Reconhecimento de um gênio

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Reconhecimento de um gênio

Henrique Uebel era um homem à frente do seu tempo. Nascido no início do século passado, em Westfália, descobriu habilidades de musicista e instrumentista aos 28 anos. Mais de quatro décadas depois de morrer, torna-se Patrimônio Imaterial e terá a obra imortalizada na Alemanha no próximo ano.

Vale do Taquari – Projeto cultural transforma o Museu Henrique Uebel, de Teutônia, no espaço referência à memória da música e do canto germânico do Estado. A proposta de modernização ficou em terceiro lugar entre outras 400 na avaliação da banca do Concurso Pró-Cultura. O primeiro lugar em modernização de museus foi para Bom Retiro do Sul.

O reconhecimento do Homem Orquestra como Patrimônio Imaterial iniciou como lei municipal em Westfália, aprovada na última semana. A lei dará aporte para a aprovação de recursos financeiros direcionados à cultura.

1Passo inicial do turismo na Rota Germânica, o acervo exposto no Centro Administrativo teutoniense é considerado importante para a formação da identidade cultural da região. Os sete instrumentos estão envoltos em uma redoma de vidro, no centro de uma pequena sala.

Precursor da música erudita na região e no Estado, Uebel nasceu em um vilarejo onde hoje é a Linha Schmitd, em Westfália. Era agricultor até que aos 28 anos os médicos desaconselharam o trabalho no campo devido a inflamação pulmonar.

Em repouso no hospital, as ideias do jovem camponês fervilharam. Pensou em montar uma orquestra para sustentar a família, mas isto parecia intangível até que decidiu fazer tudo sozinho. Autodidata, o musicista buscou auxílio com marceneiros para construir os primeiros instrumentos.

Passou a tocar em bailes de família e logo despertou a curiosidade da imprensa central do Estado. Ele adaptou um Ford 1929 para levar os aparelhos. A forma mambembe de viver trouxe fama e despertou o interesse e convite para apresentar a invenção no centro do Brasil.

Mais de 20 anos depois de iniciar na vida artística, Uebel foi a São Paulo para se apresentar em rede nacional na TV Tupi, transmitiu sua música em horário nobre para todo o país no programa inaugural de Lia de Aguiar. A partir daí surgiu o convite para conhecer a Europa, onde ficou por cinco meses.

Chegou a ser assistido por mais de 150 nações, somando 40 milhões de espectadores em transmissão simultânea na rede de TV alemã Koln, no dia 31 de dezembro de 1959. O jornal alemão Die Rheinpfalz, em uma reportagem de 1959, chamou-o de “Orchestermann”.

Henrique Uebel morreu em 8 janeiro de 1973. Deixou um legado histórico e estilístico do repertório erudito e instrumental, atraindo jovens e estudantes da música clássica da cidade e região. Em 2015, o reconhecimento será internacional. Evidenciado na Europa, artistas brasileiros e alemães executarão sua obra em sete cidades da Alemanha.

Caminhos do gênio

Conforme o especialista em Gestão Cultural e Negócios, Eduardo Gomes Müller, o reconhecimento da obra de Henrique Uebel evidencia a origem da identidade cultural da música germânica, “Vivemos num país rico, com inúmeros talentos, mas não há gestão destas potencialidades.”

O Projeto Caminhos do Gênio Alemanha 2015 prevê a imortalidade da obra de Uebel na Europa. Haverá a participação de artistas gaúchos e quatro convidados alemães em uma turnê em sete cidades da Alemanha, a partir de junho de 2015. A proposta do Instituto Henrique Uebel (IHU) é revisitar parte dos passos que fez o Homem Orquestra no ano de 1959.

A ideia é realizar apresentações de música erudita por artistas do Brasil e da Alemanha. A exposição reunirá os registros históricos da passagem do gênio na Europa. O resultado da viagem será um documentário sobre a trajetória desse artista.

Em 23 julho de 1959, o já conhecido musicista desembarcou na França. Fez uma apresentação na TV Baden-Baden, do sul da Alemanha. Depois mostrou seu trabalho na TV Koln, a maior daquele país. Os jornais relatavam seus shows com grande destaque e como sendo o único homem a tocar sete instrumentos ao mesmo tempo.

Documentários sobre ele eram apresentados nos cinemas antes dos filmes, sendo exibidos até nos Estados Unidos. O programa especial de fim de ano gravado em novembro de 1959 acabou exibido e retransmitido por mais 57 emissoras em rede europeia no dia 31 de janeiro de 1960.

No auge de seus shows, teve que retornar ao Brasil, pois sua mulher estava doente. Fazia um frio na Alemanha, fator decisivo para evitar avanço da sua própria doença pulmonar.

O primeiro motor home

Segundo o neto Airton Henrique Uebel, 59, o avô adaptou diversos veículos ao longo da carreira, sendo o precursor a andar em um motor home no Brasil. Airton fundou o Instituto Henrique Uebel que oportuniza o ensino da música erudita para estudantes. Para ele, a música desperta a disciplina e o foco, presentes com veemência nos gênios musicais do passado, a exemplo de Johann Sebastian Bach e Ludwig Van Beethoven.

O presidente do Instituto Henrique Uebel (IHU) não seguiu a carreira do avô músico erudito, engenheiro e projetista. “Era um autodidata que tinha a música na alma. Ele sabia e ponto.” A entidade do neto realiza projetos socioculturais, aproximando estudantes da música erudita, por meio da história do Homem Orquestra.

O projeto que torna o Museu Henrique Uebel referência no Estado prevê a aquisição de computadores, máquinas fotográficas, expositores e a contratação de curador, historiador, museólogo e conservador, totalizando R$ 58,8 mil pagos por Lei de Incentivo à Cultura. A premiação de referência estadual é celebrada pelo secretário de Cultura de Teutônia Ariberto Magedanz. Filho de músicos, afirma com convicção que a inclinação cultural à música e ao canto se deve ao Homem Orquestra.

Tocando com os dedos dos pés

No repertório dos shows, havia um desafio. Quem conseguisse tocar os instrumentos de forma harmoniosa e simultânea, podia levá-los embora. Ninguém conseguiu tal feito. Com os dedos dos pés, Uebel tocava os pinos que davam o som do piano. Também com os dedos, executava o tambor, pratos da bateria e baixo da gaita.

Com o joelho esquerdo, acionava o fole da gaita, e com o direito mudava a tonalidade. Com a mão direita, tocava a melodia do bandônion, com a esquerda, o baixo, e, ao mesmo tempo, executava o trompete usando o polegar direito e o punho. Para a gaita e a flauta, também usava a mão esquerda e, com o nariz e o queixo, trocava a tonalidade das seis gaitas de boca unidas em uma concertina.

A mão esquerda era a mais exigida nos shows. Com ela se tocava ainda o violoncelo que tinha o arco preso à cadeira. Um violino ficava preso ao suporte do trompete, que era executado com o acompanhamento dos instrumentos acionados com os pés.

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