Votos inválidos sobem para os cargos Executivos

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Votos inválidos sobem para os cargos Executivos

Brancos e nulos para presidente e governador registram altas em comparação com 2010. Para o Piratini, 19,5% dos eleitores do Vale não escolheram nenhum candidato. Em âmbito nacional, crescimento chegou a 13,4%.

Vale do Taquari – O total de votos nulos e brancos na região para o governo do Estado chegou a 26.521. Número 19,5% superior ao registrado nas eleições de 2010, quando 22.189 optaram por não ter candidato. Para presidente, foram menos votos inválidos, com 19.631. Em comparação com as últimas eleições majoritárias, houve crescimento de 2.321 de eleitores que votaram em branco ou nulo. Em 2010, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) contabilizou 17.310 votos inválidos nos 37 municípios do Vale.

03Na escolha para o Senado, os brancos e nulos alcançaram índices ainda maiores em relação aos outros dois para majoritária deste ano. Por outro lado, o total de 42.772 foi menor do que nas eleições de 2010, quando 85.347 votaram nulo ou em branco. Em percentuais, a retração se aproxima dos 50%. Ao contabilizar todos os votos inválidos nos três cargos, se chega a 88.924 votantes.

Diferente das abstenções, quando o eleitor não comparece por não estar no domicílio eleitoral, os nulos e brancos podem ser analisados como votos de protesto. Pelo menos é o que argumenta o juiz diretor do Foro de Lajeado, Luiz Antônio de Abreu Johnson. “Sinaliza um descontentamento em relação aos nomes e à política do país.”

Na avaliação do magistrado, os movimentos de junho do ano passado originaram parte desses aumentos em relação aos brancos e nulos para o governo estadual e federal. “Esses números mostram o desagrado com o atual momento, em especial pelas políticas básicas, como saúde, segurança, educação, transporte público.”

A ausência de ideologia nos partidos também interfere na decisão do eleitor, acredita o magistrado. Para ele, o excesso de siglas – 33 cadastradas no TSE hoje – confunde as pessoas. “Virou uma salada de frutas. Os partidos não representam a sociedade.”

Esse imbróglio se acentua quanto se analisa as coligações, realça Johnson. Para ele, há uma deturpação no processo eleitoral. “Virou um carnaval. Siglas adversárias em um Estado e aliadas para tentar o governo federal.”

Relembra a regra da verticalização, em que uma coligação federal tinha de se repetir no âmbito dos estados. Em 2006, esse princípio foi votado no Congresso. Os deputados aprovaram o fim por 343 votos a favor e 143 contra. “Não sou a favor do bipartidarismo, mas chegou a um momento que a nossa democracia não pode mais ter isso.”

Dados do TSE no Estado mostram que o total de nulos e brancos para senador alcançou 1.243,375 votos, representando 17,8%. Para o Piratini, 818.494 pessoas não escolheram nenhum dos postulantes (11,7%).

“Voto obrigatório não é democracia”

A avaliação do presidente da Associação Brasileira de Consultores Políticos (Abecop), o pesquisador e professor Carlos Manhanelli, sobre os índices de votos inválidos pega a essência do modelo democrático no país. “Voto obrigatório não é democracia.”

Para ele, esse é um erro primário para o conceito. “Temos de encarar o voto como um direito. Participam aqueles que se sentem envolvidos no processo, que querem contribuir na escolha dos representantes.”

Como exemplo, lembra como o processo é feito nos Estados Unidos. Segundo ele, lá entre 30 a 40% dos eleitores participam da escolha para presidente.

“Não gostamos de política pois não aprendemos a discutir política”

A avaliação da professora de Ciência Política da Univates, Shirlei Inês Mendes da Silva, se aproxima da opinião do juiz Johnson. Para ela, o aumento dos índices está relacionado a uma visão geral de descrédito na política. “Com a redemocratização, tivemos um inchaço de partidos políticos que não nos representam. Além disto, as coligações confundem o eleitor que não conhece mais o programa do partido.”

