Investimentos norteiam debate sobre logística

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Investimentos norteiam debate sobre logística

Evento realizado ontem no auditório principal da 19ª Expovale contou com a presença de representantes de entidades civis, empresários e líderes regionais. Pouco retorno dos tributos pagos, infraestrutura deficiente e falta de planejamento foram apontados como principais gargalos. Os problemas contrastam com a potência das industriais da região

Vale do Taquari – Representando cerca de 3% do PIB do Estado, o Vale do Taquari deixa claro que seu potencial está aquém do esperado. O índice caiu em relação aos anos anteriores. Mesmo sem estudos relacionando a queda com os problemas de logística, representantes de empresas e entidades civis são unânimes ao afirmar que o fraco aproveitamento de outros modais influencia de forma negativa nossa economia.

04O debate de ontem observou os gargalos, mas também as possibilidades. Representantes da Amvat, Codevat e Acil são unânimes, por exemplo, ao defenderem o controle privado do Porto de Estrela. Empresários trouxeram exemplos e experiências de outros países, principalmente da Europa. O melhor aproveitamento das ferrovias é visto, num primeiro momento, mais crucial do que a retomada da movimentação hidroviária.

Para a maioria dos debatedores, a utilização de todos os modais é fundamental para o escoamento das produções, mas também para a chegada de insumos. Algumas empresas dependem de viagens rodoviárias superiores a 2,5 mil quilômetros todos os dias para a chegada de algumas matérias-primas. E é justamente o excesso de gastos com logística um dos principais problemas do Estado.

De acordo com Willis Taranger, diretor-adjunto de Infraestrutura e Energias da Agência Gaúcha de Desenvolvimento e Promoção do Investimento (AGDI), o Estado gasta, em média, 19,8% do PIB anual com logística. “Nos países europeus, por exemplo, a média é de 6%. Ou seja, estamos gastando mais de três vezes com este serviço.” Para ele, um dos problemas é a falta de continuidade dos programas. “É preciso que os estudos se tornem visões de Estado”, observa.

Taranger demonstra preocupação com a desigualdade no escoamento. Segundo estudos da AGDI, 85,3% é feito por meios rodoviários; 8,8% por ferrovias; 3,6% pelas hidrovias; e 2,3% por outros modais, entre eles, as tubulações. “É importante investir. Nas hidrovias, por exemplo, a maioria dos transportes parte de áreas produtivas para grandes centros de distribuição.”

Representante da Associação Comercial de Lajeado (Acil), o presidente Alex Schmitt fala da importância de gerar demanda para aumentar a movimentação de outros modais viários do Vale. “É preciso que a iniciativa privada, em trabalho conjunto com o setor público, crie demandas para atrair e justificar investimentos logísticos.”

O Porto de Estrela

Nelson Eggers, presidente da Fruki, lembra a experiência de sua empresa com o transporte hidroviário. A tentativa ocorreu há cerca de dois anos, e a economia foi próxima de 30% com o frete. Mas com danos à mercadoria. “Tivemos que levar uma empilhadeira própria, pois o porto não possui uma. Alguns produtos caíram e tivemos prejuízo.” O mesmo problema foi registrado em Pelotas, destino final da carga.

Na ocasião, conta Eggers, a Navegação Aliança levou o equivalente a 17 carretas. Mesmo assim, o navio ficou com menos da metade da capacidade preenchida. Hoje, toda a logística é feita por rodovias. São 600 carretas saindo de Lajeado todos os meses, e outros 2,8 mil caminhões com capacidade para até oito toneladas para entregas internas nos municípios.

Ele lamenta também a impossibilidade de trazer matéria-prima. “Todos os dias duas carretas vêm de São Paulo com açúcar. Outra vem de Recife com resina para garrafas, e outra de Manaus com concentrados.” Para ele, o governo precisa repassar o controle do porto à iniciativa privada. “Os empresários possuem experiência para atender a demanda.”

Gilberto Piccinini, presidente da Cosuel, apresenta estudo comparativo entre os modais viários da região. Segundo ele, com a atual estrutura portuária, a empresa teria desvantagens com o uso da hidrovia. “Falta estrutura para produtos perecíveis, por exemplo. Não há contêineres com câmaras frias.” Apesar da redução no valor do frete, a demora na entrega equivaleria os gastos.

“Nós mandamos 200 cargas de perecíveis por mês – 500 de UHT e 70 de leite em pó. Pelo rodoviário, dois dias. Pelos outros pode demorar até 20 dias. Daí fica inviável.” Segundo ele, as empresas e indústrias já produzem pensando no transporte rodoviário. “Essa cultura está enraizada”, diz ele, lembrando ainda exemplos de investimentos europeus em áreas próximas aos mananciais. “Aqui as leis ambientais costumam barrar.”

Pouca disponibilidade atrapalha

Piccinini comenta que a Cosuel utiliza o modal ferroviário, mas só no segundo semestre de cada ano. “A concessionária responsável não disponibiliza vagões durante o primeiro semestre”, explica. Em 2014, cita ele, a cooperativa recebeu mais de 24 mil toneladas de milho vindo do Paraná por meio das ferrovias. “Outro problema encontrado é a falta de pontos de embarque em outras áreas do Brasil.”

Segundo o presidente da Languiru, Dirceu Bayer, a empresa aposta no transporte ferroviário. Mas também esbarra na indisponibilidade de vagões impostas pela concessionária. “Hoje são 22 bitrens por dia trazendo milho, e outros 12 trazendo farelo de soja. Tudo poderia vir por vagões.” Ele afirma que o trem geraria uma economia de R$ 1 por saco. Por ano, economizaria cerca de R$ 3,6 milhões. Hoje, 95% do insumo provém de outras regiões.

Presidente da CIC-Vale do Taquari, Ito Lanius, fala sobre as malhas ferroviárias de outros países. “Chama a atenção o número de linhas internas que cruzam países como Estados Unidos e Canadá. As nossas são muito escassas se comparadas com eles.” Ele fala da importância da iniciativa privada também se adequar às possibilidades. “Na Europa, os navios são construídos de acordo com o calado. Aqui queremos adaptar o rio.”

Para Cíntia Agostini, presidente do Codevat, é importante retirar o monopólio garantido a concessionárias sobre as ferrovias. “A proposta da Ferrosul encerra com isso, mas ainda há uma indefinição sobre a possibilidade do traçado dela passar pela região.” Segundo ela, é a única forma de garantir um melhor atendimento para as empresas que optam pelo modal.

Vale segue elogiado

O presidente da Amvat, Sidnei Eckert, lembra que, mesmo com as dificuldades apresentadas, o Vale do Taquari segue sendo elogiado por empresários e líderes de outras regiões do Estado. “Se isto ocorre é sinal de que nosso desenvolvimento é bom. Sinal de que funciona. E acredito que isso tem muito a ver com a qualidade das empresas de transporte terrestre.”

Sobre as comparações com a Europa, comenta que a região é “nova” se comparada com o Velho Continente. “A Europa tem mais de mil anos. O Vale menos de 150”, observa. Pró-reitor administrativo da Univates, Oto Moerschbaecher contesta. “Somos jovens, mas não enfrentamos guerras, por exemplo. O problema esta no retorno dos tributos”, opina.

Para o pró-reitor, é preciso urgência nas reformas política e tributária, garantindo assim maior autonomia para os estados controlarem seus recursos e investirem de acordo com as políticas públicas. “Santa Catarina, por exemplo, aguarda há mais de 12 anos por uma duplicação completa da BR-101. Os estados hoje não têm recursos para suprir o que é de sua obrigação.”

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