Lajeado – A sindicância que apura o sumiço de 14 pneus do pátio da Secretaria de Obras (Sosur) deveria ter sido finalizada em setembro. Com o atraso de quase dois meses, o Ministério Público (MP) precisou intervir e oficiou o município para que conclua a investigação interna num prazo máximo de dez dias. Assessoria jurídica prevê a entrega do parecer para a próxima semana.
O secretário da Sosur, Adi Cerutti, corre risco de ser responsabilizado por suposta inércia perante os fatos. No entanto, a comissão responsável não confirma, até o momento, essa informação. A sindicância também apura o provável envolvimento de um ex-servidor público do município. Ele atuou durante um ano e seis meses no local destinado ao estoque de pneus, e pediu exoneração alguns dias antes da denúncia do furto vir a público.
Assim como o atraso da sindicância, a Sosur também demorou para perceber o furto dos objetos. As primeiras denúncias apareceram ainda no início de julho. No dia 15 do corrente mês, o parlamentar Antônio Schefer (SDD) levou o assunto até a câmara de vereadores. No dia seguinte, Cerutti foi à imprensa e afirmou que tal fato era inverídico. Além disto, garantiu que todos os pneus estavam no Parque de Máquinas.
Menos de duas semanas depois, o Executivo mudou de posição. Em uma entrevista coletiva, na qual Cerutti compareceu acompanhado do procurador jurídico do Executivo, Edson Kober, o secretário confirmou o furto de 14 pneus. Eram três pneus (19,5 R 24) de retroescavadeiras, nove Pirelli pertencentes a caminhões recém adquiridos, e outros dois pneus radiais (275/80 R 22,5) lisos de 12 lonas. O rombo avaliado era de R$ 25 mil.
Um registro de ocorrência foi realizado junto a Polícia Civil (PC). O inquérito policial será concluído até o início de dezembro. Segundo o delegado responsável, Silvio Huppes, a PC trabalha com mais de um suspeito de ter participado do furto. Entre eles, é grande a possibilidade do ex-servidor estar incluído. “O inquérito está em vias de conclusão. Ainda faltam alguns detalhes e informações para serem checadas.”
Poucas mudanças
Após admitir o furto, a equipe da Sosur anunciou série de medidas visando maior segurança para os bens públicos estocados no Parque de Máquinas. Instalação de novas câmeras, compra de um marcador de pneu e mais pessoas responsáveis pela entrada e saída de materiais foram as medidas anunciadas. Desde então, pouco foi feito. “Não há recursos para novas câmeras. Esse investimento deve ocorrer só em 2015.” Hoje, o local já conta com monitoramento de 12 câmeras.
A Sosur até adquiriu um marcador de pneus. Mas o aparelho é considerado ineficaz por Cerutti. “A marca acaba ficando muito superficial, e de difícil identificação. Precisamos achar uma maneira melhor de fazer esse controle”, admite o secretário. A única mudança efetiva foi a designação de três pessoas responsáveis pelo controle interno de todo material que entra e sai do Parque de Máquinas. Entre elas está o próprio Cerutti.
“Estou ansioso”
Cerutti demonstra ansiedade com o resultado da sindicância e do inquérito. No dia da coletiva de imprensa, dele estava bastante abatido com o que chamou de “mancha” na sua secretaria. A preocupação persiste. “É um assunto muito chato, pois não queríamos nenhum problema semelhante. Mas lidamos com pessoas, e eu volto a dizer que me sinto traído por quem depositei confiança.”
Casos semelhantes
O furto de pneus da Sosur é recorrente em Lajeado. Durante a gestão da ex-prefeita, Carmen Regina Cardoso, entre 2004 e 2005, 42 foram furtados no mesmo local. O processo criminal que investigou o caso foi finalizado em 2012, com a condenação de quatro empresários e a absolvição de oito servidores públicos. O fato foi bastante divulgado na imprensa, e o prejuízo calculado ficou em torno de R$ 30 mil.
Em novembro de 2011, dois funcionários públicos que atuavam na Sosur foram presos pela Brigada Militar (BM) acusados de receptarem cerca de 50 canos de ferro. Os objetos seriam utilizados para placas de trânsito,e foram furtados do depósito do Departamento de Trânsito do município. O material avaliado em R$ 5 mil seria utilizado para montagem de cercas nas residências dos envolvidos, mas foi todo recolhido pela polícia.
