Sério – Pedras de gelo causaram prejuízos em todo o município no sábado à noite. O temporal de granizo começou às 23h30min e durou cerca de dez minutos, tempo suficiente para destelhar 90% dos imóveis, segundo estimativa da Defesa Civil (DC). O governo decretou situação de emergência ainda no domingo.
Nessa segunda-feira, cinco equipes percorreram a cidade para contabilizar os estragos e fornecer materiais de apoio, como telhas e lonas. Dados oficiais, relativos ao número de propriedades atingidas e à soma dos prejuízos, devem ser repassados apenas hoje.
Na propriedade de Luiz e Ivone Primaz, em Paredão, o aviário de 1,5 mil metros quadrados foi praticamente destruído. Parte dos pintos, recebidos na sexta-feira, morreu e 2.050 telhas de quatro milímetros ficaram quebradas. “Não tenho nem palavras pra descrever nossa agonia. O tamanho das pedras e a intensidade que caíram é incompreensível”, lamenta Ivone.
O restante dos animais segue ameaçado pelo fato de a “cama” – como é chamada a cobertura de fundo da estrutura – estar encharcada. O granizo danificou ainda a residência, mas foram necessárias apenas seis novas telhas. “O único alento é que tínhamos seguro do aviário.”
Na comunidade de Sete de Setembro, a agricultora Roseli Maria Henz ainda calcula quanto será necessário para reconstruir os telhados da propriedade. Foram quebradas 320 folhas do galpão e outras telhas de barro da casa.
Além disto, as duas estufas de lona – cada uma com mais de 300 metros quadrados – foram destruídas. “Estávamos fora de casa nesse momento, mas quando retornamos vimos tudo destruído e as pedras espalhadas por todo o lugar.”
Maior prejuízo do Vale
De acordo com o coordenador regional da DC, tenente-coronel Vinicius Renner, o município de Sério teve as maiores perdas de todo o Vale do Taquari. Na cidade vizinha, Canudos do Vale, alguns agricultores de Araguari registraram perdas.
Foram quatro propriedades rurais e algumas casas atingidas. Segundo o responsável pela DC no município, Gerson Schaeffer, houve danos em três aviários, dois galpões de suínos e um galinheiro. “Mas todos têm seguro e aguardam a seguradora para reconstruir as estruturas.”
Na área de cobertura da Afubra no Vale, apenas um fumicultor de Sério informou perdas. Os demais sete relatos são de outras regiões, como Santa Cruz do Sul. Mas, de acordo com a Associação, as perdas não devem ser tão significativas pelo fato de as mudas terem sido plantadas recentemente, fato que permite a recuperação.
Como se forma o granizo
As pedras de gelo se formam quando pequenas partículas de água se congelam no interior das nuvens e são levadas para cima das correntes de ar, aumentando de tamanho. Segundo a auxiliar técnica do CIH da Univates, Fabiane Gerhard, isto ocorre por seguidas vezes até que estas partículas atinjam peso suficiente para cair em direção ao solo.
São necessárias, normalmente, quatro etapas para ocorrer granizo. Primeiro, as nuvens pesadas se formam com a união de temperaturas elevadas e um alto índice de umidade relativa do ar. Depois, no interior dessas nuvens, ocorrem intensas correntes de ar – ascendentes e descendentes – nas quais a temperatura cai para abaixo de -80ºC.
Conforme Fabiana, em seguida o vapor da água da atmosfera é empurrado para as regiões mais altas das nuvens e se congela, onde a temperatura é menor ainda. Congelado, o vapor atinge massa maior que a gravidade, que a nuvem não consegue suportar, precipitando em forma de gelo.
Entre o fim de agosto e o início de setembro, ocorre aumento no ingresso de ventos quentes de origem tropical no Estado. Segundo Fabiane, nesta época também há a influência de massas de ar frio, que atingem o Rio Grande do Sul com relativa frequência. “Esse encontro resulta em temporais. A partir de agora, fenômenos como granizo e vendavais vão se tornar mais frequentes.”
