antes da Copa do Mundo, mas ainda não foram efetivadas.” Aguardam ainda pelo curso de formação policial 766 pessoas, aprovadas no último concurso da PRF.

O deputado federal Enio Bacci, que assume vaga na Assembleia Legislativa em 2015, critica a postura do governo federal de fechar os postos. Cita que a PRF, além da função administrativa, tem grande eficácia no combate ao tráfico de drogas. “A corporação já superou em apreensões a Polícia Civil e a Brigada Militar e está competindo com a Polícia Federal. Isso só é viável devido ao número de postos existentes.”

Há 20 dias participou de um encontro na bancada gaúcha, quando deputados debateram alternativas ao problema. Conforme Bacci, os parlamentares estão engajados em pressionar a União a nomear novos policiais. “Mas, devido ao período de fim de ano, tudo fica difícil. A questão só avançará a partir de fevereiro. Só um canetaço da presidente para agilizar isso. É o que estamos tentando.”

O parlamentar promete agenciar uma reunião entre os deputados e o governador eleito José Ivo Sartori para o início de 2015, na qual se cobrará ao chefe do Palácio Piratini para que leve a reivindicação a Brasília. “Apresentaremos estatísticas e mostraremos o quão importante são as nomeações. Não adianta termos mil viaturas, se não temos pessoas o suficiente e bem preparadas para trabalhar. Economizar nessa área é de alto risco.” Bacci pede o apoio dos prefeitos. “Precisamos unir esforços. Creio que só a pressão política vai resolver.”‑

Moradores prometem novo bloqueio

No fim da tarde de ontem, integrantes da manifestação que bloqueou a BR-386 por três horas na quinta-feira passada durante protesto ao fechamento do posto de Tabaí, estiveram reunidos com a superintendência da PRF no Estado. O grupo exigiu que a unidade permaneça operante. A reunião estava pré-agendada para as 10h, mas ocorreu apenas às 18h

De acordo com um dos participantes, o comerciante Dailon Ferronatto, Tabaí foi construída às margens da BR-386 e depende da rodovia. No município, observa, há apenas um policial rodoviário e um militar. “Não podemos aceitar que fechem uma unidade importante, com as justificativas apresentadas e realoquem o efetivo para Montenegro.”

Em reunião ontem entre superintendência da PRF e comissão de moradores, a decisão sobre o fechamento do posto foi adiada. O comando da polícia ficou de dar uma resposta sobre a situação na próxima semana, diz Ferronatto.

Mas a tendência é que o posto de Tabaí encerre as atividades em janeiro. “Disseram que a prioridade é manter os agentes em Montenegro.”

A partir disto, dependendo da resposta da próxima semana, moradores e comerciantes de Tabaí pretendem fazer uma nova manifestação. “Vamos nos reunir no fim de semana, ver que tipo de ato vamos promover”, frisa Ferronatto.

Segundo ele, grupo buscará apoio de outras entidades e líderes regionais para evitar fechamento da unidade.

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