ONG tenta preservar vida animal

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ONG tenta preservar vida animal

Até então pouco vistos pela sociedade, animais silvestres começam a aparecer com maior frequência. Enquanto o abandono de lavouras permite a procriação de espécies raras, a expansão das cidades impacta no habitat selvagem. Mas a busca pelo equilíbrio na convivência, garantindo a preservação, depende do voluntariado.

oktober-2024

Vale do Taquari – Com quase duas décadas de existência, a Rede de Proteção Ambiental e Animal (Repraas) faz um dos principais trabalhos de pesquisa e preservação das espécies no Estado. Nos últimos meses, pesquisadores têm identificado bichos julgados extintos nas florestas do Vale do Taquari, como o puma concolor. Contudo, as ações se tornam paliativas diante da falta de conscientização da comunidade.

3A informação da existência do felino, também apelidado por populares de leão-baio ou suçuarana, chegou à ONG em outubro do ano passado. Bezerros e ovinos foram mortos pelo predador em uma propriedade no interior do município de Sério. O pesquisador Jaime Diehl instalou armadilhas fotográficas em uma área de quase 400 quilômetros quadrados, com o intuito de registrar as primeiras imagens da criatura na região.

O resultado foi aquém do esperado. Após semanas de gravações, os voluntários descobriram uma ossada com estrutura semelhante a do animal. Materiais genéticos foram remetidos à análise laboratorial, que confirmou a suspeita: o puma fora envenenado por um agricultor. “O homem contaminou a carcaça das presas do felino. Como ele sempre volta para se alimentar, acabou morrendo. Foi uma maneira sorrateira”, lamenta Diehl.

Presidente da ONG, Vladimir da Silva, enaltece a importância de levar informação à sociedade para evitar a ocorrência de casos semelhantes. Pensando nisto, a Organização começa uma campanha junto a governos municipais, na qual pretende criar parcerias para promover palestras em escolas e orientar produtores sobre questões ambientais. “Aqueles conceitos ensinados aos jovens precisam ser complementados. O currículo escolar está defasado e queremos ajudar a rever isto”, aponta a bióloga da Repraas, Ana Paula Rolim.

A campanha faz parte do Projeto Guardiões da Fauna. Por meio dele, os voluntários também buscam apoio financeiro para a aquisição de um carro adaptado. O veículo será utilizado para pesquisas, recolhimento de animais atropelados e de vítimas de maus-tratos.

São necessários 29 patrocinadores, que repassem R$ 50 por mês, durante 29 meses. Em contrapartida, os doadores terão o nome ou marca divulgada na imprensa, em eventos e na página virtual da Repraas. Hoje os voluntários dependem de equipamentos e carros próprios, inadequados para uma atividade em meio à vegetação ou o transporte de aninais, por exemplo.

Vítimas de atropelamento

A falta de ações diante do aumento do número de rodovias e estradas é outro fator que preocupa os voluntários. Segundo estimativa, cerca de 450 milhões de animais silvestres morrem atropelados por ano no país, entre capivaras, gatos selvagens, cachorros-do-mato e tamanduás. “É a maior causa de mortandade da fauna”, aponta Diehl.

Na região, há diversos pontos preocupantes, como a Rota do Sol. Nos últimos anos, a Repraas identificou pelo menos três felinos atropelados nas proximidades com o Arroio Boa Vista, entre Estrela e Teutônia, e quase um graxaim por semana. “Parece pouco, mas se olhar a densidade populacional, é um absurdo. O gato-do-mato pequeno, por exemplo, tem um ou dois a cada 15 quilômetros quadrados.”

Um dos animais mortos no trecho, em abril deste ano, foi o gato-do-mato pequeno melânico, considerado raro. Ele foi atropelado pouco tempo depois de Diehl capturar a imagem de um exemplar da espécie na região da Lagoa da Harmonia. “É triste quando isso acontece. Eu chorei. Tento provar que não é o mesmo, que existem outros nesse perímetro.”

Iniciativa da Universidade Federal de Lavras, de Minas Gerais, tem contribuído para identificar e contabilizar os bichos mortos nas estradas. A entidade lançou um aplicativo chamado Urubu Móbile, no qual populares fotografam a carcaça e enviam para um grupo de analistas, do qual Diehl faz parte.

Passagens exclusivas

De acordo com o pesquisador, uma das alternativas seria mapear os pontos de maior mortandade e construir passagens exclusivas aos bichos, os chamados ecodutos. Pelo sistema, é feito um direcionamento da fauna por meio de grades às margens da rodovia até ponto de cruzamento. A questão está em debate com a Empresa Gaúcha de Rodovias (EGR), mas a autarquia alega outras prioridades. “Mas quando um animal morre atropelado, nos telefonam para ir buscá-lo”, critica Silva.

Tal medida está em debate pela Comissão de Estudos para a Preservação do Cinturão Verde, para o Acesso Grasel, em Santa Cruz do Sul. O grupo analisa a construção de pelo menos uma passagem aérea para macacos, nos mesmos moldes dos feitos na RSC-153.

A estrutura consiste em dois cabos de aço com tábuas sobre a rodovia, algo semelhante a uma pinguela. Os estudos começaram em abril, com a elaboração de relatório sobre os pontos de maior passagem dos primatas. A obra pode ser finalizada no primeiro semestre de 2015.

Repressão a crimes

Nos últimos anos a Repraas tem reforçado o combate aos crimes ambientais. Denúncias são encaminhadas em todo o país. Por meio dos voluntários especializados, dossiês com fotos e laudos técnicos são entregues a Polícia Civil e Ministério Público. Devido ao trabalho, recebeu o título de associação de utilidade pública, uma das poucas gaúchas. “Acabamos nos tornando um braço esquerdo do Estado”, cita o presidente ao criticar a pouca ajuda recebida do poder público.

De acordo com da Silva, milhares de reais são gerados por meio de denúncias feitas pela ONG. Como exemplo, cita a assinatura de um TAC entre o MP e um empresário, no qual houve multa de R$ 70 mil. “Infelizmente o promotor dividiu esse dinheiro para diversas entidades, menos para nós. Não queremos todo o valor, apenas o suficiente para conseguir manter os trabalhos. Não há um interesse do MP da região.”

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