Lajeado – A briga interna entre médicos e diretores do Hospital Bruno Born (HBB) parece longe de um desfecho. O clima é pesado e já atinge quase todos os setores da casa de saúde. Ontem, o ex-diretor técnico, o médico pneumologista Cláudio Klein, denunciou supostos problemas em atendimentos na UTI. Ele também critica o presidente Claudinei Fracaro, culpando a atual gestão pela crise interna. Grupo pede uma assembleia extraordinária com os sócios da Sociedade Beneficente, mantenedora da instituição filantrópica.
As denúncias são graves. Conforme Klein, o novo diretor técnico do HBB, Márcio de Andrade de Oliveira, estaria impondo a liberação inadequada de pacientes internados na UTI. O objetivo seria a maior movimentação de particulares, o que geraria maior lucro ao hospital. Hoje, são 15 leitos destinados ao SUS e outros cinco aos conveniados. “Dar alta ao paciente requer uma discussão entre equipes e médico responsável. Mas ele (Márcio) assina a liberação sem discutir com ninguém”, afirma Klein.
O médico garante que este fato foi o estopim para uma série de discussões internas que culminaram – na semana passada – em sete pedidos de demissão na UTI. Praticamente metade da equipe médica disponível para o setor. “Houve graves conflitos lá dentro”, afirma. Ele reitera que os profissionais saíram por não compactuarem com a suposta medida tomada pela direção para abertura de vagas na UTI. “Eram pressionados a colocar pacientes com convênio, desconsiderando questões técnicas.”
Klein afirma que o fato não teria prejudicado a saúde de pacientes. Para ele, o problema maior é a escolha de critérios para as internações. “O paciente recebe alta e vai pro quarto. Qualquer complicação e ele volta rápido para a UTI. Mas o problema está em dar alta só para gerar mais diária. E ele (Márcio) disse isso em reuniões. Afirmou que a UTI tem que dar retorno, tem que movimentar. Que temos que colocar convênio para dentro.”
O ex-diretor técnico também questiona a formação técnica do sucessor e cobra uma assembleia extraordinária para tentar mudar a direção. “Não estão bem claras quais as especialidades dele”, critica. Em entrevista à Rádio Independente, ontem de manhã, ele se referiu a Márcio como um profissional “aparentemente” intensivista. Klein afirma que o novo diretor atua de forma “capitalista”, e que a diretoria estaria optando por práticas para gerar lucro em detrimento de questões técnicas e éticas da medicina.
Credenciamento do SUS
“A saída de alguns profissionais intensivistas da UTI pode fazer com que o HBB seja descredenciado pelo SUS”, afirma Klein. Segundo ele, há apenas dois atuando no momento, entre eles, o novo diretor técnico. “Mas o profissional responsável já avisou que deixará o HBB caso não haja mudança na atual diretoria.”
Atual diretor administrativo, Cristiano Dickel, rechaça a afirmação do pneumologista. “Atualmente atendemos 74% pelo SUS, quando legalmente é 60%. A UTI faz parte de um credenciamento global. E sendo de suma importância para a população não há menor possibilidade de descredenciamento.”
O presidente do HBB, Claudinei Fracaro, prefere não se manifestar neste momento sobre as declarações e críticas feitas pelo ex-diretor técnico. Diz que está preocupado com as repercussões geradas pela série de confusões internas, e que teme a perda de novos investimentos. Segundo ele, muitas inverdades estão sendo ditas contra a nova equipe de direção.
Nenhuma denúncia no Cremers
A denúncia apresentada ontem por Klein não foi encaminhada ao Conselho Regional de Medicina do Rio Grande do Sul (Cremers). O pneumologistas também não garante se levará o assunto até a entidade. “Não sei se haverá denúncia. O pessoal acha que tem que denunciar, mas é difícil provar. Sabia disso, mas resolvi abrir o jogo. Os colegas também garantem essa prática, que ocorre com frequência.”
O jornal A Hora encaminhou o assunto ao Cremers, que afirmou a intenção de iniciar um processo investigatório sobre o caso. O Conselho confirma ainda que nenhuma denúncia oficial foi encaminhada por médicos do HBB. Segundo a assessoria de imprensa, “o Cremers está tomando providências para verificar a situação mas, de acordo com o presidente Dr. Fernando Matos, não pode comentar sob pena de comprometer essa investigação.”
Entrevista com diretor técnico, Márcio de Andrade de Oliveira
A Hora: Qual a posição do diretor técnico sobre as denúncias?
Márcio de Andrade de Oliveira: É uma inverdade, tendo em vista que o critério de alta é eminentemente técnico, onde o Dr. Arno (Arno Heinzmann) durante as manhãs discute cada caso com o médico da rotina. Temos como provar que a maioria dos pacientes é do SUS, chegando às vezes a 17, 18 leitos de ocupação para o SUS. O nosso movimento de convênios é muito pequeno. Quanto às afirmações feitas pelo Dr. Cláudio Klein, no que diz respeito à formação do diretor técnico, e suas colocações, elas serão respondidas nos fóruns competentes.
Dos 20 leitos, 15 são para pacientes SUS e 5 particulares. É possível atender, num mesmo momento, mais do que cinco pacientes particulares?
Oliveira: Sim, contudo, em nossa série histórica a maior parte da ocupação da UTI sempre foi destinada ao SUS, chegando inclusive a ultrapassar a quantidade de diárias. Os critérios de admissão dos pacientes em UTI não são definidos por tipo de convênio ou quantidade de leitos disponibilizados a cada um, e, sim, pela gravidade do mesmo e sua necessidade de internação e ou potenciais riscos de vida ou possíveis complicações.