Teutônia – Os caminhos da recuperação da Languiru estão agora registrados em um livro escrito por quem viveu na pele o percurso de sair dos números negativos e ameaçadores para elevar a cooperativa a uma potência estadual.
O lançamento do livro ocorre hoje e apresenta a história recente da entidade. Doze anos depois de estar à beira da falência, a Cooperativa Languiru vive seu melhor momento. Com resultados positivos a cada ano, desperta a confiança não só no RS e Brasil, mas no exterior: exporta os 550 produtos para 40 países. Segundo a Revista Amanhã – especialista em gestão, economia e negócios – a entidade é a 57ª no ranking das maiores empresas do Estado.
Para tanto êxito, foi preciso sacrifícios e dedicação integral. Bayer é engenheiro agrônomo de profissão, está na presidência da Languiru desde 2002, quando iniciou, com o Conselho de Administração, um programa de recuperação.
Com formação em MBA em Gestão de Cooperativas e Gestão Estratégica do Agronegócio, integra o Conselho de Administração das cooperativas Sicredi Ouro Branco, da qual é sócio-fundador, e da Certel Energia.
Em 2013, o faturamento da empresa apontou para R$ 845 milhões. A previsão para até o fim deste ano é de alcançar cerca de R$ 1 bilhão. A Languiru tem 5,8 mil associados distribuídos em 60 municípios gaúchos e 2,9 mil colaboradores, com mais de 35 mil pessoas ligadas direta e indiretamente a suas atividades. Tem unidades industriais e comerciais em 13 municípios do Estado, com distribuição de seus cerca de 550 produtos em 23 estados.
Em 2015, completará 60 anos de fundação e vive momento histórico, bem diferente do que existia em 2002, quando um rombo da cifra de milhões assolava a entidade.
Uma vida dedicada ao cooperativismo
A Hora – Quem era Dirceu Bayer antes da Languiru?
Dirceu Bayer – Meus pais eram pequenos agricultores da localidade de Boa Vista. Morávamos numa casa humilde. Fiz um curso de Técnico Agrícola no Colégio Teutônia. Depois me formei como engenheiro agrônomo em Santa Maria. Participei de concurso público em Chapecó, Santa Catarina e passei a trabalhar na Alfa (é a Emater daqui). Voltei para Teutônia e coordenei o Departamento Agropecuário. Fui integrante do Conselho Participativo da entidade e depois assumi a vice-presidência, de 1990 até 2002, quando me tornei presidente.
Quais as principais dificuldades encontradas ao assumir a cooperativa em 2002?
Bayer – Tínhamos perdido a confiança da sociedade. Não havia crédito com os produtores, fornecedores e bancos. Contratamos uma auditoria externa permanente para fazer os balanços e mostrar transparência. Um planejamento estratégico foi feito. Vendemos o frigorífico de Bom Retiro do Sul para pagar algumas dívidas. Recuamos, num primeiro momento. Os balanços eram ruins. Apesar de estarmos no vermelho e com péssimas previsões a curto prazo, nunca atrasamos os pagamentos dos funcionários. Conquistamos novos prazos com os bancos e recuperamos a confiança para novos créditos. Durante três anos, pagamos dívidas. Só em 2005 a Cooperativa Languiru deu o primeiro sinal de recuperação.
Qual a diferença entre administrar uma cooperativa e uma empresa?
Bayer – Nenhuma. Tive que sair da minha área prática de agronomia para entender como funcionava os negócios. Mergulhei nos números, precisei ficar por dentro da contabilidade, das finanças. Os balanços são fáceis de ser maquiados, por isto tem que estar atento.
O que leva de lição que ajuda a seguir em frente?
Bayer – A fé, a força de vontade e a persistência, mas principalmente a fé. Sei que se não fosse o caráter cooperativo não sairia desta situação e os funcionários depositaram confiança na nova proposta, mas foi preciso humildade, honestidade, transparência e não esquecer das origens. Diante das dificuldades, é preciso manter a humildade e acreditar que é possível. Tem que estar preparado. O cooperativismo prega isto na sua essência. O que se fala hoje não se pode mudar amanhã ou depois.
Diante de tantas dificuldades ao assumir a presidência, você dedicou muito tempo à cooperativa. E a família?
Bayer – Uma das coisas que me arrependo foi de não acompanhar, como pai, o crescimento dos meus filhos. Pelo menos não como acho que deveria. Sacrifiquei minha esposa que ficou sobrecarregada com isso. Abri mão da minha vida particular. O foco era a recuperação da Languiru. Não tinha horário. Era dedicação integral. E isto me impossibilitou de acompanhar a evolução dos filhos. Cada uma das descobertas suas e cada dúvida também. (suspira). Enfim, foi uma escolha que tive que fazer e recebi todo o apoio da minha família, embora sentissem muito minha falta.