Eleitores do Vale votam pouco em candidatos locais

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Eleitores do Vale votam pouco em candidatos locais

Mesmo com incentivo de entidades regionais, índice obtido por postulantes da região diminui em relação ao pleito de 2006

oktober-2024

Vale do Taquari – O desempenho dos candidatos à deputado oriundos da região foi pouco superior ao alcançado em 2010. Mesmo assim, apenas um dos 11 candidatos do Vale à Assembleia Legislativa foi eleito nesse domingo. Enio Bacci (PDT) garantiu vaga de deputado estadual quatro anos depois de vencer o pleito para a Câmara Federal.

Ao todo, 85,6 mil pessoas escolheram candidatos da região, 31,8% dos 269 mil eleitores. Na eleição anterior, 27,4% dos 240 mil votantes (65,7 mil) optaram por representantes locais. A queda no desempenho é marcante se os resultados forem comparados com os alcançados em 2006. Na ocasião, 104 mil dos 202 mil eleitores optaram por candidatos do Vale.

Para o presidente da Câmara de Indústria, Comércio e Serviços do Vale do Taquari (CIC-VT), Ito Lanius, o resultado demonstra despreparo dos candidatos locais, que não conseguem convencer os eleitores. “Se os candidatos da região não correspondem às expectativas dos eleitores, é natural a escolha por pessoas de fora.”

Lanius acredita que os candidatos do Vale ainda carecem de amadurecimento. Para ele, partidos, entidades e associações tem que trabalhar para convencer pessoas com melhores currículos a concorrer aos cargos eletivos. “Precisamos de postulantes com mais credibilidade.”

Ao mesmo tempo, avalia que o eleitor está frustrado com a política, o que facilita a escolha por representantes desconhecidos. “O desinteresse faz com que muitos deixem para escolher no momento do voto”, diz. Segundo ele, a diferença entre as pesquisas de intenção de votos e os resultados nas urnas ilustra esta situação.

A presidente do Conselho de Desenvolvimento do Vale do Taquari (Codevat), Cíntia Agostini, acredita que a região teve avanços nessas eleições. Para ela, o Vale esteve mais em foco neste pleito do que em anteriores. “Os candidatos perceberam que as nossas reivindicações são importantes para garantir uma boa votação e desenvolver o potencial da região.”

Conforme Cíntia, faltou articulação política para que mais candidatos locais fossem eleitos. Segundo ela, as entidades cumpriram o papel de levantar as demandas da região e garantir que os candidatos se comprometam com o Vale. “Faltou o eleitor votar. Temos que continuar tentando.”

O Codevat fará um levantamento com todos os candidatos a deputados eleitos com votos do Vale. O objetivo é cobrar efetividade dos parlamentares com relação às demandas regionais já no início de 2015. “Vamos visitá-los e apresentar nossas prioridades para que também representem a região”, diz Cíntia.

A entidade pretende articular o mesmo movimento com o senador eleito Lasier Martins e o vencedor da disputa ao Piratini.

Mudança fica no discurso

Em junho do ano passado, a população foi às ruas cobrar transforações no sistema político brasileiro. Porém, o desejo de mudança expressado nos protestos não se refletiu nas urnas. Os gaúchos reelegeram 21 dos 31 deputados federais. Na Assembleia Legislativa, apenas 20 dos 55 eleitos exercerão o cargo pela primeira vez.

Na opinião da presidente do Codevat, candidatos que já são deputados e atendem minimamente a região têm vantagem na disputa pelo eleitorado. “Para quem está começando é muito difícil competir com um candidato que tem a máquina a seu favor”, ressalta. Com isso, a eleição de candidatos do Vale fica mais difícil, acredita.

Conforme Cíntia, o grande número de votos brancos, nulos e abstenções, que chegou a 34% do total, facilita a reeleição de políticos tradicionais, apesar de representar o descontentamento dos eleitores. “Muitos não votaram por não se sentirem representados.”

