Passagens de risco

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Passagens de risco

Sem muro de contenção lateral e com pouca sinalização, antigas pontes da região expõem motoristas ao risco de acidentes. Prova disto aconteceu nesse sábado, na passagem sobre o Arroio Posses, na divisa de Estrela e Teutônia. Três pessoas da mesma família morreram depois que o carro caiu na água.

Vale do Taquari – Sérgio José Scortegagna Filho, 40, voltava de um passeio com a mulher, Maria Carolina, 33, e os dois filhos, Eduardo, 7, e Rafaela, 3. Moradores de Caxias do Sul, estavam em Venâncio Aires. Sem conhecer ao certo o percurso, Filho optou por seguir as indicações do aparelho GPS.

Como o sistema mostra o trecho mais curto e, teoricamente o mais rápido, traçou uma linha pelo interior. Os quatro faziam um caminho utilizado por muitos outros motoristas. Na BR-386, Filho ingressou na estrada geral de São Jacó, um atalho entre a rodovia federal e a RSC-453 (Rota do Sol).

03A viagem transcorria dentro do planejado. Mas andados poucos quilômetros na estrada de chão batido, divisa entre Estrela e Teutônia, Filho perdeu o controle da Zafira e saiu da pista. Na ponte sobre o Arroio Posses, o veículo rodopiou e caiu na água.

Sem sinalização e iluminação, a passagem está situada em uma curva e não tem guard-rail (mureta de contenção). O acidente aconteceu às 20h35min e chovia no momento.

O carro ficou com as rodas para cima, quase submerso no 1,5 metro de profundidade do arroio. Filho conseguiu sair e, sem sucesso no resgate, buscou auxílio. Andou quase um quilômetro até encontrar um morador, que acionou equipes do Samu e Corpo de Bombeiros. A mulher e as duas crianças morreram afogadas.

Em fevereiro, Márcio Silva Aquino, empresário de São Leopoldo, sofreu um acidente parecido. O Vectra que ele dirigia caiu no Arroio Estrela, em Teutônia. Conduzia a uma velocidade de 60 quilômetros por hora. Após frear, perdeu o controle, o carro capotou e caiu na água.

O arroio tem cerca de 1,5 metro de profundidade e parte do carro ficou submersa. Aquino desmaiou. Quando acordou, percebeu que estava dentro da água. “Bateu um pânico, estava ficando sem ar e não sabia de que lado do carro eu estava”, disse na época.

Terceira queda apenas em 2014

Este é o terceiro acidente, apenas neste ano, em que o veículo acaba dentro do arroio. No início da década de 1980, quando dois homens morreram afogados após o carro despencar da mesma ponte, o agricultor Arno Schneider, 75, alertou as autoridades sobre o perigo. Passadas quase três décadas, o problema persiste. “Nem placa colocaram.”

O trajeto é uma das principais ligações entre a BR-386 e a RSC-453. O filho Cedenir, 40, conta que a comunidade está revoltada com a inércia dos gestores municipais. “Vamos organizar um protesto. São tragédias anunciadas e ninguém faz nada.”

De acordo com os moradores, apesar da passagem estar quase na divisa entre as cidades, a responsabilidade da manutenção pertence ao governo de Estrela. Para o secretário de Obras do município, Cristiano Nogueira, a colocação de guard-rail no local atrapalharia a passagem de máquinas agrícolas. O Executivo avalia melhorias na sinalização.

Acidente fatal em Westfália

Problema parecido ocorre na ponte sobre o Arroio Boa Vista, na estrada Afonso Wallauer, divisa entre Teutônia e Westfália. A passagem, cuja parte superior é feita de madeira, tem quase oito metros de altura e também carece de mureta de proteção e placas de sinalização.

No dia 30 de julho, Eloi Cord, 45, conduzia um gol, quando perdeu o controle do veículo e caiu na água. O morador da comunidade não conseguiu sair e morreu afogado. Doze dias depois, um homem teve lesões leves depois de se acidentar no mesmo local. O carro ficou submerso e foi retirado dias depois.

O morador José Belo reclama do estado precário da ponte. A falta de placas para sinalizar a existência da estrutura, localizada em uma curva aumenta o risco de acidentes. “Quem é daqui sabe. Quem vem de fora corre o risco.”

O filho Fábio enumera a ocorrência de quatro acidentes em um mês. Destes um resultou na morte do motorista. Destaca a necessidade de construir uma nova ponte e mudar o trajeto da estrada. “Existe apenas um projeto, mas nenhum dos prefeitos executa as obras.” Para amenizar o perigo, reforça a necessidade de construir uma barreira lateral para evitar a queda dos carros em caso de acidente.

Governo espera recursos

Conforme o prefeito de Westfália, Sérgio Marasca, o projeto para construção de uma nova ponte foi elaborado há dois anos e protocolado no Ministério da Integração. O Executivo aguarda por recursos para iniciar as obras. O custo estimado é de R$ 1,2 milhão. A licença prévia da Fepam está emitida, restando aprovar apenas de instalação.

A estrutura terá 36 metros de comprimento e 10 de altura. A nova estrutura será construída em outro local pela ocorrência de enchentes. Segundo Marasca, as placas de sinalização foram arrancadas com a força das águas, mas devem ser recolocadas em breve. “Aconteceria o mesmo com a mureta de proteção nas laterais.”

Problema se agrava em Forquetinha

Situação semelhante ocorre em Forquetinha na localidade de Vila Storck. Na ponte é intenso o movimento de caminhões com cargas de suínos, frangos e leite. O caminhoneiro Sandro Luiz Schzzi, de Roca Sales, passa pela estrutura duas vezes por semana com carregamento de frangos. São 25 mil quilos.

A estrutura sem mureta de proteção, pouca sinalizada e com as cabeceiras comprometidas pelas seguidas enchentes preocupa. “Pode desabar. É um risco, mas é uma rota que encurta a distância até o frigorífico.”

O problema se agrava a cada ano. Em reportagem publicada em 2010, foram flagrados diversos caminhões passando na estrutura com cargas acima do limite permitido (20t). Dois anos depois, nova duplicação. Nada foi feito. A estrutura apresentava e motoristas continuavam ignorando o peso.

Moradores comentam que a passagem de caminhões reduziu após conclusão do asfalto que liga o município a Lajeado, pelo bairro Conventos. No entanto, como é proibido o tráfego de bitrens no trajeto pavimentado, muitos continuam cruzando a ponte de Vila Storck.

Queda anunciada

Reportagem publicada em maio de 2012 apontava a inércia de gestores públicos em consertar pontes ou melhorar a sinalização. A passagem localizada sobre o Arroio Sampaio, na divisa entre Santa Clara do Sul e Mato Leitão, recebeu destaque por seguidas denúncias de moradores em relação ao sobrepeso e por apresentar uma série de rachaduras.

Foi em vão. A ponte desabou durante enxurrada no dia 28 de junho deste ano. Os pilares centenários não aguentaram a força da correnteza. Desde então, os municípios unem esforços para reconstruir a passagem. Projeto entregue ao Ministério da Integração Nacional pelo vice-prefeito de Mato Leitão, Sérgio Machado, prevê a construção de uma nova ponte em R$ 300 mil.

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