Uso de eletrônicos desafia educadores

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Uso de eletrônicos desafia educadores

Vendas de aparelhos crescem no Dia das Crianças. Especialistas alertam para limites

Vale do Taquari – A venda de equipamentos eletrônicos no Dia das Crianças deve crescer 10% neste ano com relação a 2013. Índices de pesquisa divulgada pela Boa Vista SCPC (Serviço Central de Proteção ao Crédito) mostram que 23% dos brasileiros pretendem presentear os filhos com o smartphones, tablets e outros equipamentos.


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Com vendas crescendo a cada ano, a parcela de crianças que utiliza os eletrônicos também aumenta. De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), 58,7% dos gaúchos com idade entre 10 e 14 anos têm celular. Em 2008, eram 39,5%.

O uso desenfreado desses aparelhos preocupa educadores e profissionais da saúde. Em entrevista durante a Feira do Livro de Estrela, o psiquiatra e escritor Augusto Cury afirmou que milhões de crianças no mundo todo estão perdendo a infância.

“A juventude está viciada em smartphones e sobrecarregada de informações”, sentenciou. Segundo ele, isso sobrecarrega o córtex cerebral e causa ansiedade coletiva. Conforme Cury, o resultado é a síndrome do pensamento acelerado, que tem como sintomas: fadiga excessiva, dor de cabeça, irritabilidade, intolerância a frustrações, déficit de memória, entre outros.

Casos de crianças de 6 anos de idade que ganharam smartphones dos pais são relatados pela psicóloga Carine A. Bernhard. “É alarmante, porque não tem necessidade”, ressalta. Para ela, os eletrônicos acabaram se tornando uma forma de distrair os filhos. Com isto, os pais estariam mais livres para suas próprias atividades.

Segundo Carine, a maior consequência é a perda das relações humanas. “O próprio contato com a família fica precário”, destaca. Além disto, diz, parte importante do cotidiano fica prejudicada, incluindo a convivência com outras crianças e brincadeiras fora do ambiente eletrônico.

Por mais que os aparelhos permitam integração entre as crianças, a psicóloga considera que a interação por meio da máquina não representa convívio social, e pode afastar as crianças da realidade. “Cria-se um personagem, fantasiado e descolado de sentimentos verdadeiros”, frisa. Para Carine, é importante que os pais limitem, orientem e acompanhem o uso dos aparelhos.

O psicólogo Marcelo Ferreira alerta para a substituição de atividades ao ar livre pelos eletrônicos, que resulta no aumento de doenças como hiperatividade, déficit de atenção e obesidade infantil. Ferreira acredita que o acesso à tecnologia não deve ser impedido. Segundo ele, o tempo máximo de exposição aos aparelhos deve ser de duas a três horas.

Escolas buscam soluções

Os educadores enfrentam o desafio de regrar o uso eletrônicos no ambiente escolar. De acordo com a diretora do Colégio Estadual Presidente Castelo Branco, Evenize Pires, uma lei estadual estabelecida em 2008 proíbe o uso de celular em sala de aula.

Mesmo assim, alunos contrariam os professores tentando burlar a regra. “Todos os dias temos uma situação. Muitos tentam esconder o uso dos aparelhos.” A facilidade para produzir e compartilhar vídeos e fotos também aumenta os casos de bullying virtual, favorecendo desentendimentos entre os jovens.

Conforme a vice-diretora, Maria Isabel Eckhardt, a escola tentou inserir o uso de tablets e smartphones em trabalhos escolares, sem sucesso. “Percebemos que os alunos não sabem usar os aparelhos para pesquisa. Acabam deixando a tarefa de lado para acessar as redes sociais.”

Diretora da escola Martin Luther, Andréa Desbessel, relata a preocupação da instituição. “Percebemos que crianças e adolescentes desenvolvem dificuldades de relacionamento pela falta de convivência com outras pessoas causadas pela tecnologia.”

Para ela, é importante que os alunos entendam que a escola é um dos poucos espaços de convívio coletivo. “Possibilita o equilíbrio e uma definição clara de limites, pois aprendemos a interagir e olhar nos olhos um do outro.”

Tecnologia na educação

A diretora do Martin Luther destaca iniciativas de introduzir a tecnologia como ferramenta educativa. “Os professores incentivam as pesquisas na internet, e promovem concursos de fotos e vídeos para que os alunos possam aproveitar a tecnologia de forma positiva.” Mesmo assim, o uso de celulares ou tablets só é permitido para atividades de ensino.

No Colégio Madre Bárbara, o uso de eletrônicos é entendido como uma possibilidade de proporcionar aulas dinâmicas e interativas, com ênfase no desenvolvimento de habilidades das mais variadas linguagens e tecnologias.

Conforme o serviço de orientação pedagógica da escola, o uso desses recursos faz parte do cotidiano dos alunos, e deve ser aproveitado para enriquecer o trabalho pedagógico. O colégio estabelece limites para que o tempo dispendido com a tecnologia seja aproveitado de forma a garantir benefícios cognitivos e culturais aos alunos.

Para Augusto Cury, por mais que a tecnologia represente novas possibilidades de interação e aprendizado, é preciso ter cuidado. “As técnicas multimídias são interessantes, mas não substituem o educador”, assegura. Para o escritor, o professor precisa estimular a reflexão e a consciência crítica, noções que não fazem parte do ambiente eletrônico.

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