Diretoria sustenta Fracaro  na presidência do HBB. Dívida ultrapassa R$ 21 milhões

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Diretoria sustenta Fracaro na presidência do HBB. Dívida ultrapassa R$ 21 milhões

Declarações de médicos do Corpo Clínico fizeram a diretoria do HBB convocar imprensa para falar sobre mudanças implementadas no hospital e rebater críticas, classificadas como levianas, mentirosas e mesquinhas. Mesmo assim, chama os profissionais ao diálogo para estancar as brigas existentes. Conflitos fizeram Estado refazer auditorias e procrastinar pagamentos referentes ao SUS. Dívida da instituição passa de R$ 21 milhões, o que representa 28% em relação a receita anual.

oktober-2024

Lajeado – A direção do Hospital Bruno Born reuniu a imprensa ontem de manhã para mostrar coesão em torno das mudanças praticadas na gestão e nos serviços desde a troca dos diretores. Ao mesmo tempo, apresentou números e esclarecimentos do Conselho Fiscal para desfazer as acusações dos médicos do Corpo Clínico, em relação a serviços da UTI, problemas financeiros e contra o presidente Claudinei Fracaro. Representante do Corpo Clínico, Roberto Wagner declinou do convite de participar do encontro.

04Os integrantes da diretoria relacionam a insatisfação dos médicos às necessárias reformas e à modernização dos serviços em vigor no HBB. Citam a mudança no contrato proposto à Angiocath que faz serviços de cardiologia, como estopim de toda a revolta. “Estamos tentando cortar os benefícios dos sócios da Angiocath, que ganham sobre os exames feitos com máquina comprada pelo HBB. Acordo feito no passado que não pode continuar”, declara um dos integrantes da diretoria, Marcos Franck.

Ney Lazari, reitor da Univates e membro da diretoria, disse que é necessário “parar com a mesquinharia e de fazer fofoca. Quase uma lavadeira.” Elogia a capacidade e qualidade dos médicos do Corpo Clínico, mas convoca para acordo em torno das mudanças. Para ele, a gestão do HBB passa por “nova realidade” e todos precisam se adaptar. Reafirma que acordos e práticas feitos no passado não podem ser repetidos ou mantidos agora. “Isso os médicos precisam aceitar.”

O representante do Conselho Fiscal, André Jaeger, garantiu ter feito uma análise aprofundada sobre as contas e movimentações dos últimos anos. “Não encontrei nada. Não tem caos financeiro.” Pede ao Corpo Clínico apresentar provas sobre as acusações feitas à diretoria sobre má gestão, desvios, ou incompetência. “Não tem prova de nada, de nenhuma falcatrua ou desmando interno”, esbraveja. “Serei o primeiro a pôr na mesa caso alguma coisa concreta for encontrada.”

Jaeger também lembrou do pedido do presidente Claudinei Fracaro em ser remunerado, a partir de mudança nos estatutos. “Neste momento não, pois com problemas financeiros não podemos abrir mais uma despesa.” Jaeger ainda falou sobre a remuneração dos médicos e critica a postura destes diante de salários elevados. “Tem gente ganhando R$ 30 mil por mês e reclamando da gestão do HBB.”

Representação judicial

A diretoria do HBB voltou a falar sobre as declarações do ex-diretor técnico e médico pneumologista Claudio Klein, referentes a supostas irregularidades praticadas na UTI. Anunciaram representações judiciais contra Klein e denúncias contra o médico ao Cremers. Márcio de Andrade Oliveira, atual diretor técnico, reforça que o uso dos leitos da UTI é regulado pela central do Estado, sem qualquer ingerência local. “Quem determina a internação é o estado de gravidade do paciente. Esse é o compromisso de quem tem zelo pela saúde.”

Os diretores também falaram sobre os pedidos pela realização de uma assembleia e a tentativa dos médicos em destituir o presidente Fracaro. “Parece que querem colocar um novo presidente, mas não dizem nem assumem quem e como querem”, dispara Marcos Franck.

André Jaeger apresentou estatuto social do HBB, no qual esclarece as regras para convocar assembleia extraordinária. “Os sócios podem convocar, desde que respeitem o que consta no estatuto. Ninguém poderá se opor, desde que o pedido por assembleia tenha o número mínimo de assinaturas”, esclarece.

Eles querem um diálogo de surdos”

O diretor do Corpo Clínico, Roberto Wagner, insiste nas críticas contra o diretor técnico e desfaz afirmações da diretoria. Veja a seguir:

A Hora – O Corpo Clínico foi convidado para participar da reunião de ontem de manhã. Por que não veio?

Roberto Wagner – Este assunto é delicado e não poderia ser discutido na frente da imprensa. Não participei por causa disso. Nós queremos sentar e resolver este assunto com a diretoria, sem intermediários.