Para Ito Lanius, apesar do desejo genérico de mudança, os movimentos iniciados em 2013 perderam o foco. “Faltam líderes que apontem com clareza os caminhos para uma transformação efetiva”, assinala. Segundo ele, as estratégias de marketing servem mais para confundir o eleitor do que para apontar caminhos a serem seguidos.

O presidente da CIC-VT acredita que o individualismo da população favorece este cenário. “Vivemos uma democracia hipócrita em todos os níveis, porque as pessoas preferem votar por uma vantagem pessoal em detrimento do coletivo”, ressalta. Mesmo assim, pondera que o sistema democrático, por pior que seja, ainda é melhor do que qualquer tipo de ditadura.

Lanius defende uma reforma profunda no sistema político brasileiro e ressalta iniciativas como a do plebiscito popular que reivindicou uma constituinte exclusiva para a questão. “É algo difícil de ocorrer devido ao corporativismo dos parlamentares”, avalia. Para ele, uma reforma só será efetiva se realizada por pessoas desvinculadas de cargos eletivos.

Debate de prioridades

Durante o primeiro turno, o Codevat, a Cic-VT e a Associação dos Municípios do Vale do Taquari (AMVAT) elaboraram um documento com as prioridades do Vale. Nos 11 tópicos incluíam questões como melhorias na infraestrutura, mais efetivo às polícias, prevenção de enchentes, entre outras.

A ideia da entidade era entregar o documento aos candidatos a Governador do Estado e debater as questões em eventos locais. Porém, apenas Vieira da Cunha participou da programação no Vale, e a lista foi enviada pelo correio para os demais postulantes.

Para a presidente do Codevat, a lógica proposta para as três principais campanhas inviabilizou o encontro. “Preferiram focar na relação direta com o eleitor do que participar de debates programáticos”, ressalta. Segundo ela, nenhuma das regiões do Estado conseguiu a participação dos candidatos em eventos semelhantes. A entidade ainda não definiu se tentará promover o mesmo debate entre Tarso Genro e José Ivo Sartori.

Erros das pesquisas geram desconfiança

As pesquisas apresentadas nos últimos dias de eleição ficaram distantes dos resultados das urnas. A discrepância gerou questionamentos sobre os interesses na divulgação dos percentuais e metodologias usadas, criando dúvidas quanto à credibilidade dos institutos.

04Os erros também foram vistos na boca de urna do Ibope. Levantamento apontado com índice de confiabilidade próximo dos 99%. Como justificativa para as diferenças com o resultado, o instituto diz que houve uma mudança nos nomes dos candidatos no último momento.

Para o Senado, apontava Olívio Dutra (PT) eleito com 37% dos votos, contra os 31% de Lasier Martins (PDT). Após a contagem, a vaga ficou com Lasier, que teve 37% dos votos, enquanto Olívio ficou com 35%.

Na eleição para o governo estadual, o boca de urna também apresentou percentuais discrepantes do resultado das urnas. O Ibope indicava Tarso Genro (PT) com 35% e José Ivo Sartori (PMDB) com 29%. Ana Amélia (PP) aparecia com 26% e, contando a margem de erro, poderia chegar no segundo turno. A apuração mostrou Sartori na frente, com 40% dos votos, e Genro com 32,5%. Ambos disputam o segundo turno no dia 26.

Para presidente, números mais próximos ao real, mas ainda assim errou. A boca de urna apontava Dilma Rousseff (PT) com 44% dos votos, Aécio Neves (PSDB) com 30% e Marina Silva (PSB) com 22%. Na prática, a presidente ficou com 41,5%, o tucano com 33,5% e a ex-senadora do Acre com 21%, único índice dentro da margem de erro. O boca de urna do Ibope ouviu 64.200 pessoas em todo o Brasil.

Diante das diferenças com os números das urnas, críticas ao modelo de divulgação põem em cheque as pesquisas eleitorais. Para o presidente da Associação Brasileira de Consultores Políticos (Abecop), o pesquisador e professor Carlos Manhanelli, acredita ser necessário mudar o modelo atual. Para ele, os resultados das amostragens não devem ser divulgadas por dois motivos. Primeiro pelos interessados em saber os resultados são os financiadores de campanhas. Em segundo, por induzir uma parcela dos eleitores. “Pesquisas não deveriam ser publicadas nos últimos 15 dias. Isso pode deturpar o processo eleitoral.”

