Paverama – Os oito mil habitantes vivenciaram cenas de pavor no início da manhã de ontem. Uma quadrilha de criminosos assaltou um bazar que também funciona como correspondente do Banrisul. A loja fica na rua 4 de Julho, a principal da cidade, em frente à prefeitura. Durante a fuga, oito tiros acertaram a viatura do único policial militar que estava na cidade no momento. Pulseiras de ouro, relógios, cheques e valores não divulgados foram levados.
A ação durou menos de cinco minutos. Seis pessoas estavam no bazar quando um homem magro, de jaqueta branca, entrou. Ele foi em direção ao balcão de atendimento, onde a funcionária Pâmela de Souza, que trabalha faz dois anos no local, o atendeu. “Ele pediu para ver correntinha de pulso de ouro para mulheres. Não desconfiei de nada. Sempre vem bastante gente de fora da cidade aqui”, conta.
Pâmela mostrou alguns produtos ao criminoso. O breve atendimento foi interrompido pela entrada brusca de um outro homem, este encapuzado. “Ouro e cofre. Vamos.” Foram as únicas palavras que ela ouviu. Por uma porta lateral, outro bandido com o rosto escondido entrou no estabelecimento. Os dois renderam duas gerentes, duas funcionárias e uma cliente.
Uma das gerentes, Ivani Dickel, ex-primeira-dama do município, levou uma coronhada na cabeça após tentar esconder algumas joias dentro da roupa. “Ele só dizia que iria me matar. E quando viu em me mexendo, me agrediu. Fiquei toda cheia de sangue”, lembra. Uma outra proprietária da loja, rendida pelo outro bandido encapuzado, não chegou a ser agredida. “Ele disse que não faria mal a ninguém. Agora penso em encerrar essa parceria com o Banrisul. Pois isso chama a atenção.”
Enquanto os dois encapuzados recolhiam pertences e valores que seriam utilizados no pagamento dos funcionários, o primeiro criminoso mostrou uma arma para Pâmela e pediu que ela o levasse até o depósito. Ele encostou a pistola na cabeça dela e ordenou. “Coloca tudo na sacola.” Segundo a funcionária, o único bandido que entrou sem esconder o rosto não lhe agrediu.
De dentro do depósito, escutaram o primeiro tiro vindo de fora do estabelecimento. Um policial havia chegado ao local, e foi recepcionado a tiros por um quarto bandido, que aguardava o trio em um Vectra bordô, estacionado em frente a loja. “Ele tirou a arma da minha cabeça e começou a me empurrar em direção à porta.” Os três criminosos gritavam. “Sujou, sujou.”
Os dois encapuzados deixaram a loja antes de Pâmela e o outro bandido. A funcionária ainda se agarrou à porta, assustada com a sequência de tiros que ocorria no lado de fora. Não adiantou. Ela serviu de escudo. “Não atira que nós temos uma refém”, gritaram ao policial militar, José Luís Leindecker. Ela e os três criminosos entraram no veículo e iniciaram a fuga. Pâmela foi sentada no banco de trás, entre dois criminosos.
“Atiraram por trás da minha cabeça”
Antes mesmo de deixarem o local, eles ainda dispararam mais algumas vezes contra a viatura de Leindecker. “Um deles colocou a arma atrás de mim. Eles atiraram por trás da minha cabeça, e estraçalharam o vidro do veículo.” Logo depois, iniciaram uma fuga em alta velocidade pelas pequenas ruas centrais. Andaram na contramão e desconsideraram todos os quebra-molas. “Pareciam loucos. Pediam uns aos outros: mais balas, mais balas.”
Pâmela conta que um dos bandidos não queria que ela fosse libertada. Outros dois gritavam. “Larga essa v… aí. Larga ela e vamos pro mato.” Em seguida, a funcionária foi retirada do veículo em frente ao prédio do hospital. Caiu no chão e logo foi socorrida por parentes e amigos que trabalham próximos ao local. Em choque, foi atendida e passa bem.
Carro abandonado
O Vectra foi encontrado na localidade de Santa Manuela. Ele estava atolado em uma pequena estrada de carroça. Com jatos de um extintor de incêndio, os bandidos tentaram apagar as impressões digitais. Dentro do veículo, os policiais encontraram um casaco, uma barra de cereal, um pote com comida e duas xícaras. Havia uma marca de tiro no vidro traseiro esquerdo, causado pelos próprios ladrões.
Policiais de Montenegro, Brochier, Teutônia e outras cidades vizinhas auxiliam na tentativa de encontrar os bandidos. Diversas barreiras foram montadas, e todos os veículos eram parados. Até o fechamento da edição, não haviam informações sobre um possível outro veículo utilizado na fuga. A suspeita é que os bandidos estejam escondidos no mato, ou em alguma propriedade rural.
A recuperação do carro trouxe alívio para um funcionário público de Bom Retiro do Sul. O proprietário do Vectra foi assaltado no fim da tarde de quarta-feira. Ele estava em frente à Caixa Econômica Federal (CEF) de Lajeado, na rua Júlio de Castilhos. “Estava claro ainda, e muitas pessoas caminhando no centro. Estava com minha filha de 1 ano e meio no banco de trás. Dois chegaram armados, e me deram tempo para retirar a pequena do carro.”
“Não disparei contra eles”
O soldado José Luís Leindecker estava sozinho no momento do assalto. Sua viatura foi atingida com oito disparos.
Jornal A Hora – Conte como você foi avisado do fato e como chegou até o local.
Leindecker – Recebi uma ligação de um vigilante do Banrisul. Eu estava próximo ao local. Ele disse ter visto movimentação estranha em frente à loja. Passei pelo Vectra, mas não vi ninguém dentro. Também não vi nenhuma atendente no balcão. E elas sempre estão ali. Dei meia volta e resolvi encostar o carro do outro lado da rua. Foi então que, de dentro do carro, um indivíduo apareceu no banco do motorista e começou a atirar, antes mesmo de eu ter parado o carro. Ele estava sem máscara.
Qual foi sua reação?
Leindecker – Eu deitei no banco e consegui sair pela porta do caroneiro. Saí meio que me arrastando e usei a viatura como escudo. Eles seguiam atirando. Pelo menos oito disparos atingiram minha viatura. Quando cessaram um pouco, eu consegui me erguer e apontar minha arma para eles. Vi os demais saindo da loja com a refém. Eles mandaram eu não atirar por causa disso, e eu não tinha outra opção. Depois de entrarem no carro, ainda deram mais alguns tiros em minha direção. Não fui atingido.
O que aconteceu depois disso?
Leindecker – Voltei para a viatura e iniciei uma perseguição. Mas eles entraram em várias ruas e eu acabei os perdendo de vista. Depois que fui avisado da liberação da refém, e com a chegada de mais reforços, iniciamos uma busca mais apurada pelo interior. Foi quando encontramos o veículo. Depois passamos a tarde inteira realizando buscas. Pelo menos 20 brigadianos e 15 policiais civis participam da busca, com auxílio de um helicóptero.
Você trabalha sozinho? Já havia passado por isso?
Leindecker – Geralmente tem um policial apenas atuando por turno. E já passei por isso, aqui mesmo em Paverama. Em 1995, durante um assalto a banco, quando um vigilante foi alvejado. Estou aqui faz mais de 18 anos.