A Hora – A diretoria reclamou que ainda não foi comunicada da troca da direção do Corpo Clínico. Para ela e o Cremers, o diretor clínico ainda seria o dr. Alain Viegas Detobel. Quando você assumiu? Tem ata da reunião? Por que o Cremers não foi comunicado e nem a diretoria?

Wagner – Fui eleito em outubro, pela maioria simples. O Cremers não foi comunicado por lapso da nossa secretária, mas já informamos o Cremers na semana passada. A diretoria está criando um caso diante disso para nos acusar de algo de errado. Nós não somos obrigados a informar a diretoria sobre nossa reuniões. Nos baseamos no regimento do Cremers, que é bem claro. Eles (diretoria HBB) querem que adotemos o regimento do HBB para tirarem nossa autonomia. Não permitiremos isso. Não devemos explicações sobre nossas reuniões, muito menos mandar as atas sobre as decisões.

A Hora – A diretoria afirma que o estopim de tudo é a Angiocath. Cita que esta não aceita perder os benefícios dos sócios que estariam usando a máquina comprada pelo HBB.

Wagner – Não é verdade. Os problemas surgiram quando sete médicos da UTI pediram demissão por estarem incomodados com o tratamento do diretor técnico. A Angiocath, como tantas outras empresas dentro do HBB, não aceita entregar seus equiapmentos sem ressarcimento. A diretoria está invertendo as coisas para criar apelo popular. A saída dos médicos da UTI foi o estopim e nada além.

A Hora – O Corpo Clínico acusa o novo diretor de autoritário e ditador e que não abre diálogo. Por que enviaram carta à direção do HBB pedindo para não participar mais das reuniões da diretoria?

Wagner – Essa carta foi enviada há mais de dois meses, pela doutora Viviane Fernandes, que na época representava o Corpo Clínico. Ela não tinha voz nem vez nas reuniões e por isso preferiu se afastar. Agora inverteu. Tudo que os médicos estão pedindo é sentar com eles e resolver as coisas. Eu represento 150 pessoas com nível superior e que merecem ser respeitadas. O que a direção está propondo é um diálogo de surdos, onde só um fala e o outro não tem voz. Esse general (diretor Márcio) aparece como dócil e simpático, mas age como ditador.

A Hora – A maioria dos médicos do Corpo Clínico é sócia do HBB. Diante dos expostos, mantém-se o desejo de convocar assembleia extraordinária e tirar Claudinei Fracaro da presidência?

Wagner – O Corpo Clínico não patrocinará isso. Quem deve convocar uma assembleia é a comunidade. Nós queremos é melhorar o ambiente de trabalho e a relação entre profissionais e a direção. Exigimos respeito e não essa truculência que se instalou no HBB depois da troca de diretores.

A Hora – O Corpo Clínico tem propenso nome para indicar à presidência, caso ocorra a assembleia? Está articulando assembleia?

Wagner – Não temos nada. O HBB não é da diretoria e nem do Corpo Clínico, e sim da comunidade de Lajeado e região. Nosso compromisso é com a saúde, e isso não podemos deixar em segundo plano nunca, muito menos agora.

Dívida passa de R$ 21 mi e resultado anual é negativo

Cristiano Dickel, diretor executivo, apresentou números que atestam as dificuldades financeiras da instituição. Cita a tabela defasada do SUS, o novo contrato com o Executivo que reduz R$ 700 mil por ano o repasse do governo de Lajeado e o reajuste da folha de pagamento como principais geradores do problema financeiro.

A dívida do HBB com instituições financeiras passa de R$ 21 milhões, o que representa 28% da receita anual. Em 2008 passava dos 50% em relação aos R$ 35 mi arrecadados. A casa de saúde emprega 934 funcionários. O dissídio praticado durante o ano representou um aumento de 32% no custo total. Para conseguir equilibrar as contas, a cada mês, o HBB precisa arrecadar R$ 8 milhões. Só com honorários médicos, o custo passa de R$ 2 milhões ao mês.

Estado garante nova UTI pediátrica

A Vigilância Sanitária estadual aprovou no dia 13 o projeto de construção de um novo espaço para UTI pediátrica no Hospital Bruno Born. A nova estrutura está prevista para ser feita no andar acima da emergência, conforme aprovado pelo governo de Lajeado.

A construção do espaço está prevista em R$ 2,5 milhões, com repasse de R$ 2,1 mi do Estado e contrapartida de R$ 400 mil do HBB.

Após a assinatura do convênio, prevista para os próximos dias, o hospital aguarda confirmação de data para a liberação do dinheiro. Uma vez recebido o recurso, a previsão de concluir a obra é de um ano, informa a assessoria de imprensa do hospital.

A UTI terá dez leitos, dos quais oito para o SUS e dois privados. Para a internação, serão 26 leitos. Os espaços serão os únicos do Vale do Taquari.

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