Corais a caminho da sustentabilidade

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Corais a caminho da sustentabilidade

Projeto do Jornal A Hora estimula a formação, documentação e o legado da arte da voz

oktober-2024

Vale do Taquari – Qualificar os corais e torná-los atraentes às futuras gerações. Este é o principal objetivo do Projeto Encontro dos Corais Vale do Taquari 2015. Com lançamento oficial neste mês, a ideia é desenvolver em dez cidades da região cursos de empreendedorismo, educação musical e história do canto para integrantes de corais.

02Aprovado pelo Ministério da Cultura, o projeto encerra em 2015, abrangendo cerca de 280 corais do Vale do Taquari – cerca de sete mil cantores. No Estado, há cinco mil corais, segundo a Federação de Coros do Rio Grande do Sul (Fecors). Além dos cursos, haverá concertos eruditos e produção de vídeo promocional, mostrando a inclusão cultural no Estado.

Com a proposta, será possível incentivar a profissionalização dos artistas do canto, a formação de plateias e a difusão da produção cultural, realizando intercâmbios que impulsionam a geração de renda a partir desses bens intangíveis.

Os workshops ocorrem durante dez meses em Teutônia, Estrela, Marques de Souza, Arroio do Meio, Arvorezinha, Santa Clara do Sul, Bom Retiro do Sul, Encantado, Progresso e Lajeado. O encerramento está previsto para o mês de julho, na sala de espetáculos do Centro Cultural da Univates, com o Grupo Vocal em Cena e Convidados e Renato Borghetti.

Incentivo à cultura

Especialista em Gestão Cultural e Negócios e parecerista do Ministério da Cultura, Eduardo Gomes é o responsável por emplacar projeto que transformou o canto coral em patrimônio imaterial da cultura no Estado. Para ele, é necessário conhecer a Lei, pois o artigo primeiro, nos noves incisos, contempla por inteiro a arte do canto coral. “Isto significa que é preciso ter o conhecimento e acessar os benefícios já disponíveis há mais de 20 anos. Permite que os artistas saiam da condição extrema de pedinte para profissionais do setor.”

O projeto foi aprovado com mérito e relevância cultural, por reunir diretamente sete mil pessoas ligadas à arte. Mesmo identificado como um bem com mais de 150 anos, os cantores sofrem com a falta de recursos – o que desestimula a participação de jovens. O canto coral impulsionará de maneira inédita a geração de emprego e renda de toda a cadeia produtiva.

Entusiasta por excelência

Provedor da proposta aprovada em Brasília, Gomes comemora. Segundo ele, um dos maiores ícones do canto coral da região dedicou a vida em prol dos grupos nas cidades. Avelino Fluckseder, um entusiasta do canto coral, fez um pedido antes de morrer: queria cuidados especiais aos seus corais, dedicação de uma vida inteira.

A tradição do canto intrínseca em Fluckseder. Com uma Kombi, buscava cada integrante em casas e levava de volta após ensaios e apresentações. “Era um entusiasta por excelência. Sempre tirou dinheiro do bolso para levar os corais adiante. Pagava transporte e alimentação para manter esta arte viva na região.”

Cantar frente às dificuldades

Quando os imigrantes alemães chegaram ao Vale, frente à selva, se enfileiravam e cantavam. Era uma maneira de tentar amenizar os diversos problemas que enfrentariam. A tradição milenar vinha do outro lado do Atlântico. O coro é o mais antigo agente sonoro coletivo. Documentos antigos revelam que na Mesopotâmia e Egito existia a prática ligada aos cultos religiosos. O próprio termo “choros” tem vários significados.

De origem grega, os coros iam ao encontro dos dramas e tradégias teatrais de Ésquilo, Sófocles e Eurípedes, unidos em um conjunto de poesia, dança e canto. Na época, o coral era uma organização da maior importância em todas as funções sociais.

Unidos pela voz

Em 2012, a cidade de Teutônia foi reconhecida como a Capital Nacional do Canto Coral. Hoje, o município tem mais de 40 sociedades organizadas de canto coral, além da música instrumental, representada pela Orquestra Municipal de Teutônia e Conjunto Instrumental 25 de Julho.

Em 2004, a equipe do Guinness Brasil esteve na cidade para aferir o recorde de número de grupos do canto coral e inclui-la nos seus registros. São mais de cinco mil vozes das mais variadas idades, fazendo a cidade ser conhecida como a que “canta e encanta”.

Muitas famílias se unem para os ensaios à noite, no meio da semana. A tradição dos antepassados continua. No início do século passado, depois de um dia inteiro na lida no campo, os imigrantes se uniam para cantar. Segundo historiadores, a formação dos corais exclusivamente por homens se justificava porque havia muitos perigos para sair à noite. Ataques de animais selvagens e índios desgarrados eram contidos com armas e cavalos. Por isto, mulheres e crianças ficavam em casa e não participavam.

Hoje, muita coisa mudou e, apesar das dificuldades para manter a tradição, muitas famílias seguem unidas pela voz. Na localidade de Linha Clara, quatro gerações da família Wiebusch se reúnem para cantar. Vilson, 44, é o patriarca, acompanhado da mulher Mariane, 38. Com a voz de tenor, dá rumo aos cantos na comunidade. Começou a cantar depois que o pai morreu, há dez anos. Era preciso dar continuidade à tradição. Casado desde os 23 anos, tem em Mariane uma companheira da arte. Ela é a primeira soprano.

A renda familiar provém da produção rural. A família tem uma granja com 20 mil galinhas poedeiras e vacas leiteiras. Os trabalhos ocupam cerca de 12 horas do dia. Para dar conta, os filhos ajudam. Em dias de ensaio, saem mais cedo.

Moisés Eduardo, 18, nasceu em meio à arte. A primeira participação em festival de canto foi aos 2 anos, quando entoou uma música de comercial de TV. A forma precoce de mostrar aptidão pela música se mostrou ainda mais evidente quando conheceu a gaita, aos 10 anos. Aprendeu o básico muito rápido. Hoje toca e canta no grupo musical Garotos do Vale e pretende manter a tradição.

A vó, Wally, 76, é a mais antiga descendente da família e acompanha de perto os ensaios. Tem a voz mediana, portanto, consegue acompanhar os altos e baixos nas vozes da família. O filho mais novo de Vilson, Mozart Henrique, tem apenas 1 ano, mas já demonstra interesse. “Ele se envolve muito quando ensaiamos e fica faceiro quando tem instrumentos junto”, conta Vilson. Para a vó Wally, cantar é o momento mais esperado da semana. “Sinto muita alegria ao saber que meus filhos continuarão essa tradição”, diz.

Como será o projeto:

•Serão dez tardes de cursos profissionalizantes (13h às 17h30min)

•Dez cidades: Teutônia, Estrela, Marques de Souza, Arroio do Meio, Arvorezinha, Santa Clara do Sul, Bom Retiro do Sul, Encantado, Progresso e Lajeado.

•Todos os corais podem participar de forma gratuita, bem como artistas de outros setores da cultura, gestores, empreendedores, administradores, técnicos e produtores culturais.

•Idade adequada para participação de 13 a 74 anos.

•Serão workshops gratuitos de empreendedorismo, educação musical e história do canto.

•O conteúdo aborda conhecimentos e desenvolvimentos humanos, novas tecnologias e novos modelos de negócios.

•Os cursos vão potencializar de maneria inédita a geração de emprego e renda de toda a cadeia produtiva cultural, em especial o canto, com o objetivo de dar sustentabilidade e formar mercados virtuosos à cultura.

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