Comércio antecipa liquidações de inverno

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Comércio antecipa liquidações de inverno

Parada da Copa, pouco frio e endividamento dos clientes são os principais motivos

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Vale do Taquari – O setor varejista enfrenta cenário inverso ao previsto para esta estação. A pouco menos de dois meses para o fim do inverno, lojas de diferentes segmentos começam a estampar nas vitrinas descontos de até 50%. Fracas vendas das últimas semanas, ligadas a uma série de fatores, forçam empresários a baixar preços para equilibrar as contas.

02Entidades representativas da categoria associam a antecipação das liquidações, sobretudo, a três fatores. O primeiro, o frio tardio e abaixo do previsto, seguido pela parada durante a Copa do Mundo e pelo reduzido poder de compra dos consumidores. Este último, ligado de forma direta ao endividamento das famílias, seja por uso indiscriminado de cartões de crédito ou financiamento de carros e moradias.

As três lojas de artigos esportivos gerenciadas por Aquiles Mallmann, em Estrela, Lajeado e Teutônia, começaram as liquidações há uma semana. De calçados a confecções, todos os itens estão com descontos que variam de 20% a 40%. “As condições do mercado nos forçaram a antecipar a medida. Geralmente baixávamos os preços apenas em agosto.”

Sócio-proprietário de uma loja no centro de Lajeado, Edson Ertel, havia feito uma semana de promoções ainda na primeira quinzena deste mês para comemorar o aniversário da empresa. No dia seguinte ao fim dos descontos, as vendas despencaram. “Tivemos que retomar a liquidação logo depois.” A diferença no preço chega a 50%, dada a saldos de inverno e coleções anteriores de verão.

De acordo com o presidente do Sindilojas no Vale do Taquari, Giraldo Sandri, empresários precisam se ajustar ao mercado e buscar soluções pontuais. “Os dias em que as lojas permaneceram fechadas nos jogos do Brasil vão faltar no fim do mês. Quanto mais ofertas percebermos, maior é o sinal de que algo não está certo.”

Levantamento do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) comprova a análise. Consultas para vendas a prazo, que sinalizam o ritmo de atividade do comércio, caíram 7,56% durante os 30 dias da competição esportiva em relação ao mesmo período do ano passado. “A Copa atraiu investimentos em infraestrutura e turistas de diversas regiões, mas não trouxe resultados positivos nas vendas”, cita o presidente da CNDL, Roque Pellizaro Junior.

De acordo com projeção do Instituto para o Desenvolvimento do Varejo (IDV), o faturamento real deste mês deve fechar em elevação de apenas 1% em comparativo ao mesmo período do ano passado, descontado o percentual de inflação.

Estoques superam vendas

Estudo realizado pela Confederação Nacional do Comércio (CNC), com base em dados do IBGE, aponta descompasso entre os estoques das empresas e as vendas. De janeiro a abril deste ano, houve um aumento de 5% na comercialização de produtos no comércio varejista restrito – no qual não se inclui veículos, frente ao mesmo período do ano passado. Enquanto isso, os estoques cresceram 5,2%.

Conforme a Confederação, os estoques pesam mais no varejo nos segmentos de vestuário, eletrodomésticos e móveis. Nestes três meses, lojas de vestuário registraram queda de 1,2% nas vendas (aumento de 0,4% no estoques); móveis e eletrodomésticos tiveram incremento de 4,4% (estoques, 9,6%).

Consumidor endividado

Pesquisa da Fundação Getúlio Vargas (FGV) aponta que os brasileiros estão cada vez mais endividados. Segundo dados divulgados pela entidade, o percentual de famílias com contas a pagar cresceu de 59,2% em junho do ano passado para 60,7% no mesmo período de 2014.

No que tange à faixa de baixa renda – na qual o saldo familiar chega a R$ 2,1 mil – a fatia de endividados é menor, mas o grupo representa aqueles que mais atrasam as contas. Por trás disso, os pesquisadores elencam a inflação alta, menor avanço da renda, desaceleração no mercado de trabalho e aumento dos juros.

Um dos principais “vilões”, citam especialistas, são os cartões de crédito. Neles, os juros médios atingem 12,5% ao mês e 250% ao ano. Para quem está com contas atrasadas, a principal sugestão é tentar trocar o saldo devedor com alto juros, por taxa menores como o crédito pessoal ou o consignado. Outra sugestão, montar uma planilha para anotar todas as despesas e aposentar o cartão.

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