Taquari – O governo municipal removeu na tarde de ontem a estátua em homenagem ao general Artur da Costa e Silva. A mudança é resultado do relatório da Comissão Nacional da Verdade (CNV), que atestou os crimes cometidos pela Ditadura Militar.
O relatório acusa Costa e Silva de cometer graves violações aos direitos humanos durante os primeiros anos do regime militar. Natural de Taquari, foi um dos principais organizadores do golpe e presidiu o Brasil entre 1967 e 1969.
De acordo com o secretário de Cultura, Leandro Mariante, a administração municipal decidiu remover o busto após a divulgação dos resultados da CNV. Ele será levado para a Casa Costa e Silva, antiga moradia da família onde funciona um museu com objetos pessoais do ditador.
Segundo Mariante, a localização da estátua não era a adequada para a exposição de um ditador. Desde 1976 ela ficava às margens da Lagoa Armênia, em local que hoje abriga encontros e atividades culturais, proibidos durante a maior parte do regime.
Junto ao busto havia uma placa com texto que dizia que Costa e Silva havia organizado no local, ainda na infância, seu primeiro pelotão de meninos e “comandou com altruísmo o Brasil e o povo brasileiro”.
No novo local a imagem do ex-presidente estará acompanhada de uma cópia do relatório da CNV. Para o secretário, a medida permitirá que visitantes e moradores possam entender melhor a história que inclui o general. “Não somos contra o Costa e Silva, mas a informação permitirá que cada um faça seu próprio juízo sobre o que a Ditadura representou para o Brasil.”
Segundo ele, antes de retirar a imagem a administração municipal fez uma pesquisa que assegurou a legalidade da ação. O Executivo pretende enviar uma nota para a comunidade, explicando os motivos da mudança.
Moradores criticam decisão
A remoção do monumento causou confusão na comunidade. Segundo testemunhas, algumas pessoas tentaram impedir o trabalho, realizado por uma equipe da prefeitura e foram contidas pela polícia.
No local, um grupo de 11 moradores criticavam a ação. Nascido na cidade, o aposentado Paulo Roberto Martins, 64, se disse espantado. “Os vizinhos começaram a comentar e tive que ver com meus próprios olhos (sic), mas não consigo acreditar.”
Vizinho da Lagoa Armênia, relata que nenhum morador recebeu explicações sobre o ocorrido. Para ele, a ação foi arbitrária. “Deveriam ter feito uma consulta pública e não retirado o monumento. Querem apagar a história a força”, reclama.
Uma senhora lamentou a retirada porque a estátua fazia homenagem a um conterrâneo. “Não interessa o que ele fez, isso já passou. O que importa é que foi um presidente nascido na nossa cidade e faz parte da história de Taquari.”
Já o aposentado Miguel Romeiro dos Santos, 65, enalteceu a atuação do militar. “Costa e Silva sempre foi bom. Por ser daqui, sempre fez muito por nós”, alega.
Quem foi
Nascido Taquari no dia 3 de outubro de 1899, Artur Costa e Silva estudou nas academias militares de Porto Alegre e Rio de Janeiro. Foi promovido a General em 1961 e comandou a Terceira Região Militar no Rio Grande do Sul, a Segunda Divisão em São Paulo e o IV Exército em Pernambuco, entre outro postos.
Foi um dos principais articuladores do golpe militar que retirou do poder o então presidente eleito democraticamente, João Goulart. Foi ministro do exército do primeiro presidente do regime, Humberto Castelo Branco e assumiu o maior cargo do país em 1966.
Em 1968, após uma série de manifestações que criticavam o regime instituiu o Ato Institucional n° 5 (AI-5), que concedeu poderes totais ao presidente, permitiu o fechamento do Congresso Nacional, Assembleias Legislativas e Câmaras Municipais.
Artur da Costa e Silva morreu no Rio de Janeiro, no dia 17 de dezembro de 1969, vítima de um acidente Vascular Cerebral.
