Licitação pode restringir  tráfego intermunicipal

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Licitação pode restringir tráfego intermunicipal

Executivo pretende finalizar o novo edital para transporte coletivo até o fim de novembro

Lajeado – O governo estuda uma forma de disciplinar o transporte intermunicipal dentro do período urbano. A discussão é antiga, e já foi tema de reuniões entre empresários da área, gestores e o Sindicato das Agências e Estações Rodoviárias do Estado (Saerrgs). Passageiros de outras cidades divergem sobre a possibilidade de mudança nos itinerários.

04Com previsão de lançar o edital para regular o transporte coletivo, o Executivo não descarta proibir a circulação dos ônibus intermunicipais nas vias internas da cidade. Eles seriam direcionados – por meio da BR-386 e ERS-130 – diretamente para a Estação Rodoviária de Lajeado. Lá, passageiros que desejam se locomover ao centro precisariam trocar de veículos para utilizar os itinerários urbanos disponibilizados pela empresa que vencer a licitação.

Conforme decreto do Daer, datado de 1984, ônibus vindos de fora do perímetro urbano estão proibidos de utilizar paradas instaladas dentro de uma distância inferior a 1,5 quilômetro da estação rodoviária. Em Lajeado, é comum algumas empresas desembarcarem passageiros e aceitarem embarques em áreas dentro desse limite. A prática gera prejuízo para a estação rodoviária.

Gabriela Noll Marchese, gerente da empresa Noll & Cia Ltda, responsável pelo terminal da cidade, afirma que entre dois e três mil passageiros embarcam todos meses em áreas proibidas. Esses deixam de utilizar os serviços oferecidos pela rodoviária, como a compra das passagens. Eles representam cerca de 10% do contingente total de usuários do estação, que chega a até 40 mil mensais.

“Alguns passageiros de outras cidades acabam embarcando nas paradas, onde podem pagar direto para o cobrador. Assim as empresas acabam não respeitando o decreto do Daer”, diz. Eles costumam ir e vir de cidades próximas a Lajeado. Entre elas, Estrela, Arroio do Meio, Encantado, Marques de Souza, Travesseiro, Santa Clara do Sul e Venâncio Aires.

O trânsito de empresas intermunicipais em áreas urbanas também gera uma concorrência com empresas locais. É comum, conforme empresários do ramo, passageiros utilizarem veículos de fora para realizar pequenos trajetos dentro do município. Por vezes, o custo da passagem pode ser menor. Em outros casos, o usuário pode até gastar mais pela locomoção, caso pague o valor integral da passagem entre cidades.

Sindicato cobra fiscalização

As rodoviárias são representadas pelo Saerrgs. O assunto segue em discussão no sindicato. Conforme o vice-presidente da entidade, Glauber Gobbato, não há fiscalização por parte dos municípios e demais setores reguladores. “Todos os contratos e propostas encaminhadas pelos terminais preveem a aplicação do decreto. Como ele não costuma ser cumprido, isto gera um forte desequilíbrio financeiro para as estações.”

Gobbato reitera a importância da aplicação da lei, principalmente neste momento em que novos contratos estão sendo firmados por meio de processos licitatórios. “Se o momento é de regularizar os serviços, é preciso muito mais rigor na fiscalização dessas práticas.” O sindicato deve enviar ainda neste mês um novo pedido ao Daer para que verifique de forma mais intensa a realização desses embarques irregulares.

O vice-presidente demonstra preocupação com os passageiros. Para ele, as rodoviárias oferecem maior conforto e qualidade de serviços para os usuários. Em Santa Cruz do Sul, diretores da estação rodoviária local discutem com a administração municipal e com proprietários de empresas de ônibus uma forma de resolver o impasse. Entre as propostas, foi apresentada a ideia de criar uma passagem integrada entre linhas urbanas, interdistritais e intermunicipais. Os representantes ainda não chegaram a um consenso.

Nada definido em Lajeado

O diretor do Departamento de Trânsito, Euclides Rodrigues, garante que nada foi definido em relação a possível proibição de linhas intermunicipais na área urbana. “Tudo ainda será estudado antes de lançarmos o edital de licitação. Mas nos preocupa o provável fato de ônibus intermunicipais realizarem transporte urbano em Lajeado.”

Segundo Rodrigues, Lajeado é hoje um “aglomerado urbano” formado por trabalhadores de cidades vizinhas. Para o diretor, esta característica da região pode ser utilizada como uma justificativa para repensar uma possível proibição. “Precisamos disciplinar o uso, mas também pensar no conforto de quem vem a Lajeado. A equipe segue estudando”, resume. Hoje, apenas duas empresas – Ereno Dörr e Transportes Scherer – têm autonomia para o transporte urbano.

“Eu precisaria trocar de emprego”

A auxiliar de contabilidade Camila Petry, 29, se desloca de Arroio do Meio a Lajeado todos os dias. Ela embarca no bairro Bela Vista e desembarca no centro de Lajeado, a duas quadras do local onde trabalha. Com a mudança de itinerário e a possibilidade de precisar de outro ônibus para chegar ao serviço, diz que seria obrigada a pagar quatro passagens diárias – duas intermunicipais e mais duas da rodoviária até o centro.

Ela também se queixa do tempo que, supostamente, seria perdido. Além disto, teria problemas com o horário exigido pela empresa na qual trabalha. Sem ter moto ou carro para se deslocar, fala da possibilidade de trocar de emprego caso esta mudança for imposta pelo novo modelo de transporte público estudado pela administração municipal de Lajeado. “A despesa duplicaria. Seria mais fácil buscar outro trabalho.”

“É uma cortesia aos passageiros”

Segundo o gerente da empresa Expresso Azul, Nestor Reckziegel, o roteiro realizado por veículos intermunicipais entre os principais pontos do centro é uma “cortesia”. Ela é oferecida desde a época em que a maioria dos municípios vizinhos ainda era distrito de Lajeado. “Se for proibido, prejudica os usuários. A tarifa será a mesma, porém, com trajeto reduzido, sem este bônus que oferecemos hoje.” A empresa leva e traz passageiros de Imigrante, Colinas, Progresso, Marques de Souza e Arroio do Meio.

Outra empresa que realiza transporte intermunicipal é a Viasul Transporte, com sede em Venâncio Aires. Ela tem autorização para transportar passageiros de Mato Leitão, Cruzeiro do Sul e Santa Clara do Sul. O gerente, Sérgio Büchner, prefere não se manifestar sobre o assunto antes de uma decisão do município. “Houve uma reunião na Acil para discutir essas questões, mas eu não participei.”

Para o gerente da Ereno Dörr, Fabrício Schneider, a limitação do transporte intermunicipal trará prejuízos financeiros e transtornos para os passageiros e empresas. Cita que, ao longo dos anos, as pessoas se acostumaram a desembarcar no centro e outras áreas da cidade. Hoje, segundo ele, isso representa uma garantia para manter os usuários, principalmente de municípios do interior como Sério e Boqueirão do Leão. “Dessa forma, evita-se o uso de carros ou motos.”

Schneider informa que o transporte do centro até a rodoviária é feito sem custos para o passageiro. Lá, diz o gerente, todos compram passagem e retornam aos seus destinos. Ele calcula que estes usuários representem cerca de 20% do total transportado por dia. São em torno de 2,5 mil pessoas, a grande maioria oriunda de Cruzeiro do Sul, Forquetinha, Canudos do Vale e Boqueirão do Leão. Sobre a criação de um terminal único no centro, afirma concordar. “Seria uma saída.”

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