Vale do Taquari – A tarde dessa quarta-feira entra para a história como uma das mais quentes já registradas em outubro em Lajeado, pelo menos de maneira oficial. Desde 2003, o Centro de Informações Hidrometeorológicas da Univates (CIH) mede a temperatura todos os dias. A marca obtida às 17h17min de ontem, de 38,9ºC, foi a maior para o mês nestes nove anos. Até então, nenhuma entidade fazia as marcações com tal periodicidade.
Bruno Guilante, morador de Arroio do Meio, anota as condições do tempo todos os dias há 13 anos. Segundo ele, em nenhum dia deste período houve temperatura tão elevada. “É algo fora do comum. Estão dizendo que este outubro está sendo o mais quente em oito décadas.” De acordo com a auxiliar técnica do CIH, Fabiane Gerhard, a temperatura de ontem chegou a ser uma das mais elevadas deste ano. A máxima foi de 40,8ºC, registrada em fevereiro.
A onda de calor intenso se afasta ao longo desta quinta-feira. O dia começa ensolarado, ainda com sensação de abafamento, mas no decorrer do período uma frente fria avança sobre o Estado, provocando aumento da nebulosidade. Há o risco de fortes pancadas de chuva e temporais. A mínima cai para 21ºC e máxima não passa de 29ºC.
Amanhã, a atuação da frente fria sobre o território gaúcho deixa o tempo instável com pancadas de chuva a qualquer hora do dia. Persiste o risco de chuva ocasionalmente forte e temporais isolados. As temperaturas entram em declínio na região. A mínima baixa para 20ºC e a máxima, para 25ºC.
O sistema frontal permanece sobre o Estado e proporciona mais um dia de tempo instável no sábado, com muitas nuvens e pancadas de chuva a qualquer momento. Conforme Fabiane, as temperaturas apresentam pouca variação. A máxima não passa dos 23ºC e a mínima fica em 18ºC.
No domingo e na segunda-feira, o tempo deve seguir nas mesmas condições. As temperaturas continuam com pouca variação e as marcas devem oscilar entre os 17°C e 22°C. “A tendência, pelo que os prognósticos indicam no momento, é de gradual melhora do tempo entre a terça e quarta-feira da semana que vem.”
Na busca pelo alívio, o risco de afogamento
O calor intenso, somado à sensação de abafamento, forçou muitas pessoas a buscar alternativas para se refrescar. Às margens do Rio Taquari, no “Porto dos Bruder”, pelo menos uma dezena de jovens pulava na água fazendo acrobacias perigosas. A maioria pulava de ponta-cabeça ou cambalhota.
Outro ponto muito frequentado nesta época, a junção do Rio Forqueta com o Taquari, divisa entre Lajeado e Arroio do Meio. Mas ambos locais contabilizaram várias mortes por afogamento nos últimos anos. Apenas no Forqueta, foram quatro desde 2010.
Tal condição é incapaz de desencorajar banhistas a frequentar os espaços. A fatalidade mais recente aconteceu em janeiro. Volmir Maier Martins, 26, chegou ao local por volta de 18h, acompanhado de familiares. Logo em seguida, anunciou que atravessaria o rio a nado. No meio do percurso, a correnteza o levou para o fundo.
Segundo relato de pescadores, como o de Eldor Buth, o banho deveria ser proibido nesses locais. Ele mora há duas décadas nas proximidades em que Martins se afogou. Desde então, perdeu as contas de quantas buscas presenciou.
O pescador João Carlos Mösch, 65, diz ter salvo dez pessoas na “prainha” do Forqueta. De acordo com ele, a maioria dos afogamentos ocorre pelo fato de as vítimas não conhecerem a área ou não saberem nadar. Nas épocas quentes, fica atento às águas. “Há buracos traiçoeiros, profundos e com forte correnteza que derruba e arrasta.”
Setembro mais quente desde 1880
Setembro passado foi o mais quente já registrado pela Nasa desde 1880 no planeta, quando a agência espacial norte-americana iniciou as medições. Foi o sexto mês seguido deste ano em que o recorde de temperatura foi quebrado.
O relatório publicado pela entidade, em conjunto com a agência meteorológica do Japão, é preliminar e deve ser confirmado pela Administração Nacional dos Oceanos e Atmosfera. De acordo com os números divulgados, 2014 está 4,1oC acima da média do século 20.
Segundo índices do CIH, agosto teve a maior temperatura da década em Lajeado: 34,7ºC. Em Porto Alegre, a máxima chegou a 34,6ºC no Jardim Botânico, a segunda maior marca já registrada pelo Inmet em 104 anos na cidade. Perde apenas para os 34,9ºC, atingidos no dia 29 de agosto de 1961.
