Imigrante – Era 13h45min. A massagista Luciane Birkheuer, 43, saía de casa para sacar dinheiro na agência do Bradesco, no outro lado da avenida Doutor Ito João Snel. Neste momento, um grupo de assaltantes começou a atirar para diversas direções, especialmente contra o prédio da instituição financeira, onde também funcionam o Banrisul e uma lotérica da Caixa.
Luciane se deitou no chão e foi engatinhando até a entrada da residência. Depois de fechar a porta e encostar-se na parede, passou a ouvir a movimentação externa. Os criminosos renderam um caminhoneiro que transportava ração pelo local e atravessaram o veículo, assim como um carro branco, sobre a rua. Populares e funcionários dos estabelecimentos foram feitos reféns e, de mãos dadas, tiveram de servir como “escudo humano” durante a ação.
De acordo com as testemunhas, eram sete assaltantes. Enquanto cinco invadiram a agência do Bradesco, os demais permaneceram na rua. Para entrar no prédio, os bandidos atiraram contra os vidros e os derrubaram com machadadas. “Eles gritavam muito. Pareciam estar supernervosos. Ameaçaram as vítimas de matá-las, caso a polícia fosse acionada”, relata Luciane.
Minutos depois, o grupo deixou o Bradesco e, com o mesmo sistema, invadiu a sala do Banrisul. Segundo informações preliminares, apenas o dinheiro depositado nos caixas de ambas instituições foi levado. Os ladrões chegaram a entrar na lotérica, mas não levaram qualquer quantia. O funcionário da casa comercial teria escondido as cédulas.
Em seguida, o grupo se dividiu em dois veículos e escapou, levando duas funcionárias das agências bancárias. Uma delas usava uma corrente de ouro e os bandidos teriam dito: “queremos apenas dinheiro dos bancos”. Cerca de dois quilômetros distantes, no sentido de linha Imhoff, as reféns foram liberadas e um dos carros, incendiado: um Vectra, com placa de Caxias do Sul, CDL-3736. Conforme moradores, os assaltantes continuaram a fuga em outro veículo.
A massagista Luciane registrou todos os momentos da ação em conversa com suas amigas por meio de mensagens telefônicas. A primeira foi enviada às 13h47min, na qual pede socorro (já passados cerca de dois minutos da chegada do bando). Às 14h, avisa que os bandidos havia escapado. Segundo a Polícia Civil, os assaltantes estavam equipados com armamentos exclusivos do exército (9mm e 45mm).
Único PM de plantão
Apenas um policial trabalhava naquele horário. O sargento da BM, Roberto Belmonte, recém havia chegado no quartel quando o telefone tocou. Um morador avisava do assalto. Na sequência, as ligações foram contínuas. Em uma delas, um funcionário público, parado na esquina do quarteirão acompanhando a movimentação da quadrilha, repassava informações ao militar.
Consciente sobre os riscos de tentar render sete assaltantes, preferiu avisar policias de outras cidades para que pudessem organizar barreiras e interceptar o bando. Então seguiu de viatura até um ponto do centro de onde pudesse ver a avenida e o grupo, preparado para uma possível intervenção imediata. “Além da inferioridade numérica, tinha o risco de alguém se ferir durante uma troca de tiros. Por isso não intervi.”
No rota de fuga, os criminosos passaram em frente a viatura. Belmonte tentou persegui-los, mas foi surpreendido com miguelitos deixados sobre a pista. O policial têm 23 anos de corporação, sete deles na cidade de Imigrante.
Os disparos foram ouvidos de diversos pontos da cidade. Há uma quadra do assalto, o jornalista Paulo Eidelwein, 56, estava dentro da residência quando o tiroteio começou. Neste momento, uma vizinha chegou correndo, pedindo para acionar a polícia. “Me tranquei dentro de casa e tentei ligar para a BM, mas o telefone sempre estava ocupado.”
Suspeito está preso
O delegado Humberto Messa Rohrig associa a ação do bando a uma quadrilha especializada. “Eles estavam bem preparados, fortemente armados. Eram profissionais.” A principal suspeita, é que os criminosos sejam de Caxias do Sul, pois eles fugiram em direção ao distrito de Daltro Filho. A região liga a diversas comunidades e municípios, entre eles, Boa Vista do Sul e Garibaldi.
Na metade da tarde, agentes do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), de Porto Alegre, chegaram ao município. A polícia recolheu imagens das câmeras de vigilância da lotérica, ferramenta que pode facilitar a identificação dos suspeitos.
Durante a tarde, um homem de 35 anos foi detido depois de ser abordado em barreira montada pelo policiamento em Coronel Pilar. Com as características dos suspeitos, foi levado até a delegacia e reconhecido por testemunhas. No veículo, um Santana, transportava água e pães, supostamente para o restante da quadrilha. Morador de Caxias do Sul, foi preso em flagrante e conduzido ao presídio de Lajeado.
Pelas informações preliminares, a polícia descarta ligação do grupo no assalto a Paverama, ocorrido na quinta-feira da semana passada.