Na opinião de Manhanelli, as pesquisas se tornam um negócio pelo fato de haver uma parcela de eleitores que tomam como critério antes de votar. Segundo ele, as pessoas passam a se envolver mais no processo eleitoral nas últimas duas semanas antes da votação. “Por isso a divulgação é prejudicial”, reafirma.

Com uma experiência de 40 anos como consultor e 17 livros publicados, realça o intuito das pesquisas, de mostrar uma tendência. “São análises de momento. Não quer dizer que será realidade amanhã.”

Como forma de corrigir a lei eleitoral, Manhanelli defende a interferência dos deputados. “Os legisladores devem ver que esse modelo de pesquisa está prejudicando o processo.”

“Onde houver distorções e falhas, pode ser instrumento de manipulação”

O juiz diretor do Foro de Lajeado Luiz Antônio de Abreu Johnson concorda com a instituição de um prazo para divulgação das pesquisas. Na avaliação do magistrado, elas são um instrumento importante para verificar o quadro eleitoral em um determinado momento.

No entanto, diante do excesso de publicações, os partidos não tem condições para examinar a metologia usada na apuração para depois contestar. “Pesquisas sucessivas provocam resultados danosos. Colocam em dúvida a credibilidade.”

Segundo ele, os interessados ficam na análise e avaliação dos resultados, sem saber se o levantamento cumpre os requisitos de apuração, assim refletindo o resultado das intenções de votos. Conforme o magistrado, nas últimas eleições tem havido falhas constantes dos institutos.

O risco, diz Johnson, é a indução do voto válido. “As pesquisas têm sim influência sobre as decisões dos eleitores. Se queremos ter uma escolha livre, é preciso mudar. Essa alternativa dos 15 dias me parece uma boa iniciativa.”

Na opinião do juiz, diante dos erros, esse é um momento oportuno para uma discussão ampla sobre as pesquisas. “A perda de credibilidade nos últimos anos abre espaço para um debate ético, do financiamento desses estudos, de quem contrata. Onde houver distorções e falhas, pode ser instrumento de manipulação.”

Biométria falha e atrapalha votação

O sistema de identificação de eleitores por impressão digital foi testado pela primeira vez em 18 municípios da região. Apesar de considerado mais seguro, o sistema apresentou falhas que atrapalharam a votação.

A principal falha registrada nos aparelhos foi de sensibilidade na captura das impressões digitais. Alguns eleitores precisaram repetir o processo até oito vezes para que o sistema registrasse a digital. Em alguns casos foi necessário dispensar o registro biométrico.

Em Mato Leitão a votação passou das 17h devido aos problemas com os leitores. De acordo com a prefeita Carmen Goerk, alguns eleitores, principalmente idosos, desistiram de participar do pleito devido as filas que se formaram nas sessões.

Os problemas se repetiram em praticamente todo o país. Mesmo assim, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) pretende ampliar o cadastramento biométrico para as eleições municipais de 2016. O presidente do Órgão, ministro Dias Toffoli, declarou que a leitura biométrica garante maior segurança ao pleito. Ele disse ainda que o sistema devera ser implantado em outros serviços além das eleições.

Regras para o segundo turno

A campanha para o segundo turno começou oficialmente às 17h de ontem, 24h depois do encerramento do pleito deste domingo. A partir de hoje estão liberados o uso de alto-falantes e amplificadores de som, comícios e distribuição de material de propaganda.

O próximo sábado, dia 11, é a data limite para o início da vinculação de propaganda eleitoral gratuita na TV e no rádio. Ao contrário do primeiro turno, em que o tempo das era dividido de acordo com o tamanho das bancadas das coligações, cada candidato terá dez minutos de programa eleitoral.

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