Como resultado, diz Shirlei, surge um sentimento de indiferenciação, um discurso comum em que os partidos são todos iguais, os políticos são todos iguais e a corrupção está generalizada. “Os políticos não prestam e eu não gosto de política. Este jargão está no nosso imaginário social.”

Para a professora, para entender esse comportamento, é importante relacionar com a história do país. Shirlei relembra que o Brasil republicano nasceu ainda com ares imperiais, com uma elite branca comandando o jogo de poder. A escravidão terminou, mas a sociedade continuou desigual e pouco democrática nos anos subsequentes, diz.

Depois disso, no século 20, o país passou por duas ditaduras. “Não aprendemos a lidar com a democracia, com as diferenças e com o respeito.” A partir desse contexto, parte dos representantes eleitos, avalia, são filhos das oligarquias locais e permanece no poder defendendo interesses desse nicho social, reproduzindo padrões em que a política torna-se uma atividade de poucos privilegiados.

Frente a esse cenário, a professora reforça que a política está no cotidiano das pessoas. “O problema é que somos educados a pensar que a política está no Estado, mas a sociedade civil organizada está a fazer política diariamente. Não gostamos de política pois não aprendemos a discutir política.”

Para alterar essa animosidade entre grupos sociais e políticos, Shirlei acredita ser necessário investir em educação política, ampliar o debate em fóruns. Outro aspecto ressaltado pela professora é a reforma política.

Saiba mais

Voto em branco

De acordo com o TSE, é aquele em que o eleitor não manifesta preferência por nenhum dos candidatos.

Voto nulo

O eleitor digita um número de candidato que não existe. Esse também não é considerado válido. É aquele em que o eleitor manifesta vontade de anular o voto, já que digita um número inexistente e, muitas vezes, é colocado como um voto de protesto.

Ao congresso e assembleia, votos inválidos somam 64,4 mil

Candidatos a deputado estadual e federal pela região tiveram baixa adesão dos 269 mil eleitores do Vale do Taquari. Aos 11 postulantes a cadeiras na Assembleia Legislativa (AL), somaram-se 85,6 mil votos válidos. Vinte e sete mil pessoas optaram pelo branco ou nulo. O restante, apoiou nomes de outras partes do Estado.

Caso os votos inválidos tivessem sido convertidos para os representantes locais, um segundo deputado estadual da região poderia chegar ao parlamento. Enio Bacci (PDT) foi o único eleito. Gabriela Markus (PMDB) foi a segunda candidata do Vale com a maior votação (26,3 mil), mas está na quinta suplência da bancada peemedebista. Entrará na AL, somente se o futuro governador convocar deputados pelo partido para ocupar cargos no Estado ou se os políticos se afastarem da Assembleia.

Quanto à disputa pelo Congresso Nacional, foram mais de 37 mil votos inválidos na região. O número é maior que a soma de toda a votação dos três candidatos locais feita no Vale: Mareli Vogel (9.275), Vilson Jacques (14.460) e Cláudia Köhler (1.287).

Alianças se formam para o 2º turno

As primeiras negociões de apoio aos candidatos classificados para o segundo turno começaram a ser arquitetadas instantes após o fim das apurações desse domingo. No Estado, duas das quatro maiores coligações acenam ficar ao lado de José Ivo Sartori (PMDB) na disputa contra Tarso Genro (PT).

Na segunda-feira a executiva estadual do PDT, de Vieira da Cunha, aprovou um indicativo de apoio à eleição do peemedebista. Contudo, decisão deve ser emitida apenas durante esta quarta-feira. Ontem, a coligação de Ana Amélia Lemos (mais cogitada a vencer as eleições) declarou apoio a Sartori.

Em âmbito federal, Aécio Neves (PSDB) e Dilma Rousseff (PT) disputam o apoio de Marina Silva (PSB). No fim da tarde de ontem, o PPS – partido aliado à Marina – anunciou adesão ao tucano Aécio para o segundo turno, independentemente da opinião do restante do grupo.

Mas a candidata derrotada ainda não definiu qual posição adotará. Hoje à tarde, a comissão executiva nacional do PSB se reúne em Brasília. Após a reunião, deve ser anunciada oficialmente a posição do partido.

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