Estrada precária motiva ajuda privada

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Estrada precária motiva ajuda privada

Instituições cedem máquinas ao município para reformar via de 13 quilômetros

Marques de Souza – Empresários agem diante da falta de dinheiro público. Proprietários de quatro olarias, uma serraria e um restaurante se unem para ajudar o município na conservação da estrada geral de Bela Vista do Fão. O trajeto de 13 quilômetros liga o distrito à BR-386.

02Caminhões das indústrias são utilizados para o transporte de saibro, enquanto o restaurante dá almoço grátis aos servidores. Novo mutirão está marcado para esta sexta-feira, dia 28, data prevista para o término da obra.

Com produção no distrito e no interior de Progresso, veículos das empresas trafegam pela via todos os dias. Pela estrada, também trafegam caminhões carregados de frangos, suínos e fumo. A ideia da parceria com o setor público partiu do administrador Junior Compagnoni.

Ele garante que os serviços compensam, pois a estrada em boas condições beneficia empresas e comunidade. Espera que a parceria se mantenha nos próximos anos.

Proprietário de uma olaria, Vendelino Rabaioli, ressalta que a iniciativa não quer substituir o poder público. Entende a dificuldade da administração municipal, e afirma que o gasto com máquinas não compromete as empresas. “É mais caro consertar caminhões do que as estradas.” Conta que um pneu custa R$ 1,5 mil, o que representa 550 litros de diesel.

Segundo Rabaioli, a comunidade poderia se espelhar no passado, quando os moradores ajudavam com equipamentos e mão de obra. Garante que ajudar dá mais retorno do que criticar. “É questão de bom senso. Se vê uma pedra na estrada, tira em vez de reclamar.”

O resultado da parceria está à vista. Motorista de ônibus, Irlei Beckel, elogia as condições do trecho que passou por obras.

Falta dinheiro

O fechamento da praça de pedágio, em 2013, aumentou o movimento de veículos na BR-386, de acordo com a Polícia Rodoviária Federal (PRF). No entanto, só um posto de combustível e alguns bares à beira da rodovia foram beneficiados pela mudança.

O saldo é a perda de quase 10% da arrecadação de Marques de Souza, cerca R$ 800 mil por ano. Prefeito em exercício, Guido Arendt afirma que o crescimento de Marques de Souza estagnou. Para poupar, servidores trabalham em turno único até o fim do ano.

Segundo Arendt, a parceria com o setor privado é importante para a administração vencer as dificuldades financeiras. Para cumprir a lei que estabelece percentual de repasse à Saúde e à Educação, de acordo com Arendt, as secretarias de Obras e Agricultura ficam sem dinheiro. “Com mais os 40% do funcionalismo já fechamos grande parte do orçamento.”

De acordo com o secretário de Obras, Henrique Kalsing, a população precisa entender que sem dinheiro não há como atender todas as reivindicações. O município tem 260 quilômetros de estradas de terra no interior.

Sociedade se manifesta

Para o cientista político Laerson Bruxel, a sociedade reage perante a inação do poder público, seja por falta de planejamento ou de recursos. Apesar de ser um alerta para o modelo político atual, considera um aspecto positivo. “Tem pessoas que denunciam, outros colocam a mão na massa pra garantir o que o poder público não faz.”

Bruxel lembra que a Constituição de 1988 responsabilizou o município por inúmeros serviços, mas o dinheiro dos impostos ficou em Brasília. “São muitos serviços, mas sem a devida repartição do bolo tributário.”

Famurs pede reforma fiscal

Novo pacto federativo é prioridade para municípios. Durante seminário em Lajeado, no dia 14, o presidente da Federação das Associações de Municípios do Rio Grande do Sul (Famurs), Seger Menegaz, afirmou que o atual sistema político engessa as administrações, que só conseguem investir até 6% da arrecadação.

Entende que a reforma fiscal é a única solução para a crise financeira. Para driblar a crise e fechar as contas no ano, cerca de 30% dos municípios gaúchos adotaram o turno único, de acordo com a Famurs.

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